Branca De Neve... Só Que No Mundo Real

A Família Obscura de Branca de Neve

Meu nome é Bianca Neves, então acho que é meio óbvio de onde surgiu a ideia para a mídia começar a me chamar de "Branca de Neve", e para ajudar, eu realmente tenho a pele alva e os cabelos escuros.
Quer mais provas de que esse é o codinome perfeito para mim? Além de tudo, eu tenho sete irmãos, todos homens, todos mais velhos.
Todos são adotados, assim como eu. Nossos pais adotivos são Quinn e Henry Grinwood, o casal mais rico da Europa, o que nos torna praticamente realeza.

Até onde a mídia sabe, o capital dos meus pais descende de investimentos bem-sucedidos na bolsa de valores, mas eu sei dos segredos obscuros dessa família.

Sei que, por exemplo, meus irmãos não foram adotados por amor. Aliás não acho que a "Rainha do Crime" seja capaz de um sentimento tão inútil como o amor.

Vocês devem estar se perguntando quem é a "Rainha do Crime"... esse é o pseudônimo que a polícia deu para a mulher por trás de praticamente todos os crimes de alto nível da Europa Mediterrânea. Sempre que eles acreditam ter encontrado a mente criminosa por trás de tudo, na hora do interrogatório, o suspeito em custódia enlouquece, só conseguindo balbuciar coisas como "ela vai me matar".

A única pista que a polícia consegue é de que se trata de uma mulher. Mas eu sei exatamente a identidade secreta dela...
Quinn Grinwood, minha mãe.

Eu realmente admiro muito ela. Ser uma figura pública e ainda assim conseguir esconder tantos segredos, ser a pessoa mais procurada pela polícia e ninguém fazer a menor ideia... não deve ser uma tarefa fácil. Ela realmente é um gênio do mal. Só não é uma boa mãe...

Como eu disse, meus irmãos não foram adotados por amor, e sim para se tornarem peões nos esquemas dela.

Quanto a mim, adotada por amor não é bem como eu descreveria, mas ainda assim, acho que sou o fruto da única vez em que Quinn Grinwood sentiu algo parecido com compaixão.

Tudo que eu sei é que Hunter, braço-direito e também amante da minha mãe, surtou durante uma operação na Sicília e uma família inteira de inocentes acabou morta.
A família inteira, menos uma bebê, eu.

Minha mãe nunca me contou a história completa, mas acho que dá pra entender porque Hunter não é o meu cara favorito.

Hoje eu completo 18 anos, idade quando todos os meus irmãos foram enviados em sua primeira missão, mas duvido que minha mãe vai deixar eu participar de alguma operação, em vez disso, ela me manda em um monte desses concursos de beleza. "A mais bela de todas não pode sujar as mãos com esse tipo de negócio" é o que ela sempre diz. Um pensamento um pouco misógino vindo da Rainha do Crime.

Segundo ela, a família Grinwood precisa de uma garota-propaganda que transmita inocência, é uma ótima fachada para esconder nossos verdadeiros negócios. Mas eu sei que ela só não confia que estou pronta. Então eu vou mostrar para ela que sou capaz.

Se ela não quer me mandar em uma de suas missões, eu arranjo a minha própria.

— Doug, que dia vamos receber a mercadoria dos Messinas?

Ele me olha desconfiado. Doug é o mais novo entre nós, sem contar comigo, e meu irmão favorito.

Para o público, ele é o garoto prodígio da família, se formou em bioquímica com apenas 16 anos e se tornou o mais novo engenheiro químico da província.
Mas dentro da família, ele não é tão valorizado assim... Todos os meus irmãos receberam o mesmo treinamento rigoroso de Hunter desde que eram crianças, um treinamento para prepará-los para a ação.
Mas Doug nunca se destacou muito... ele sempre foi o cérebro da família, e nunca os músculos, o que o tornou motivo de chacota entre eles.

— Tá querendo passar por cima das ordens da mãe de novo, Bianca? Quando você vai se tocar que você nunca vai fazer parte dos negócios da família? É muito perigoso pra miss universo! Você pode quebrar uma unha!

Reviro os olhos ao escutar a típica voz de deboche de Zac, o mais babaca entre os meus irmãos.

Me viro e dou de cara com ele apoiado na porta.

— E quando você vai parar de me espionar? Eu não tava falando com você. Tava falando com o Doug.

Ele ri de um jeito sarcástico.

— Nem o Dunga é tão burro a ponto de desrespeitar a mãe só porque a princesinha mimada quer provar alguma coisa.

Sinto o sangue ferver.

— Não me chame de princesa! E não chame ele de Dunga!

Como vocês já sabem, o público me apelidou de Branca de Neve, e alguns dos meus irmãos não saíram impunes.

Doug realmente é um químico muito talentoso, e teria seus talentos muito bem reconhecidos em qualquer outra família... mas não nesta.
Ele podia estar destinado a realizar atos grandiosos, mas nossa família, sendo como é, ao ver a vocação natural de Doug, logo encaminhou o menino prodígio para a produção de drogas ilícitas.
E trabalhar ilegalmente com reações químicas não é lá a profissão mais segura do mundo.
Ele estava lá no dia em que a polícia descobriu um de nossos laboratórios secretos. Nenhuma identidade foi descoberta, ninguém capturado. Mas os equipamentos foram baleados e Doug ficou exposto a compostos químicos que danificaram seu sistema respiratório, e principalmente, suas cordas vocais. E agora ele mal consegue falar sem sentir dor, então muitas vezes acaba se comunicando por linguagem de sinais.

Por ser engenheiro químico também fora do mundo do crime, ninguém desconfiou de nada quando revelamos que ele tinha se acidentado no ambiente de trabalho, mas a mídia, fazendo o que faz de melhor, cruelmente o apelidou de Dunga, o anão mudo da história da Branca de Neve, um apelido que obviamente ele odeia.

Zac sabe disso. Mas é babaca demais para se importar.

"Vai pro inferno, Zac! Sai do meu quarto!" - Doug diz em linguagem de sinais.

Quando finalmente Zac nos deixa em paz, eu suplico:

— Por favor, Doug. Eu tenho que mostrar pra essa família que não sou uma princesinha indefesa.

Doug me olha com compreensão. E reluta um pouco antes de dizer:

"Acho que tenho o trabalho perfeito pra você".