16 | Marina

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Chegamos ao local do show da banda Forfun, e o clima era vibrante. As pessoas conversavam animadamente, o som dos risos e conversas se misturando com a música de fundo. Roberto estava ao meu lado, mas ele parecia deslocado, quase como um peixe fora do aquário. Seu olhar era atento, mas eu conseguia perceber que ele não fazia parte daquele mundo. Enquanto eu e Rosane estávamos empolgadas, rindo e falando sobre as músicas que iriam tocar, ele apenas observava em silêncio.

— Não sabia que você curtia esse tipo de som, Beto — Rosane comentou, passando o braço por cima dos ombros dele com um sorriso brincalhão no rosto.

Ele deu um sorriso contido, aquele típico de quem está tentando se encaixar. Roberto era o tipo de homem que vivia para o trabalho, sempre sério, sempre no controle. Esse ambiente descontraído, cheio de jovens adultos e adolescentes, não era o lugar dele. Mesmo assim, ele estava ali por causa de mim.

— Tô aqui pela companhia das minhas duas garotas — respondeu, com um tom leve, mas havia um toque de malícia em suas palavras.

Eu sorri de canto, sabendo que ele estava falando sério sobre “minhas duas garotas”.

A banda Dibob começou a tocar, abrindo o show. A primeira música fez meus ouvidos vibrarem, e pude ver a expressão de Rosane se iluminar. Dibob sempre foi uma das bandas favoritas dela, e isso me fez sorrir. Meu gosto musical era uma herança dela, algo que compartilhamos desde sempre. Apesar de termos nos afastado depois que ela se casou e veio morar no Rio de Janeiro, nossa conexão sempre esteve ali, através da música, dos filmes, das séries... e até do estilo de roupa.

Eu olhei para minha irmã, observando a forma como ela cantava, animada, como se estivesse se transportando de volta à nossa adolescência. Meus pensamentos me levaram de volta àqueles dias. Eu era tão pequena, devia ter uns quatro anos, mas me lembro de como ela era obcecada por bandas como NX Zero, Fresno, Hateen. Foi através dela que comecei a amar músicas com letras profundas, que falavam de sentimentos intensos, algo que, de certa forma, sempre esteve presente em mim. Até hoje sei cantar todas as músicas dessas bandas. Era como se, mesmo sem saber, ela tivesse moldado uma parte essencial de quem eu sou.

Rosane era a responsável por meu amor por roupas pretas. O estilo dela era sempre algo que eu admirava. Na minha infância, eu a observava com olhos fascinados, tentando imitar cada pequeno detalhe. Eu me pegava pensando nisso enquanto mexia na minha camiseta oversized e ajeitava a saia preta. Mesmo agora, meu estilo carregava traços da influência dela.

— Você tá com essa cara de quem tá viajando em pensamentos... — A voz de Rosane me tirou de meus devaneios, e eu a olhei com um sorriso.

— Só lembrando de umas coisas — respondi, sem querer entrar em muitos detalhes.

Ela deu de ombros, já voltando a se empolgar com a música.

Eu me deixei envolver pela energia do lugar, cantando junto com a multidão, sentindo a adrenalina pulsar no ar. Mas, em meio a toda aquela euforia, não conseguia evitar os olhares furtivos que lançava para Roberto. Ele estava ao meu lado, mas não parecia realmente estar presente. Ele me observava de tempos em tempos, nossos olhares se cruzando por breves momentos, e eu sentia uma tensão invisível entre nós, algo que não deveria estar ali, mas estava. Uma onda de culpa me atingiu de leve, mas logo foi engolida pelo turbilhão de sentimentos que ele despertava em mim.

Nunca imaginei que, além de herdar o gosto musical da minha irmã, eu acabaria gostando do marido dela também. Meu peito apertava ao pensar nisso, mas cada vez que Roberto me olhava daquele jeito, eu sabia que estávamos em um caminho sem volta. E isso me assustava.

Enquanto a música continuava, tentei me concentrar no momento. Cantar as letras que conhecia tão bem me trouxe um pouco de alívio. Era uma tentativa de me desligar da tensão ao meu redor, de deixar a batida da música me guiar. Mas, mesmo no meio daquela multidão, eu sentia Roberto perto demais. A cada segundo, eu me via mais envolvida, mais presa àquele jogo perigoso.

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