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Pov' João

Desço do carro nervoso, passo as mãos na calça inúmeras vezes antes de apertar a campainha, acho que posso morrer de ansiedade. A porta se abre e Marcos aparece, ele olha para mim com olhar de julgamento e franze a testa.

-João? Você por aqui? -Ele fala abrindo mais a porta.

-Oi Marcos, o vô está? -Vou direto ao ponto e ele arregala os olhos.

-Claro que está, é a casa dele. Entra. -Ele diz grosseiramente, se Giovana estivesse aqui teria socado ele. Entro e vou até a sala que está com a TV ligada e meu avô assistindo qualquer coisa.

-Oi vô! -Digo indo em sua frente o abraçando, ele dá batidinhas em minhas costas e ri. -Quanto tempo.

-Claro né, ninguém nos visita desde quando a vovó morreu. Marcos se intromete e eu dirijo meu olhar para ele.

-Talvez seja pelo tratamento daqui, somos tratados que nem cavalos. -Falo para ele que arregala os olhos novamente.

-Como vai sua vida de Barbie, filho? -Meu avô me pergunta e Marcos ri, ele nunca se orgulha de mim.

-Vô, já te disse que não é assim. -Me sento ao seu lado e ele desliga o jornal. - Eu não vim aqui para isso, na verdade tenho que te contar uma coisa.

-O que João? Vai largar essa vida de cantorsinho? -Ele diz sarcástico.

-Nunca espere por isso vó. -Falo já com um nó na garganta, no fundo sempre machuca bastante as coisas que ele diz.

- Para de enrolação, diz logo. -Ele grita e eu respiro fundo. Marcos se senta no sofá ao lado. Não sei muito como falar, então só solto:

-Vô, eu sou BI. -Digo e ouço Marcos rir, já Sandro franze a testa sem entender.

-O que é isso? -Ele pergunta baixo.

-Ele é viado vô. Gosta de homem. -Marcos grita se levantando.

-Não, eu gosto de meninas, mas também gosto de meninos. -Falo e Marcos revira os olhos, posso ver meu vô começando a ficar vermelho.

-Você tá de brincadeira comigo né? Seus pais não foram capazes de te fazer direito mesmo. -Ele fala gritando e suas palavras entram como uma faca em mim.

-Não estou brincando, inclusive, estou namorando. O nome dele é Pedro e nos mudamos para um apartamento, seria muito legal um dia o senhor ir lá.

-Eu nunca pisarei na casa onde o capeta reina. Você é a minha maior decepção.- Ele diz gritando e meus olhos marejam. Eu não sei o que fazer.

-Tinha que ser, um cantor gay. -Marcos diz andando de um lado para o outro.

-Pelo menos eu trabalho, Marcos. -Falo de imediato com ódio dele. Mas recebo um tapa na cara do meu vô.

Meu vô me bateu.

-Nunca mais ouse falar do Marcos dentro da minha casa enquanto você está nessa viadagem. Onde já se viu ser cantor de pop e ainda namorar um homem, eu espero que vocês queimem no inferno. -Ele diz segurando forte meu braço e as lágrimas começam a escorrer.

-Se eu esbarrar com esse seu namoradinho na rua, eu espanco. Tenho nojo de vocês. -Ele continua a dizer com um ódio assustador no olhar, agora ameaçando Pedro.

-E ainda chora essa viado, realmente não tem jeito. Isso é patético. -Agora é a vez de Marcos falar alguma coisa que aproveita que meu vô está me segurando pelo braço e bate na minha cabeça. Forço a mão dele para sair e me levanto chorando.

-Vô... Eu só queria ser próximo de você assim como eu era com a vovó. -Digo e os dois paralisam. -Pode deixar que eu nunca mais venho aqui.

Saio correndo de lá, foi pior do que imaginava. Nessas horas bate uma saudade enorme de minha vó. Que se visse eles me agredindo teria atirado neles. Entro no carro e saio dali, coloco meu celular no bluetooth do carro e ligo para Pedro.

Não queria ter que contar essa história para ele, queria pelo menos uma vez na minha vida dar alguma história boa de verdade para ele. Mas de novo, estarei chorando no seu ombro, com mais uma decepção na nossa história.

Acidente | PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora