Enquanto eu subia as escadas da mansão, ouvi o som suave dos passos deles ecoando pelo corredor. É claro que eles não iam ficar sentados para sempre, não depois da minha cutucada. Damian, por mais teimoso que fosse, não podia ignorar os sentimentos que estavam tão evidentes quanto a luz da lua lá fora. E Astrid... bem, ela já estava muito à frente nesse jogo. Sabia o que queria, só estava esperando que ele percebesse isso também.
Sorri comigo mesmo. Não tinha como negar: por mais complexo que fosse, ajudar meus irmãos – biológicos ou não – a navegar por essas águas de emoções sempre me dava uma sensação boa. Porque, no fundo, eu sabia o quanto cada um deles merecia ser feliz, especialmente Damian, que carregava uma carga tão pesada.
Cheguei ao meu quarto e me joguei na cama, sem tirar os sapatos. Fechei os olhos, mas fiquei ouvindo os sons da casa, os ecos, os pequenos ruídos de vidas se cruzando. Imaginei o que Jason diria se soubesse que eu estava filosofando sobre sentimentos à essa hora. Ele provavelmente riria e me chamaria de sentimental, mas tudo bem. Cada um de nós tinha seu papel, e o meu era esse: ser o equilíbrio, o ponto de reflexão.
O som de passos no corredor me tirou dos devaneios. Levantei a cabeça para escutar melhor. Sabe, depois de anos com Bruce, você acaba desenvolvendo um certo talento para saber quem está andando pela casa só pelo som dos pés no assoalho. E aqueles eram os passos de Damian e Astrid, como eu esperava.
Levantei-me e me aproximei da janela, olhando para o jardim lá embaixo. Minutos depois, vi as silhuetas deles surgirem na área aberta, caminhando em silêncio. Eles não trocavam muitas palavras, e isso era tão típico de Damian que quase me fez rir. Era como se ele pensasse que, se não falasse muito, ninguém perceberia o que estava sentindo. Mas, ao mesmo tempo, o simples fato de que eles estavam juntos ali, sozinhos, dizia muito mais do que palavras poderiam dizer.
Jason tinha entrado com o jeito provocador dele, eu tinha feito minha parte com o toque mais... estratégico, e agora só restava a eles dois. Era o tipo de coisa que ninguém podia forçar.
Visão de Damian
— Ele fala demais — murmurei, olhando para o caminho à frente. Sabia que Astrid tinha ouvido.
— Talvez ele só esteja tentando te ajudar — ela respondeu, sem olhar diretamente para mim. Havia algo na voz dela, um tom suave, mas firme, que me fazia hesitar em contestar. Astrid sempre teve esse efeito sobre mim, embora eu odiasse admitir.
Continuamos andando em silêncio por mais alguns metros, o som dos nossos passos no cascalho ecoando no ar fresco da noite. Eu sabia que ela estava esperando que eu dissesse algo mais, algo significativo. Mas... o que exatamente eu poderia dizer?
O problema nunca foi não sentir nada por ela. O problema sempre foi admitir que sentia. A fraqueza era algo que Ra’s al Ghul e meu pai, Bruce, me ensinaram a evitar a todo custo. E sentimentos, especialmente por alguém próximo, eram vistos como uma distração perigosa.
Mas Astrid não era uma distração. Ela era... algo que eu não sabia nomear. Isso me irritava, essa incerteza, essa vulnerabilidade que ela parecia despertar em mim.
— Você sempre foi assim, Damian? — Ela perguntou, interrompendo meus pensamentos.
— Assim como?
Ela sorriu, mas era um sorriso sutil, o tipo que ela usava quando estava prestes a me fazer uma pergunta difícil.
— Tão resistente a... tudo que sente. Como se você tivesse medo de se deixar levar.
Eu parei de andar por um segundo, o suficiente para que ela notasse e parasse também. Astrid se virou para mim, os olhos dela brilhando sob a luz da lua.
— Eu não sou como os outros, Astrid — respondi, tentando manter minha voz firme. — O que eu sinto, o que eu faço... sempre tem consequências.
Ela deu um passo em minha direção, os olhos dela fixos nos meus. Não havia julgamento ali, apenas... compreensão.
— E acha que o que sente por mim teria consequências ruins? — Ela perguntou, direta como sempre.
Aquelas palavras pairaram no ar entre nós, e eu senti meu coração acelerar. Claro, eu já tinha pensado nisso antes. Mas ouvir aquilo em voz alta, naquele momento, fazia tudo parecer mais real. Mais inevitável.
— Não se trata de ser ruim ou bom — eu disse, quase sem pensar. — Se trata de controle. E eu não posso perder o controle.
Astrid cruzou os braços, observando-me com um misto de paciência e frustração.
— Eu entendo, Damian. Você foi treinado para ser assim. Para controlar tudo, até os seus sentimentos. Mas... você nunca vai conseguir controlar o que sente por completo. E talvez... só talvez... não precise controlar isso quando está comigo.
As palavras dela ficaram gravadas em mim, e naquele momento, algo dentro de mim mudou. Não era algo que eu poderia nomear, nem algo que eu admitiria tão cedo. Mas lá estava. O começo de algo que, talvez, pudesse me levar além de tudo que eu fui treinado para ser.
Eu apenas assenti, incapaz de formar uma resposta adequada. E ela sorriu, aquele sorriso leve e compreensivo, como se já soubesse o que eu estava pensando.
Continuamos andando em silêncio, mas dessa vez, não havia mais tensão. Havia apenas a certeza de que, de alguma forma, estávamos nos movendo na direção certa.
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A Guarda de Damian Wayne
FanficQuando a detetive Astrid Drake é contratada por Bruce Wayne para proteger seu filho, Damian, ela não sabe que está entrando em um mundo de segredos e perigos. Mantendo as aparências como herdeiro de um império bilionário, Damian tem muito mais a esc...