Capitulo 4: Conflitos Internos

4 0 2
                                    

A névoa da noite envolvia a cidade, e o silêncio parecia carregar um peso que eu nunca havia sentido antes. Enquanto Mark permanecia imóvel aos meus pés, a realidade do que eu havia feito começou a se instalar em minha mente. Eu não apenas injetara um sedativo em um homem; eu havia cruzado uma linha que não podia ser desfeita. A adrenalina da ação ainda pulsava em mim, mas havia um eco de dúvida que começava a se formar, sussurrando que eu estava em um caminho perigoso.

Olhei para ele, sua expressão agora serena, quase pacífica, enquanto o sedativo fazia seu trabalho. Mas a verdade era que por trás daquela fachada de tranquilidade, havia um monstro. Um homem que destruiu vidas, e agora, pela primeira vez, ele estava vulnerável. O que eu estava prestes a fazer poderia mudar tudo.

“Você é um covarde,” eu disse, agachando-me ao seu lado. A raiva ainda pulsava em minhas veias, mas agora havia um novo sentimento misturado a ela—uma dúvida inquietante. “Você se escondeu atrás de uma máscara por tempo demais. Agora é hora de você ser honesto.”

Ele não respondeu. Sua imobilidade me desafiava, e eu sabia que precisava encontrar um jeito de fazê-lo falar. Mas, à medida que o silêncio se arrastava, comecei a questionar minha própria sanidade. O que eu estava tentando alcançar? Vingança? Justiça? Ou algo mais sombrio?

Levantei-me e comecei a andar de um lado para o outro, a mente em tumulto. O que eu estava fazendo era arriscado, não apenas para mim, mas para todas as mulheres que eu representava. A linha entre ser uma heroína e me tornar uma vilã estava se tornando perigosamente tênue. E se eu estava apenas perpetuando mais violência?

A lembrança de Dra. Laura voltou à minha mente, suas palavras de cautela ecoando como um mantra. Eu estava prestes a me tornar aquilo que mais temia. A ideia de ser uma vigilante, de ser a justiça, me atraía, mas a realidade de que eu poderia estar apenas alimentando um ciclo de dor e vingança pesava sobre mim.

“Você pode achar que está fazendo a coisa certa, mas e se você estiver apenas se tornando como eles?” a voz interior sussurrou, desafiando minha determinação. Eu precisava de respostas.

Voltei a olhar para Mark, agora à mercê de minha vontade. “Você sabe o que eu sou, certo? Você sabe que eu não sou uma simples garota perdida. Eu sou uma sobrevivente, e estou aqui para fazer você responder por tudo o que fez.”

Ele finalmente abriu os olhos, e um sorriso desprezível se formou em seu rosto, mesmo diante de sua condição. “Você acha que me intimidou? Você não pode me parar. Eu sou apenas um produto do que existe no mundo. E você não pode mudar isso.”

A raiva explodiu dentro de mim novamente. “Você não tem ideia do que eu sou capaz!” Eu me inclinei mais perto, o desejo de fazer justiça agora misturado com a necessidade de controlar a situação. “Você vai me contar tudo. Cada nome, cada detalhe. Ou eu vou garantir que você deseje nunca ter nascido.”

“Você não tem coragem,” ele desafiou, a voz baixa, mas desdenhosa. “Você é só uma garota com uma seringa. Você não sabe o que é verdadeiramente o medo.”

Naquele momento, a dúvida se esvaiu, e uma onda de determinação tomou conta de mim. A verdade era que eu havia passado por tanto, e eu não estava prestes a recuar agora. “Você vai me dizer o que eu quero saber. E se não, bem… podemos ver até onde sua bravata vai quando você estiver realmente em perigo.”

A tensão se acumulava entre nós, e eu sabia que estava prestes a cruzar uma linha que não poderia ser desfeita. Mas naquele instante, eu não ligava. A ideia de ver Mark desconstruído, de ouvir sua confissão, era a única coisa que importava.

Enquanto ele lutava contra a imobilidade, uma ideia começou a se formar em minha mente. Eu poderia explorar a fraqueza dele, a insegurança que existia em cada predador. Eu poderia usar isso contra ele.

“Você tem um nome, não tem? Um nome que ecoa nas mentes de suas vítimas. Um nome que você não pode se livrar, não importa o que faça,” eu disse, a voz carregada de ameaças sutis. “E se eu fizer com que você sinta o que elas sentiram? E se eu fizer você reviver a dor que você causou?”

O olhar de Mark se endureceu, mas eu podia ver a faísca de medo em seus olhos. Ele estava começando a entender que eu não era uma simples garota, e que eu estava disposta a ir até onde fosse necessário para obter as respostas que tanto desejava.

Enquanto o silêncio se instalava novamente, a batalha entre a raiva e a dúvida continuava dentro de mim. Eu sabia que estava em um precipício, mas a determinação de buscar justiça superava o medo do que eu poderia me tornar. E, no fundo, eu percebia que essa transformação era inevitável. Eu não poderia voltar atrás.

Naquela noite, eu estava prestes a descobrir até onde minha busca por justiça me levaria, e eu não estava disposta a parar até que cada uma de suas vítimas tivesse a verdade que merecia.

Um Prato Que Se Come FrioOnde histórias criam vida. Descubra agora