16-2. Lily

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-Atlas! sussurro, chocada com tudo que está sendo dito.

-Está tudo bem, ele sabe que é babaca.

Vejo o menino rir atrás dele, então percebo que ele sabe que Atlas está brincando. Mas também estou confusa.

- Eu não sabia que você tinha um irmão.

-Nem eu. Descobri ontem à noite, depois do nosso encontro.

Penso na noite de ontem e em como ficou óbvio que ele estava chateado com a mensagem que recebeu, mas não fazia ideia de que era uma questão familiar. Acho que isso explica por que a mãe estava tentando falar com ele.

-Pelo jeito, você tem muito o que resolver hoje.

-Espere, não desligue ainda - pede ele. Atlas sai da cozinha e vai para outro cômodo para ter privacidade. Fecha a porta e se senta na cama. Os pãezinhos só ficam prontos em dez minutos. Posso falar.

-Nossa. Panquecas e pãezinhos. Que menino de sorte! Meu café da manhã foi café preto.

Atlas sorri, mas é um sorriso fraco. Ele parecia de bom humor na frente do irmão, mas agora que estou sozinha com ele, percebo o estresse na maneira como está se portando.

-Cadê Emmy? - pergunta.

-Minha mãe vai ficar com ela por algumas horas.

Quando ele nota que nós dois não vamos trabalhar e que não estou com Emmy, ele suspira como se estivesse desanimado.

-Então está com o dia de hoje livre?

Tudo bem, a gente vai fazer tudo devagar, lembra? Além disso, não é todo dia que você descobre que tem um irmão mais novo.

Atlas passa a mão no cabelo e suspira.

-Era ele que estava vandalizando os restaurantes.

Isso me surpreende. Preciso ouvir o resto da história.

- Foi por isso que minha mãe tentou me ligar na semana passada. Ela queria saber se ele tinha falado comigo. Agora me sinto mal por ter bloqueado o número dela.

-Não tinha como você saber. Estou de pé no meio da sala, mas quero estar sentada para esta conversa. Vou até o sofá e deixo o celular no braço dele, apoiando-o no suporte de dedo. Ele sabia sobre você?

Atlas assente.

-Sabia, e achava que eu sabia da existência dele, e é por isso que estava descontando a raiva nos meus restaurantes. Tirando os milhares de dólares que me fez gastar, ele me parece um bom menino. Ou pelo menos parece ter potencial para ser um bom menino. Sei lá, ele passou pelas mesmas merdas que eu com minha mãe, então não sei como isso o afetou.

-Sua mãe também está aí?

Atlas balança a cabeça.

-Ainda não contei para ela que o encontrei. Falei com um amigo que é advogado e ele disse que, quanto mais cedo eu contar, melhor; assim ela não vai poder usar isso contra mim.

Usar isso contra ele?

-Você quer tentar obter a guarda dele?

Atlas assente sem titubear.

- Não sei se é o que Josh quer, mas não consigo aceitar outra opção. Sei o tipo de mãe que ela é. Ele mencionou que queria ir atrás do pai, mas Tim é ainda pior do que minha mãe.

- Você tem algum direito como irmão dele?

Atlas balança a cabeça.

- Somente se minha mãe deixar que ele more comigo. Não estou nada a fim de ter essa conversa. Ela vai negar só para me irritar, mas... Atlas suspira fortemente. - Se Josh ficar com ela, não vai ter nenhuma chance na vida. Ele já é mais calejado do que eu era com aquela idade. Mais raivoso. Fico com medo do que essa raiva pode virar se ele não tiver alguma estabilidade na vida. Mas não sei se consigo fazer algo assim. E se eu fizer mais merda com ele do que minha mãe?

-Isso não vai acontecer, Atlas. Você sabe que não.

Ele aceita meu consolo com um sorriso rápido.

-É fácil para você dizer isso. Você leva muito jeito para cuidar da sua filha.

- Eu apenas sei fingir bem admito. Não faço ideia do que estou fazendo. Nenhum pai ou mãe sabe. Todos nós sofremos de síndrome do impostor e nos viramos como dá a cada minuto do dia.

Por que isso é reconfortante e apavorante ao mesmo tempo?

-Você acabou de resumir a paternidade e a maternidade em uma frase.

Atlas expira.

-Acho melhor eu voltar e conferir se ele não está me roubando. Eu te ligo mais tarde, tá?

-Tudo bem. Boa sorte.

A maneira como Atlas articula silenciosamente a palavra tchau é sexy pra cacete.

Quando encerro a chamada, me deito e suspiro. Adoro como me sinto depois de falar com ele. Atlas me deixa toda boba e energizada e feliz, mesmo quando a chamada é tão maluca e caótica como essa de agora.

Queria saber onde ele mora. Eu passaria na casa dele só para fazer um delivery de abraço, assim como ele fez comigo na outra noite. Odeio o fato de Atlas estar lidando com isso, mas ao mesmo tempo fico feliz por ele. Não consigo imaginar sua solidão desde que o conheci, não tendo nenhum familiar em sua vida.

E pobre criança. É a história de Atlas se repetindo, como se um único menino sendo tão maltratado pela mãe não bastasse. Meu celular apita, indicando uma nova mensagem. Sorrio quando vejo que é dele. Sorrio ainda mais quando vejo o tamanho da mensagem.

Obrigado por ser a parte mais reconfortante da minha vida neste momento. Obrigado por sempre ser o farol de que eu preciso toda vez que me sinto perdido, quer você queira me iluminar ou não. Eu me sinto grato pela sua existência. Estou com saudade. Deveria demais ter te beijado.

Estou cobrindo a boca com a mão quando termino de ler. Sinto emoções tão fortes que não sei como lidar.

Sorte de josh ter você na vida dele neste momento.

Após alguns segundos, Atlas reage á mensagem com um coração. Então mando outra:

E você tem razão. Deveria demais ter me beijado.

Atlas reage com outro coração.

É assim que começa Onde histórias criam vida. Descubra agora