A garota do bar...

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Gosto da lua nova, ela expressa uma atmosfera faceira de mistério e luxúria, sabe? A última vez que vi assim foi há três meses. Nossa, que saudade! Foi uma noite intensa, repleta de prazeres e quebras de tabu. Chega mais, vou te contar, mas fica só entre nós, a Lu não pode saber, tá bom?

Eu tinha brigado com a Luiza e fui afogar as mágoas num barzinho no centro da cidade. Quando saí de casa a temperatura estava amena, mas com previsão de queda brusca, coloquei então um casaquinho e me mandei; observando o céu feito pateta, como sempre faço quando estou chorando, e foi aí que vi a lua, parecendo um risco cinzento, oculta, misteriosa, parecia um presságio de algo surreal.

Assim que entrei no bar, pensei que teria de beber de pé, pois, não havia lugar vago, até as banquetas ao lado do balcão estavam ocupadas; todas elas.

Aproximei-me do balcão e sorri para o barman, tentando disfarçar os olhos vermelhos e recém enxugados, não que ele tenha algo a ver com isso, mas ninguém chega no bar pra beber se debulhando em lágrimas, não é? Isso vem depois; eu acho. Fiz um pedido clássico, Martini sem gelo. Ele decorou uma taça com uma azeitona espetada num palito e uma guarda-chuvinha bicolor. Não consegui conter e soltei um risinho bobo, daqueles que emitem um som de ar escapando pelo canto da boca.

O primeiro gole desceu com sabor de angústia, o segundo de tristeza, já o terceiro foi uma mistura de ódio com desprezo. Nunca brigamos por besteira, mas Luiza começou a implicar porque mantenho amizade com uma ex, e isso não é um problema, não ameaça nossa relação, na verdade, não existe motivo algum para esse ciúme doentio, já que Bruna e eu terminamos há mais de uma década e nunca mais rolou nada. Mas só de saber que ficamos por alguns meses, ela pira, entra em choque e explode toda vez que vê uma mensagem dela na minha tela. Porra, só falamos sobre cachorros e medicamentos para os pets, não acredito que uma transa surja de um papo assim, se é isso o que ela pensa.

— Noite ruim?

A garota que me perguntou, estava ao meu lado, sentada numa banqueta, com os braços flexionados em paralelo sobre o balcão. Ela tinha um sorriso bonito, discreto, mas simultaneamente provocante, daqueles que a gente só vê no cinema. Eu balancei a cabeça para confirmar, e ela sorriu, manteve o assento para mais perto de mim e levantou-se me oferecendo o lugar. Agradeci a gentileza e me sintei. Ela debruçou no balcão e pediu mais uma dose de bombeirinho, dessa vez, eu que sorri.

A mina usava uma camiseta dos Ramones, calças jeans justas e com rasgos nos joelhos, all starzinho de botinha, correntinha na cintura, cabelo repicado, preto com luzes azuis e vermelhas, a típica punkzinha de butique, saca? Apesar de todo o estereótipo expresso, ela tinha algo de diferente, um olhar atravessado, meio hipnótico, um piscar de olhos lento e sensual, e o modo como ela movia as mãos delicadas, com unhas curtinhas e bem cuidadas, nossa, me faz imaginar muitas coisas.

— E você? — quis saber, só para prolongar o papo. Acho que qualquer bebida desce melhor quando conversamos com alguém.

— Festa de despedida.

Ela respondeu sorrindo e ergueu o copo, como se fizesse um brinde, e eu a acompanhei. Ela colocou o recipiente sobre o balcão e o empurrou para longe com dois dedos esticados. Acompanhei todo o movimento, observei-a deslizar as falanges sobre o balcão e puxar a mão para perto de si com suavidade e leveza, como se procurasse algo sobre a madeira, uma ranhura, uma partícula de pó, qualquer coisa.

— Despedida de quê?

— Vou embora do país, arrumei emprego na Nova Zelândia.

— Ual! Longe. E vai fazer o que lá?

Eu perguntei meio despretensiosa, queria ouvi-la falar para que suas palavras empurrassem o álcool que eu consumia goela abaixo, no entanto, ela suspirou e virou-se de costas para o balcão, apoiou os cotovelos e curvou levemente o corpo, eu vi surgir entre a barra da camiseta e o cós das calças, a barriga dela, linda, lisinha, aparência sedosa, bem cuidada. A camiseta subiu um pouco e vi um piercing adornando o umbigo, era simples, de aço cirúrgico sem pedras, típico adorno de roqueira, porém, aquilo mexeu comigo. No mesmo instante fechei as pernas após sentir uma fisgada, eu me percebi excitada só de olhar para ela. Achei que o álcool estava me deixando fora da linha, mas quando ela abriu a boca e com a voz tímida, com um grave gostoso, começou a falar, percebi que não era a bebida, era a gata mesmo.

A garota do barOnde histórias criam vida. Descubra agora