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Estou enlouquecendo, porra, preciso tirar essa mulher da cabeça antes que ela acabe com o restinho de sanidade que ainda me resta. Penso me revirando na cama. Seu cheiro está em minha pele, e impregnado em seu cobertor, maldita hora que voltei para casa, maldita hora em que conheci essa mulher que está acabando comigo sem nem mesmo perceber, maldita Lolla.

Sou distraído dos meus pensamentos assim que escuto um barulho vindo do andar de baixo de sua casa, então me levanto e sigo para a sua janela, que fica em frente a janela do meu quarto, mas antes de sair dou uma olhada geral em seus aposentos conferindo se não esqueci nada, então eu saio, lembrando de não trancar, pulo de sua varanda para um dos galhos grossos da árvore de seu quintal e desço seguindo para minha casa. Quando entro em meu quarto, tento não ficar encarando minha janela e dar-lhe um pouco de privacidade, mas não resisto a olhá-la uma última vez antes de escutar batidas em minha porta.

Kas? Você está aí? - Escuto a voz da minha irmã do outro lado, e sorrio, Bela é tudo para mim, e foi por ela que retornei, depois que meu pai faleceu alguns meses atrás, ela e minha mãe ficaram mal, e tenho certeza que foi a melhor escolha que eu fiz. - Preciso falar com você!

Pode entrar meu amor, estou aqui! - vejo suas mãos gorduchas empurrarem a maçaneta, então ela vem para meu colo como se ainda fosse um bebê. - Me diga, o que houve?

Bela então começa a me contar tudo o que fez durante o dia, de manhã na Pré escola, as brincadeiras que fez com suas amiguinhas e eu ouço tudo atentamente, escuto então ela me contando o que fez no período da tarde com sua Babá, mas não presto muita atenção pois assim que Bela cita o nome de Lolla, começo a encarar a sua janela, que agora se encontra fechada, fico imaginando o que ela deve estar fazendo nesse momento, será que está no banho? ou já está dormindo?

Você tá me ouvindo Kas? - Bela questiona, me investigando, óbvio que eu não estava escutando uma palavra.

Claro meu amor, me diga o que mais você e a Lolla fizeram durante a tarde?

Fizemos desenhos, e ela disse que vai me ensinar a cuidar do jardim do papai - diz agora um pouco abatida ao lembrar-se do velho Jhon, provavelmente sentindo sua falta, eu também sinto, mas consigo lidar com esse sentimento melhor do que Bela e mamãe.

Que ótima notícia então, logo o quintal vai estar cheio de rosas novamente, hm? - digo tentando animá-la um pouco.

Sim, Dolores me contou que rosas são suas flores favoritas, principalmente as vermelhas pois elas representam o amor. - enquanto minha irmã me conta um pouco sobre os gostos de Lolla, já começo a maquinar formas de conquistá-la. - Ela me disse que nunca ganhou flores, mas que é algo bem romântico!

Realmente pequena Bela, ganhar flores é um sinal de amor. - Finalizo já com um plano em mente - Mas, sabe o que é um sinal de amor também? Banho! É uma ótima demonstração de amor ao próximo sua sujinha, vem vamos para o chuveiro, que irei preparar um jantar delicioso pra gente, o que acha? - Digo me levantando e seguindo até seu quarto para que possamos escolher um pijama bonito e fresquinho para esse início de noite mais fresco.

Só, se você fizer macarrão! - diz animada, se infiltrando dentro do guarda roupas e pegando um conjunto cor de abóbora, sua toalha de banho e seguindo em direção ao chuveiro. A ajudo com o banho e logo já estamos na cozinha preparando uma massa com molho pesto, que minha irmã adora. - sabia, que a Dolores também adora macarrão? Ela me disse que na casa dela ela mesmo faz o macarrão, não compra no mercado igual você!

Ah, é? O que mais a sua incrível babá faz melhor que eu? - Pergunto curioso e divertido com o assunto, é tão bom saber um pouco mais de Lolla sem nem mesmo ter que perguntar.

Várias coisas Kas, ela pintou minha unha de rosa, e desembaraçou meu cabelo, sem doer, não como a mamãe faz. - diz como se essas habilidades fossem as melhores do mundo, e eu acho fascinante - Ela também está me ajudando a escrever o meu diário, ela tem um também, e me disse que é muito bom poder colocar no papel o que você não quer contar pra ninguém, no meu diário só tem desenhos, e eu quero aprender a escrever logo para poder contar tudinho para o diário.

Você pode contar pra mim Bela, sempre pode contar comigo, para qualquer coisa - digo parando de cortar os temperos e encarando minha irmã, sei que está difícil para ela enfrentar a perda do pai e de certa forma da nossa mãe também, já que agora ela só vive para o trabalho e parece esquecer que tem mais gente na família e que ainda estamos vivos, engulo o sentimento de raiva e foco em minha linda Bela, sentada no balcão a minha frente - sabia que quando eu tinha a sua idade, eu tinha o sonho de ter um irmão mais velho para poder brincar, e dividir meus segredos? Infelizmente não tive meu amor, mas estou aqui sempre que precisar. Bela assente, mas não me responde, então volto a finalizar os preparos do nosso jantar.

Comemos em silêncio, e depois enquanto arrumo a cozinha minha irmã sobe para escovar os dentes e arrumar a cama, quando chego em seu quarto, a encontro deitada com um livro em mãos já parecendo um pouco sonolenta, ela me entrega um exemplar de Aladim e antes mesmo que eu consiga chegar na metade da história vejo que já está dormindo. Dou-lhe um beijo na testa, ajeito o travesseiro e deixo apenas a pequena luz do abajur acesa.

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