12-1. Lily

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-Não acredito que você me deixou dormir por tanto tempo. -Já se passaram dez minutos e ainda estou com a barriga revirando de tanta vergonha. - Você leu o diário inteiro?

-Parei depois da entrada sobre o nosso primeiro beijo.

-Que bom. Não é tão vergonhoso assim. Porém, se ele tivesse lido sobre a primeira vez que a gente transou enquanto eu estava aqui, dormindo no banco ao seu lado, não sei se conseguiria aguentar.

-Isso é tão injusto murmuro. Você precisa fazer algo vergonhoso para equilibrar a situação, pois agora parece que arruinei completamente a nossa noite.

Atlas ri.

-Acha que eu fazer algo vergonhoso fará você se sentir melhor em relação a esta noite?

Assinto.

-Isso. É a lei do universo. Olho por olho, humilhação por humilhação.

Atlas tamborila no volante com o polegar enquanto massageia o maxilar com a outra mão. Então aponta a cabeça para o celular, que está no porta-copos.

-Abra o aplicativo Notas no meu celular. Leia a primeira. Ah, nossa. Eu estava brincando, mas não perco tempo em pegar o seu celular.

-Qual é a senha?

-Nove, cinco, nove, cinco.

Digito os números e dou uma olhada na tela inicial enquanto ela está aberta. Todos os aplicativos estão dentro de uma pasta, bem organizados. Ele não tem nenhuma mensagem não lida e tem apenas um e-mail não lido.

-Meu Deus! Você é muito organizado! Quem é que tem só um e-mail não lido?

-Não gosto de bagunça - revela. É um efeito colateral da Marinha. Quantos e-mails não lidos você tem?

- Milhares. - Abro o aplicativo Notas e clico na mais recente. Assim que vejo as duas palavras no topo, abaixo o celular, pressionando-o na minha coxa com a tela para baixo. - Atlas.

- Lily.

Sinto minha vergonha ser coberta por uma onda morna de expectativa que cai sobre mim.

-Você me escreveu uma carta do tipo Querida Lily? Ele assente devagar.

-Você passou um bom tempo dormindo.

Quando me olha, seu sorriso vacila, como se ele estivesse preocupado com o que quer que tenha escrito. Ele se vira para a frente de novo, e percebo quando engole em seco. Encosto a cabeça no vidro do passageiro e começo a ler em silêncio.

Querida Lily,

Você vai ficar morta de vergonha quando acordar e perceber que caiu no sono durante nosso primeiro encontro. Estou bem curioso para ver sua reação. Mas você parecia tão cansada quando te busquei que ver você descansando me deixa feliz.

A última semana foi surreal, não é? Lá estava eu, começando a achar que talvez nunca fosse fazer realmente parte da sua vida, e aí, puf, você aparece.

Eu poderia falar muitas e muitas coisas sobre o que aquele nosso encontro na rua significou para mim, mas prometi ao meu terapeuta que iria parar de te dizer cafonices. Não se preocupe, planejo descumprir minha promessa com frequência, mas você perguntou se poderíamos ir devagar, então isso só vai acontecer depois que a gente sair mais algumas vezes.

Em vez disso, estou pensando em seguir o seu exemplo e falar do nosso passado. Acho mais do que justo. Você me deixou ler alguns de seus pensamentos mais íntimos de um momento bem vulnerável da sua vida, então o mínimo que posso fazer é detalhar um pouco a minha própria vida naquela época.

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