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CHRISTOPHER LUÍS VON UCKERMANN

Dias atuais

Passo pela porta que Dulce segura aberta e analiso pela primeira vez o apartamento que moro há anos.

A cada constatação que faço, acho a situação mais fodida.

Como é possível que dez anos da minha vida tenham se perdido? Para onde foi tudo o que eu vivi? Minhas memórias? Minhas experiências? Ela?

Como eu me esqueci de Dulce?

Respiro fundo, mantendo minha confusão para mim mesmo enquanto olho para o sofá cinza, tapete escuro, e a pouca decoração sobre os móveis.

Nem um pouco parecido com a casa onde morava com meus pais, mas acho que uma década é o suficiente pra que eu tenha criado meus próprios gostos.

– O que é essa porta? – pergunto e a observo girar a maçaneta e empurrá-la aberta revelando uma sala parecida com a minha.

– Meu apartamento, e não, não tem chave – avisa, me olhando de uma forma desafiadora, como se quisesse que eu debata essa afirmação.

– Teoricamente, então, nós moramos juntos?

– Desde quando nos conhecemos.

– Você está incomodada. – constato e ela bufa um riso fraco.

– É, Luís, eu estou incomodada. Eu odeio que não se lembre de mim. Odeio que olhe para os lados como se estivesse julgando as coisas, como se tivesse nos julgando.

– Não estou julgando nada. Só... O que nós somos?

Centenas de emoções passam por seus olhos escuros e eu entendo que pra ela nós somos tudo.

E acho que pra mim também.

Ninguém sente tanta necessidade de tocar um desconhecido como eu senti ao abraça-la no vestiário, então talvez meu inconsciente a reconheça.

Segurei-a apertado e respirei o cheiro de seu cabelo, buscando por alguma ponta de familiaridade com seu cheiro ou com o encaixe que havia entre nossos corpos.

Não me lembrei de nada, mas soube ao sentir Dulce contra mim que Carl não estava exagerando quando nos definiu como assustadoramente intensos.

– Nós somos Dulce Maria Saviñon e Christopher Luís Von Uckermann, lendários, letais. Somos dois dos melhores agentes da Companhia. Respeitados, admirados...– Encolhe os ombros. – Mas nós também somos Maria e Luís, quando estamos sozinhos, e eu não sei definir essa relação.

– Vai me contar sobre nós dois? Nossa história?

– Hoje não. Você precisa descansar e eu... eu preciso entender o que está acontecendo.

Descansar. Dormir...

Porra.

Limpo a garganta, me lembrando de um detalhe importante.

– Eu tenho tido...pesadelos. – Dulce pisca, sem entender. – Terror noturno – explico e vejo seu queixo tremer enquanto ela me encara atônica. – Provavelmente por conta da explosão. Estou te contando pra você não estranhar, caso ouça alguma coisa de noite. É... normal.

Sua boca se abre, mas ela não diz nada, então volta a fechá-la, antes de dar um passo pra trás. Seguido de mais um. E mais um.

Ela parece horrorizada.

AmnésiaOnde histórias criam vida. Descubra agora