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Pov' Pedro

Passado um tempo, eles saem do quarto chorando e falam para mim entrar. Solto um suspiro e entro no quarto totalmente branco, uma tela ao lado dele mostrando seus batimentos cardíacos que realmente estão muito altos. Fecho a porta e me aproximo dele, faço carinho em sua bochecha. Seu rosto está com diversos cortes e alguns roxos.

-Oi meu amor. -Falo já chorando e dando um beijinho em sua testa que também está machucada. - Você tá meio palido amor, você iria odiar se estivesse acordado. -Dou uma risada fraca e pego sua mão. -João, você me perdoa? Desculpa ter dito para você passar na doceria, desculpa por não ter vindo com você. Me desculpa mesmo João. Você tem que ser forte agora, você tem quatro filhos para cuidar. E tem eu também, estou com saudades meu amor, saudade da sua risada, teu abraço, seu beijo... Sei que faz pouco tempo que você está aqui, mas te ver internado assim, desacordado e tão triste. Acorda por favor, preciso lhe ver bem fazendo suas piadas sem graças, por favor... A pizza... Ela já chegou e vai esfriar se você não acordar logo. Por favor acorde por mim João, eu preciso de você aqui. -Digo chorando e lhe dou mais um beijo na bochecha, a sala está em silêncio agora apenas com o som de sua respiração e batimentos cardíacos. -Você não ia gostar dessa roupa também, não é nada haver com o seu estilo. -Digo rindo um pouco.

Passo a mão pela sua barriga coberta e volto para seu cabelo, seus olhinhos fechados me quebram, o ver mal assim meche muito comigo. O peso da culpa me atinge de vez e não consigo mais parar de chorar enquanto faço carinho em seu cabelo. Podia ter sido comigo, porra.

-Senhor Pedro? Já deu o tempo. -O doutor fala na porta, então lhe dou mais um beijinho na bochecha e digo no pé de sua orelha:

-Acorda meu amor, sei que você é forte. Eu te amo muito. E mesmo estando desacordado, ele se arrepia. Ele arrepiou mesmo desacordado. Dou um sorriso e vou até o doutor.

-Pedro, eu não sei que mágica você fez, mas o coração dele, o coração dele voltou para as batidas normais. Ele diz sorrindo com esperança.

-Como assim, doutor? Não está mais acelerado?

-Não, e não sei como. Tentamos usar alguns medicamentos mas nada funcionou. Se soubesse que você iria conseguir isso já teria te chamado antes. Ele diz ainda sorrindo e meus olhos marejam de novo. -Sabe, acho que ele te ama até desacordado.

Após a bomba que o doutor me disse, vou para a recepção chorando, um misto de emoções, mas principalmente de dor, por ter visto o qual mal ele está. Olho para a porta do hospital e vejo Giovana, e logo atrás dela vejo Malu e Marília. Corro até ela e abraço imediatamente começando a chorar.

-Gi, eu vi ele. -Digo chorando em seus braços, logo sinto vários braços. Todos estão aqui me abraçando enquanto choro. -Ele tá péssimo. -Falo chorando e eles desfazem o abraço e Marília vai pegar água.

-Pê se acalma. Como foi? -Malu fala e vamos até umas cadeiras, logo Bela aparece com a cara inchada de tanto chorar.

-Aqui Pê, respira fica calmo. -Marilia diz me dando a água.

-Ai obrigado gente. Ele está todo machucado e realmente desacordado, e é horrível de se ver ele nessa situação. -Digo com a voz tremula. -Eu... Eu me sinto culpado.

-Oi Pedro? Para com isso, você não teve nada haver com isso. -Bela fala de imediato, e todos concordam.

-Não, era para ele ter ido para casa, mas falou de uma doceria e eu disse para ele ir lá. Isso aconteceu por minha culpa, ele não teria voltado se eu não tivesse dito para ele ir. Começo a chorar novamente e deito no ombro de Malu, não é a mesma coisa de deitar no João.

-Pedro, a culpa não foi sua nem dele. Foi daquele cretino do carro contra mão e meu vô nada mais. -Gio diz tentando me acalmar. Meus sogros aparecem por perto também e então decido falar sobre os batimentos cardíacos dele.

-Os batimentos cardíacos dele... -Quando falo isso todos me olham preocupados e com atenção. Quando o doutor me chamou para sair de lá, ele me disse que com as coisas eu disse para ele, ou com a minha presença lá, os batimentos dele voltaram ao normal.

