Capítulo 2 - A Transformação

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A luz da manhã filtrava-se pelas cortinas da minha sala, mas mesmo os raios dourados não conseguiam dissipar a escuridão que eu sentia por dentro. Eu me sentava na mesma cadeira em que tantas vezes conversei com Dra. Laura, mas hoje havia uma nova determinação em mim. A sensação de impotência que havia me consumido começou a se transformar em algo diferente—uma centelha de raiva. A cada novo dia, a ideia de que eu poderia fazer algo a respeito da injustiça que havia sofrido se tornava mais forte.

Durante as semanas anteriores, eu havia me aprofundado em pesquisas. Eu lia histórias de mulheres que, assim como eu, enfrentaram o horror e não encontraram justiça. Cada relato de impunidade fazia meu sangue ferver. Uma voz dentro de mim sussurrava que eu não poderia ficar parada, que era hora de agir.

“Você está mais quieta do que o normal, Samantha,” Dra. Laura comentou durante nossa sessão. Sua expressão era de preocupação genuína, mas eu não podia mais ficar na defensiva. Eu precisava compartilhar o que estava em minha mente.

“Dra. Laura, eu… eu estou pensando em como posso ajudar outras mulheres. Como posso fazer algo a respeito dos estupradores que continuam a andar livremente,” eu disse, minha voz trêmula, mas firme.

Ela me olhou com um misto de apreensão e curiosidade. “E como você pretende fazer isso?”

A pergunta pairou no ar, e a verdade era que eu não tinha um plano definido, mas a ideia de agir já havia me consumido. “Eu quero investigar. Quero encontrar aqueles que nunca foram punidos. Quero que eles sintam o que eu senti.” A raiva em minhas palavras era palpável, e eu podia ver a Dra. Laura hesitar.

“Cuidado com a linha que você pode cruzar, Samantha. A vingança pode parecer tentadora, mas pode levar a consequências que você não imagina,” ela alertou, sua voz carregada de preocupação.

Mas eu não queria ouvir. A voz da razão soava distante, como um eco que não conseguia penetrar a determinação que agora queimava em meu interior. Eu estava cansada de ser a vítima; era hora de me tornar a heroína da minha própria história.

Depois daquela sessão, saí com um novo senso de propósito. Eu não sabia exatamente como, mas estava decidida a me tornar alguém que poderia fazer a diferença. Comecei a me exercitar, a me alimentar melhor e a me preparar física e mentalmente. A transformação estava apenas começando, mas eu sabia que precisaria de mais do que força física. Precisaria de estratégia.

Nos dias que se seguiram, eu mergulhei em uma nova rotina. Comecei a frequentar aulas de autodefesa e a pesquisar sobre criminologia. O conhecimento era poder, e eu estava determinada a me armar com todos os recursos que pudesse encontrar. Em cada golpe que eu aprendia, em cada técnica de defesa que dominava, sentia que estava recuperando o controle da minha vida.

Foi em uma dessas aulas que conheci **Lucas**, um instrutor de artes marciais que não apenas era forte, mas também tinha um charme inegável. Ele era paciente e encorajador, sempre pronto para ajudar os alunos a se superarem. Eu não podia negar a atração que sentia por ele, mas a ideia de me envolver em um relacionamento era algo que eu não podia considerar. Não agora, não enquanto estivesse tão focada em minha missão.

“Você está indo muito bem, Samantha. Você tem um espírito forte,” Lucas disse um dia, enquanto me observava praticar um movimento. As palavras dele foram como um bálsamo em minha alma machucada. “Mas lembre-se, a força não vem apenas do corpo, mas da mente também.”

Eu olhei nos olhos dele e vi uma compreensão que poucos podiam oferecer. “Eu sei disso. Estou apenas tentando encontrar uma maneira de me sentir forte novamente.”

Com o passar do tempo, minha conexão com Lucas cresceu, mas eu mantive minha distância emocional. Ele era um lembrete do que eu poderia ter, do que eu poderia ser, mas eu não estava pronta para isso. Minha mente estava focada em um único objetivo: justiça.

A cada dia, a ideia de fazer justiça se tornava mais clara. As histórias das mulheres que eu pesquisava se tornaram uma parte de mim, e a raiva que eu sentia por seus agressores se transformou em um combustível poderoso. Eu não estava apenas lutando por mim; estava lutando por todas nós.

Uma noite, enquanto revisava algumas anotações, um pensamento ousado surgiu em minha mente. E se eu pudesse localizá-los? E se eu pudesse confrontá-los? A ideia era arriscada, mas o desejo de fazer algo, de não ser mais uma vítima, era mais forte do que qualquer medo que eu pudesse sentir.

Naquele momento, eu sabia que estava prestes a cruzar uma linha, mas a linha entre justiça e vingança estava se tornando cada vez mais tênue, e eu estava disposta a descobrir até onde essa jornada me levaria.

Um Prato Que Se Come FrioOnde histórias criam vida. Descubra agora