Capítulo 2 - Malévola

700 100 178
                                    

POV JULIETTE

Entramos às pressas na sala de cirurgia. Aquela mulher sangrava muito e Sarah tentava localizar o foco do sangramento enquanto falava mil palavrões e xingava uma residente, que, claramente, estava nervosa demais enquanto tentava sugar todo aquele sangue.

Eu não podia tirar os olhos do monitor fetal. Se aquelas curvas se alterassem minimamente, o bebê entraria em sofrimento fetal e eu seria obrigada a retirá-lo. Era cedo demais.

- Droga, mais sucção, Frígida! Eu não estou enxergando! - ela ordenou, enquanto tentava suturar, mas sem sucesso. 

Que nome estranho era aquele que ela havia a chamado? Esse, com certeza, não era o nome da residente dela.

- Ei, quem é a paciente? - perguntei a um residente e ele me olhou receoso.

- De que isso te importa, doutora? - Sarah me perguntou, com uma voz gélida, focada no sangramento.

Olhei o nome no pijama cirúrgico do residente e o encarei.

- Responda, doutor Lucas. Me atualize sobre o prontuário! - insisti.

- C-Clara.

- Calem a porra da boca! - Sarah xingou novamente e ele se calou instantaneamente. - Eu estou focada em manter essa mulher viva, enquanto vocês ficam falando em nome dela. De que isso importa? Se ela não sobreviver, vão levar esse nome no currículo ou na conta da vida de vocês? 

- Doutor, como médica, é o meu dever e o meu direito saber o prontuário completo. Eu estou monitorando esse bebê e quero saber quem é a mãe dele e o que mais eu puder saber! Você vai falar ou vou ter que passar a sua atitude para a chefe? - falei e o senti suspirar.

- Clara Rodrigues. 29 anos. Acidente de carro. Parece que um caminhão desgovernado colidiu contra o carro dela. Houve uma ruptura aórtica. Ela está grávida de 27 semanas. - ele parou e eu o encarei. - O bebê é do sexo masculino. - ele terminou e eu assenti.

Por um momento, percebi Sarah ficar ainda mais rígida e focada, murmurando alguma coisa baixinho e mandando administrarem mais uma bolsa de sangue. Não ia dar. Aquela mulher já havia parado uma vez. A ruptura havia sido muito grande, era praticamente impossível. Cada sutura que Sarah fazia, instantaneamente abria, não aguentando a força do fluxo de sangue. 

Voltei a minha atenção ao monitor quando ele começou a apitar.

- Dra. Sarah, vou assumir! - falei, com uma enfermeira já me preparando.

- Espera, Juliette! Ainda não! - ela disse, quase que em desespero. 

- Doutora Andrade, o bebê entrou em sofrimento fetal, ele não vai aguentar muito tempo, quanto antes tirarmos, mais chances ele tem! - falei.

- SUCÇÃO, MERDA! MAIS SUCÇÃO! - Sarah ordenava e eu peguei o bisturi. - PORRA, FRÍGIDA! EM QUE FACULDADE DE MEDICINA VOCÊ COMPROU O SEU DIPLOMA? - ela disse e eu suspirei, angustiada com a forma que ela falava com aquela residente.

Não era culpa dela. Não era culpa de ninguém. As chances de sobrevivência daquela mulher com aquele tipo de laceração era muito próxima a zero. Comecei a higienizar o local 

- Doutora Freire, não ouse tocar na minha paciente! Eu não te dei permissão! - ela insistiu, enquanto o coração da mulher ficava cada vez mais fraco.

- Eu não preciso da sua permissão.

- DROGA, Juliette! Se você abri-la, vamos perdê-la! Só mais um...

- Ela já perdeu muito sangue! - a interrompi. - Se eu não abri-la, vamos perder os dois. - falei e Clara parou. Pela segunda vez.

- Não, não, não, Clara! Você não vai morrer aqui! - Sarah falava, fazendo massagem cardíaca, e eu comecei a fazer aquele parto.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Sep 18 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Sinal do Coração - SARIETTEOnde histórias criam vida. Descubra agora