-Graças a Deus. -Minha sogra fala dando um pulo.

-Graças ao Pedro, tia! -Giovana fala nos fazendo rir.

-Fica ai Pedro, conquistando ele até desacordado que que é isso meu Deus. -Marilia fala sorridente.

-Quero ser igual ao relacionamento de vocês quando crescer. -Malu fala e todo mundo ri novamente.

-Giovana! -Ouço a voz de Sandro se aproximando, olho para Gio e vejo seu olhar de espanto. -Quanto tempo minha neta!

-Olha aqui meu senhor. -Ela levanta se aproxima dele. Se minha tia te deixou ficar aqui, senta a sua bunda naquela cadeira e apodrece lá. Não quero ouvir a sua voz.

-O que é isso Giovana? Você não era assim.

-Sempre fui, e agora sou ainda mais. Meu primo só tá na situação que tá por sua culpa e eu vou te odiar para sempre. -Ela diz com lágrimas nos olhos, Giovana está chorando.

-Olha senhor, já lhe disse uma vez e aqui vai a segunda. Você não é bem vindo aqui então seria de muito bom tom que você ao menos não falasse com ninguém. -Falo para ele que arregala os olhos. Me levanto até Gi e a abraço, nunca a vi assim. Dona Catarina fala para ele sair e assim ele faz.

-Acho melhor você ir para minha casa hoje, assim eu não me mato e você também não. -Falo baixo para ela que concorda com a cabeça chorando em meus braços.

-Vou ter que ir junto para cuidar dos dois para eles não se matarem juntos. -Marilia diz, ela é tipo que uma mãe para todos nós. Com o canto do olho vejo os médicos se movimentando para o quarto dele, será que ele piorou? A ansiedade me atinge novamente.

-A polícia ligou para a gente, disse que amanhã às 8 da manhã podemos passar lá para pegar as coisas dele que estavam no carro. -Meu sogro fala me tirando daqueles pensamentos.

-Você pode pegar Pê? -Minha sogra fala.

-Pego sim. -Digo tentando ser confiante, mas acho que ninguém cai nisso. -Acho melhor a gente ir.

-Podem ir, vou ficar com a Bela. Malu fala acariciando o braço de Isa.

-Tá bom então, por favor me liguem para qualquer coisa. -Digo me despedindo de todos. Logo saio dali com Gio e Marília que está de carro.

-Vamos para sua casa mesmo? -Mari pergunta.

-Vamos, tenho que dar comida para meus filhos. -Digo triste, não sei o que vou fazer para cuidar deles sem o João.

Chegando em casa sinto um clima horrível, como se alguém tivesse morrido. A casa está vazia e em silêncio, por mais que as meninas estejam conversando horrores, a casa está quieta sem as graças dele. Passar a noite aqui vai ser terrível sem ele, e estou começando a me dar conta disso agora. Chicória vem no me pé pedindo carinho e eu a pego em meu colo.

-Oi minha princesa, como você tá? -Dou um cheiro em sua barriguinha e me sento no sofá com ela. -Falei de vocês para o papai João e o coraçãozinho dele voltou ao normal, sabia?

-Ai Pedro, para de ser fofo com os gatos assim. Vou chorar e eu vim para cuidar de vocês. -Marilia fala e só então percebo que as duas estavam por perto.

-Pê, aquela pizza em cima da mesa. Podemos comer? -Gio diz me fazendo relembrar da porcaria da pizza, e então sem falar nada, apenas começo a chorar muito. -Ai meu Deus, desculpa.

-Pê o que aconteceu? - Mari pergunta me abraçando.

-Sinto falta dele aqui. A pizza... eu tinha comprado para ele quando chegasse, mas ele não vai voltar tão cedo mesmo. Podem ir comer, vou ficar aqui. -Digo limpando minhas lágrimas.

-Ei, ele já vai volta tá bom? -Gi fala e eu concordo com a cabeça.

Não acho que ele vá voltar tão cedo, geralmente tenho mais certeza das coisas quando vejo seus olhos, mas dessa vez eles estavam fechando, então não sei o que posso esperar. Elas se levantam indo para a cozinha, enquanto eu apenas jogo meu corpo no sofá e durmo ali mesmo com Chicória.

Acidente | PejãoOnde histórias criam vida. Descubra agora