Emboscada

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E os lumes fixados se perdiam na imensidão da essência do que estava por trás daqueles olhares. As iris azuis se fundiam dentro dos cernes genuínos. Um silêncio ecoava, porém, as emoções incontidas exalavam sua essência imensamente. Estavam a alguns segundos quase infinitos imóveis no mesmo lugar, incapazes de mudar o rumo dos olhos. Os corações batiam na mesma melodia. O rei estava eternamente submetido aos eflúvios do corpo dele, não havia como retirá-los da sua pele, e agora, diante dele, sentia a pele exalar a súplica saudosa ao tato santo. Deveria disciplinar seus olhos, mas como parar de olhar tal santo? Sua beleza estava intensificada, nunca esqueceu seus traços há dez anos, porém, cada linha continha mais graça e beleza, os cabelos pareciam mais negros, os cílios mais extensos, os lábios mais rubros e os olhos mais genuínos. A rota do tempo cedeu mais formosura à beleza que já existia em sua santidade, uma dádiva dos outonos dos anos, que jaziam sobre suas faces com o mesmo prateado da lua nessa estação. Lembrou-se quando conheceu seu rosto pela primeira vez, e estava tão encantado quanto antes. A batina negra lhe caía bem sobre a pele alva, e o brilho dos olhos peculiares se destacavam nas faces nevadas, tal qual os cílios proeminentes, e os lábios carmesim. Impossível esquecer aquela seriedade serena que aplicava mais jactância a suas faces. Sua presença continuava chamativa apesar de tão amena e tranquila, mas, era exatamente essa calmaria onipotente que instigava os olhos do rei, desde a primeira vez que o conheceu. Sempre se encantou com o ar exuberante e manso que habitava nele. Assim como sua voz. Costumava ser silencioso, mas sempre que pronunciava qualquer palavra, era como ouvir a sinfonia de arpas no céu. O rei estava totalmente atingido, soube que não seria fácil olhar novamente para ele, já esperava por todas essas emoções lhe judiando, mas, não considerou que seria de modo tão imprudente.

Lentamente sua majestade descia as escadas, com a graça em seus passos e a reluzencia em sua beleza translúcida como o raiar de um dia e o final de uma tarde. Padre Jeon nunca conseguiu esquivar seus pensamentos dele e verdade seja dita, não lutou para que isso acontecesse, afinal, como esquecer o inesquecível? Só tentou, em todos esses anos, consolar seu coração, e fazê-lo compreender e aceitar sua realidade, o que não foi tarefa fácil e muito menos agora, diante do ser que desabrochou as raízes mais intensas de uma paixão em seu coração. Seus olhos eram exigentes demais para alguém que precisava de consolo, pois a cada instante desejam vê-lo, e agora, saciando essa vontade, compreende que ela será sempre a mais exigente de todas quando seus olhos não estiverem sobre ele.

Eram tantas emoções que precisavam esconder e principalmente conter, e aquele reencontro os deixava tão vulneráveis e a flor da pele.

O rei descia degrau por degrau, até se aproximar minimamente dele. Jeon sentiu seu corpo entrar em uma ala perigosa, afinal, ele estava bem ali na sua frente, exalando sua essência arrebatadora e seu eflúvio cítrico e adocicado entorpecendo seus santos sentidos. Jimin, por sua vez, sentiu todos os seus poros abertos, pois, ele continuava com seu aroma poético de jasmins. Sua vontade de jogar-se em seus braços era intensa, e a vontade que o padre tinha em tê-lo em seus braços era até mesmo impossível de descrever.

- Santidade, me acompanhe. - Disse Jimin calmamente, embora por dentro a situação fosse distinta.

Jeon, tendo a chance de ouvir aquela voz formosa novamente, sentiu o peito arfar, mas se manteve inalterado por fora, como sua forma de ser, embora por dentro houvesse um oceano de emoções.

Padre Jeon seguiu ao seu lado, ambos atravessando o castelo até alcançar o interior dele.

Atravessavam a passarela cujos pessegueiros adornavam de ambos os lados, passando por sua chuva de pétalas constantes. Andavam lado a lado, em um silêncio absoluto e uma certa tensão pairando sobre os dois, mas esse silêncio profundo, era apenas o resultado do quanto seus sentimentos descontrolados e agitados falavam alto dentro de si, principalmente agora estando lado a lado e tão perto, embora ao mesmo tempo tão longe.

O padre II : A coroa do rei - Jikook - 2ª tempOnde histórias criam vida. Descubra agora