11-2. atlas

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Acabo lendo um trecho que tenho quase certeza ser sobre o nosso primeiro beijo. Olho o relógio e já faz meia hora que estamos aqui, mas Lily continua dormindo pesado e não posso parar no meio do texto. Continuo lendo, torcendo para que ela durma por tempo o bastante para que eu consiga chegar até o fim.

-Preciso te contar uma coisa - disse ele. Prendi a respiração, sem saber o que ele ia dizer.

- Hoje falei com meu tio. Minha mãe e eu morávamos com ele em Boston. Disse que posso ficar lá depois que ele voltar de uma viagem a trabalho.

Nesse momento eu deveria ter ficado muito feliz por ele. Deveria ter sorrido e dado parabéns. Mas senti toda a minha imaturidade quando fechei os olhos e senti pena de mim mesma.

-Você vai? - perguntei.

Ele deu de ombros.

-Não sei. Eu queria falar com você primeiro.

Ele estava tão perto de mim na cama que dava para sentir o sopro quente de sua respiração.

Também percebi que ele tinha cheiro de menta... Será que escovava os dentes com água de garrafa antes de vir para cá? Sempre dou muita água para ele levar para casa.

Coloquei a mão no travesseiro e comecei a puxar uma pena que estava para fora. Depois de soltá-la, eu a torci entre os dedos.

-Não sei o que dizer, Atlas. Fico feliz por você ter onde ficar. Mas e o colégio?

-Posso terminar o ano lá - disse ele.

Assenti. Pelo visto, ele já tinha se decidido.
- Quando você vai?

-Qual seria a distância de Boston até aqui? Deve ficar a algumas horas, mas é um mundo inteiro de distância para quem não tem carro.

-Ainda não tenho certeza se vou.

Larguei a pena no travesseiro e coloquei a mão do lado do corpo.

-O que está te impedindo? Seu tio está te oferecendo um lugar para ficar. Isso é bom, não é?

Ele comprimiu os lábios e fez que sim. Depois pegou a pena que eu tinha largado e começou a mexê-la entre os dedos. Colocou-a de novo no travesseiro e depois fez algo que eu não esperava: levou os dedos até meus lábios e os tocou.

Meu Deus, Ellen. Achei que ia morrer bem ali. Jamais tinha sentido algo tão intenso dentro de mim. Ele deixou os dedos parados por alguns segundos e disse:

-Obrigado, Lily. Por tudo.

Ele levou os dedos até meu cabelo, depois se inclinou para a frente e deu um beijo em minha testa. Eu estava com a respiração tão acelerada que precisei abrir a boca em busca de mais ar. Percebi que ele arfava tanto quanto eu. Ele olhou para mim, e eu observei seus olhos se voltarem para minha boca.

-Você já foi beijada alguma vez, Lily?

Neguei com a cabeça e ergui o rosto na direção do dele, porque eu precisava que Atlas fizesse algo a respeito dessa situação bem naquele momento, caso contrário eu não conseguiria mais respirar.

-Então - quase como se eu fosse tão delicada quanto uma casca de ovo - ele aproximou a boca da minha e parou bem ali. Eu não sabia o que fazer em seguida, mas não me importei. Eu não ligaria se a gente passasse a noite inteira daquele jeito, sem nunca sequer mover as bocas, de tão bom que era.

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