Corpo!
Presente!
Quem respondeu?
Há de ser o espírito do morto, imagino...
Isso não existe! É coisa de algum pervertido, amigo dele, isso, sim! Um lunático debochado. Presunçosos e charlatões estão por toda parte.
Sim. Estamos.
Estão! Agora, sem omissões, confesse: há muitos boatos correndo pela cidade, crescendo de língua em língua. Quanto há de verdade em tudo isso?
Desta vez os boatos são inconclusivos. Eu diria melhor: insuficientes. Ele foi vítima de overdose.
Então talvez ainda esteja alucinando e o "presente" pronunciado há pouco, seja um efeito tardio. O cérebro humano é misterioso o bastante para tornar isso possível. Muitos defuntos roncam, alguns arrotam, outros liberam gases fétidos o bastante para lacrar a caixa... Já falei sobre isso noutras circunstâncias.
Dindin não usava drogas. Estou falando de uma overdose de sexo, uma orgia macabra, violência extrema.
Ele continuou com os encontros mesmo após ser emasculado por Gilda?
Grande Gilda! Mas, e daí? O pênis é a essência de sua vida sexual? Estamos diante de um corpo dedicado ao sexo desde o vigor de sua juventude até sua morte. Um corpo que a muitos amou e a muitos sustentou.
Meus desejos sexuais não dependem de meu órgão sexual, mas não costumo dispensá-lo, e meus parceiros nunca o dispensam. Você, Gilda, Flora, Percival, Alina... se honestos, não dirão o contrário. Aliás, quem o desmerecer, nunca mais o terá.
Está em busca de um recorte para lançar um novo bordão, um dizquemedisse. Pois bem: não terá! Mas você falou Flora? Flora não é o nome de sua píton!
Está ouvindo demais. Eu não citei Flora. Pretende me acusar de zoofilia?
Sim, eu ouvi: Flora! E você está explorando, sexualmente, sua cobra de estimação? Irei denunciá-la por isso, é meu dever.
Não ouse! Ou se tornará um nome de interesse para a polícia. Veja! Temos aqui um cadáver libidinoso e sem pau. E eu estou ansiosa para obter mais informações sobre o caso, pretendo vendê-las. Algum dia Dindin foi hétero? Dindin teve uma esposa a quem amou com fidelidade?
Suas perguntas me parecem absurdas. Seria preciso acrescentar letras ao alfabeto para definir a sexualidade voluptuosa de meu saudoso provedor.
Ora! Ora! Ora!...
O que há? Alguma lembrança útil?
Sim, útil e prezerosa. Estou pensando: Com certeza doarão a coleção de seus brinquedinhos adultos. Há de ter deixado muitos. Algemas, correntes, vibradores?... Eu adoraria ficar com os vibradores. Imagine a energia erótica, lasciva, libertina, lúbrica, inflamável, vulcânica neles canalizadas...
Suas ilusões são degradantes! Melhor não falar sobre isso por aí. Dindin detestava vibradores, usufruía de outras opções e era bem criativo. Além disso a polícia levará tudo. Foram duas mortes! Isso não é comum por aqui.
Certo! Vamos respeitar a memória de São Dindin. Mas, afinal, qual a causa da morte?
Muitos: esganadura, embolia pulmonar, porradas - todas imploradas por ele. Havia hematomas, coágulos de diversos tamanhos por todo o corpo E encontraram grande quantidade de esperma em seus pulmões, quantidade suficiente para matar uma baleia. Seu sistema respiratório estava todo fodido: sangue, porra, cocaína, o Diabo a mil! E tem mais: um de seus tímpanos foi esfacelado; sua língua, perfurada dezenas de vezes por uma agulha de seringa. O legista detectou lidocaína injetável no órgão.
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A Última Orgia do Sr. Dindin
Short StoryA Última Orgia do Sr. Dindin é um relato tragicômico sobre o qual eu não pretendo antecipar informações; não há como fazê-lo com linguagem contida. Adianto, porém, que é se trata de um relato violento e desgraçadamente pervertido.