Mercy One Shot • Chaelisa

Mercy

Lisa passou por mim no corredor da empresa, seu perfume tomou conta do espaço em questão de segundos.

Mesmo passando ao meu lado ela não fez questão de me encarar e aquilo fez o meu coração acelerar de uma forma dolorosa, eu tentei manter o olhar baixo mas sem querer encarei seu rosto.

Inexpressivo, sem sinal de alegria, ou de dor, apenas uma expressão vazia e sem preocupação. Por que ela parecia tão bem?, enquanto meu corpo reagia a cada paço de seus pés, ou cada segundo de respiração sua.

Minha mente repetia as mesmas palavras a mais de duas horas, não era justo.

Recuei o paço e ignorei o elevador a minha frente que já tinha voltado para o solo, eu não queria entrar nele, não queria sentir o perfume doce de Lisa novamente. Então eu segui até a escada, ignorando o fato de que eu teria que subir 10 andares.

O cansaço que aquilo me daria não seria páreo para o que meu coração sentia com a mínima presença de Lisa ao meu lado.

Eu estava ofegante quando cheguei na ponta da escada, ajeitei a saia social em meu corpo e abrir a porta sendo tomada pelo barulho de telefones tocando, vozes misturadas e teclados de computador.

Quando cheguei em minha sala corri para o banheiro vendo o estado deplorável da minha pele suada, lavei o rosto por alguns segundos, a água gelada acalmou um pouco minha respiração ainda descompensada.

Depois que me sequei voltei a me sentar de frente para o computador, tentando focar em minhas últimas tarefas do dia.

Eu só queria desaparecer, ir embora e nunca mais voltar, talvez eu faria isso.

Depois de longas horas eu terminei o trabalho, o barulho do lado de fora diminuiu consideravelmente a maioria das pessoas já tinham ido embora. O silêncio acalmou o barulho da minha mente, e eu recolhi as minhas coisas para finalmente sair daquele prédio.

Uma hora de carro depois eu já estava em meu apartamento, sentei em meu sofá ainda de saltos encarando a parede vazia na minha frente.

Lembrando de quando havia quadros e fotos penduradas nela, agora era só um espaço vazio assim como o meu coração depois que Lisa foi embora.

Eu sabia que seria uma noite longa, e dolorosa. Como todos aqueles dias tinham sido.

Não demorei no banho, a água estava boa mas o meu corpo pedia pela cama. Eu tentaria descansar.

Voltei para o sofá olhando algumas mensagens no celular, e meu coração disparou ao ver uma conversa arquivado marcando o número (1) no topo da mensagens.

Lisa: Me desculpe eu não deveria ter ido embora daquele jeito, queria conversar eu poderia ir aí hoje?.

As reações conhecidas voltaram a aparecer, coração disparado, suor na testa mãos trêmulas. Eu não acreditava no que estava lendo, o que ela queria falar comigo?.

Encarei a mensagem lembrando das inúmeras vezes que Lisa a me mandou, era sempre o mesmo roteiro, ela vinha até mim pedia desculpas e dormia em meu braços.

O final eu já sabia e conhecia de cor, mas e se agora fosse diferente?, de qualquer forma eu não conseguia cortar aquele laço que parecia existir entre nós duas.

Uma corda firme amarrada em nós duas, um nó que quanto mais eu puxava mais forte ficava.

Mais uma vez eu deixei a dor de lado e respondi sua mensagem, encarando a tela enquanto roía a unha do meu dedo, se passou 30 minutos até que ela me mandasse um breve "ok".

Me levantei do sofá e olhei em volta, havia louça na mesa e roupas espalhadas pela sala, demorou apenas dez minutos para que eu colocasse tudo em ordem.

Quem dera eu pudesse fazer o mesmo com o meu coração.

Eu esperei por uma hora, duas, três e não tive nem sequer vislumbre da sua presença.

Quando se passou cinco horas eu desisti, deitando em minha cama e sentindo as lágrimas voltarem para o meu rosto.

Realmente dessa vez tinha sido diferente, nas últimas ela fez questão de aparecer.

Estava quase pegando no sono quando ouvi a campainha tocar, me levantei as presas tropeçando nos meus próprios pés.

E abri a porta, vendo uma Lisa sorridente e visivelmente bebada do outro lado.

— O que aconteceu?.

— Posso entrar?. -Lisa não esperou resposta passou pela porta cambaleando e se sentando no sofá desajeitada.

Eu andei até ela ficando parada na sua frente, olhando sua maquiagem borrada, um detalhe me feriu de todas as maneiras possíveis, seu batom espalhado pelos lábios bem desenhados. Respirei fundo.

— Você ficou com alguém?. -A resposta daquela pergunta óbvia iria me deixar sem chão, mas quem me conhece saberia que eu ouviria mesmo assim.

— Isso importa?. -Lisa disse me puxando pela cintura, eu nem conseguia sentir o seu perfume com o cheiro de álcool que vinha dela.

— Você disse que queria conversar comigo. -falei com a voz embargada. — E chega aqui bebada depois de dar pra alguém na balada?.

— Não dei pra ninguém. -Lisa respondeu em tom ofendido. — Foi só um beijo.

— Por que você fez isso?.

— Rosé, eu não tive coragem de vir me desculpa. -Lisa se levantou tentando manter o foco em meus olhos, mas eles pareciam cansados demais para isso.

Ela gastou toda a energia que tinha para conversar comigo em outra coisa.

— Eu estou cansada das duas desculpas Lisa, se você não quer se eu não significo nada. -Dei uma pausa naquelas palavras, parecia que dizer em voz alta as deixavam ainda mais doloridas. — Me deixa ir.

— Eu não quero. -Lisa me puxou pela cintura colocando uma de suas mãos em meu rosto, o acariciando com o polegar. — Eu te amo você não entende?.

— Eu não quero acordar amanhã e ver que você foi embora, ser ignorada no trabalho ou por mensagem isso esmaga o meu peito Lisa.

— Não vamos pensar nisso agora. -Eu senti a respiração de Lisa mais perto encarei seu rosto e seu batom borrado.

E mesmo com tudo isso eu senti vontade de beija-la, de ter ela em meus braços mais uma vez.