Capítulo 01: A Carta

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     Eu sempre achei que minha vida seria simples. Sem grandes reviravoltas, sem surpresas. Apenas uma sequência interminável de dias iguais, onde eu acordaria, iria para a escola, depois para o trabalho, e voltaria para casa para assistir a alguma série com minha mãe. Era isso. Nada mais, nada menos.

    Mas tudo mudou no dia em que a carta chegou.

   Era uma manhã de terça-feira, como qualquer outra. O sol ainda não havia surgido no horizonte, e o ar estava frio, como costuma ser nos fins de inverno. Acordei com o som do meu despertador insistente, e por um breve momento, pensei em ignorá-lo. Mas me arrastei para fora da cama e segui o ritual de sempre: uniforme escolar, mochila jogada no canto, café da manhã rápido.

   O que não era comum, no entanto, era a carta.

   Estava lá, do lado de fora da porta, como se tivesse sido deixada por alguém que não queria ser visto. O envelope era grosso, de um papel caro e com um selo que eu nunca tinha visto antes – um brasão dourado, com símbolos intricados que pareciam ter saído de outra era. Eu franzi a testa, confusa. Quem ainda envia cartas hoje em dia? Peguei o envelope com uma sensação estranha, um misto de curiosidade e apreensão, e entrei de volta em casa.

   Minha mãe estava na cozinha, terminando de preparar o café, mas assim que viu o envelope em minhas mãos, ela parou. Foi como se o tempo tivesse congelado. Seus olhos se arregalaram de uma forma que eu nunca tinha visto antes, e seu rosto empalideceu.

   "Deixa eu ver isso", ela disse, a voz tensa.

   Eu entreguei a carta, ainda sem entender o que estava acontecendo. Ela segurou o envelope como se fosse feito de vidro, algo frágil e perigoso ao mesmo tempo. O silêncio na cozinha era quase palpável enquanto ela o abria lentamente. O papel deslizava para fora com um leve farfalhar, e então ela começou a ler. Seus olhos corriam pela página, e com cada linha, sua expressão ficava mais e mais séria.

   "Você precisa sentar", ela disse, sua voz quase um sussurro. E foi aí que eu soube que minha vida nunca mais seria a mesma.

   Sentei-me à mesa, sem saber o que esperar. Ela colocou a carta na minha frente e empurrou-a em minha direção, ainda sem falar. Peguei o papel, tentando ignorar a sensação de que o mundo estava girando sob meus pés. As primeiras palavras eram simples, diretas:

   "Cara Srta. [meu nome], é com grande urgência que informamos que você é a última herdeira legítima da Casa de Valmont, uma linhagem real há muito exilada. Chegou a hora de você reclamar o que é seu por direito."

   Eu pisquei. Li de novo. E de novo.

   Realeza? Linhagem? Exílio? Nada daquilo fazia sentido. Era como se eu estivesse lendo o enredo de um livro de fantasia, não algo que pudesse ter qualquer relação com a minha vida. Mas então eu olhei para minha mãe, esperando que ela risse e dissesse que era tudo um engano, uma piada bizarra.

   Ela não riu. Em vez disso, suspirou profundamente, como se estivesse carregando um peso por muito tempo.

   "Eu sabia que esse dia chegaria", ela disse, finalmente. "Eu só não sabia que seria tão cedo."

   As palavras saíram dela como uma confissão, e naquele momento, percebi que tudo o que eu pensava saber sobre minha vida era uma mentira. Minha mãe sabia. Sabia desde o começo, e nunca me contou.

   Eu me afundei na cadeira, as mãos tremendo levemente enquanto segurava a carta. As palavras dançavam em minha mente, confusas e nebulosas. Era impossível. Eu, uma garota comum de um bairro comum, era herdeira de uma realeza perdida?

   "Eu ia te contar", minha mãe começou, a voz suave e cheia de arrependimento. "Mas eu queria te proteger. Queria que você tivesse uma vida normal pelo maior tempo possível."

   Normal. Que piada.

   Olhei para o papel na minha mão mais uma vez. Era oficial, carimbado, selado com o brasão de uma casa nobre que eu nunca tinha ouvido falar. E, de repente, tudo começou a desmoronar – a vida comum que eu achava que conhecia, o futuro que eu acreditava ser meu. Nada mais seria como antes.

   Naquele instante, a carta já não era só um pedaço de papel. Era uma porta para um mundo completamente novo. E eu não sabia se estava pronta para atravessá-la.

   Mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim – uma parte que eu nunca soube que existia – começou a despertar. Uma parte que queria saber mais. Queria entender o que isso significava. E, de alguma forma, queria ver até onde essa jornada me levaria.

   O que quer que estivesse esperando por mim além dessa carta, eu sabia de uma coisa: eu não poderia mais voltar atrás.

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⏰ Última atualização: Sep 19 ⏰

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