20 | Marina

6.4K 738 415
                                    

No dia seguinte, a casa estava silenciosa. Rosane e Roberto tinham saído cedo e eu fiquei sozinha, pela primeira vez em muito tempo. Senti um alívio imediato, como se o peso de todas as complicações dos últimos dias tivesse sido momentaneamente retirado dos meus ombros. Não ter que me preocupar com o olhar de Rosane ou com a presença constante de Roberto era quase libertador.

Desci para a cozinha ainda de pijama, a casa inteira para mim. Preparei um café forte, o aroma se espalhando pelo ambiente e trazendo uma sensação de conforto. Fiz torradas, ovos mexidos e comi na mesa da cozinha, sem pressa, apreciando a solidão. O silêncio era um bálsamo para minha mente inquieta, que precisava desesperadamente de um momento de paz.

Depois do café, lavei a louça, algo quase terapêutico, e decidi que faria o almoço que eu quisesse. Sem preocupações com o que eles gostavam ou não. Cozinhei uma massa simples, com molho de tomate fresco e manjericão, e comi na sala, de frente para a TV, assistindo "Curtindo a vida adoidado", um filme antigo que sempre me fazia sentir um pouco mais leve.

À medida que o dia passava, eu me permiti relaxar. O sofá parecia me abraçar de tão confortável. A televisão era uma distração bem-vinda, afastando meus pensamentos do turbilhão interno de culpa e desejo que sempre surgia quando eu pensava em Roberto. A tranquilidade de estar sozinha, sem ninguém para agradar ou evitar, era exatamente o que eu precisava.

Quando o sol começou a se pôr, senti uma leve inquietação tomar conta de mim. Sabia que Roberto e Rosane voltariam a qualquer momento e, com eles, todas as complicações retornariam também. Me forcei a não pensar nisso, a aproveitar os últimos momentos de paz antes que tudo voltasse ao normal.

Já era noite quando ouvi o barulho do carro na garagem. Meu coração acelerou, uma mistura de expectativa e ansiedade. Não sabia como seria a dinâmica entre nós depois de tudo o que aconteceu, mas Roberto nem sequer apareceu no meu quarto como eu esperava e isso me deixou inquieta. Eu queria vê-lo, queria sentir aquela faísca que sempre surgia quando estávamos próximos.

O tempo passou devagar. Fiquei no meu quarto, tentando me concentrar em um livro, mas a cada som que ouvia, meu coração disparava, esperando que fosse ele. Nada. Quase uma hora se passou, e a irritação começou a crescer. Será que ele ia me ignorar agora? Depois de tudo? A ideia me incomodava mais do que eu queria admitir. Eu sentia falta dele, mesmo sabendo que era errado. Talvez especialmente por saber que era errado.

Respirei fundo, fechando o livro com um movimento brusco. Não conseguia mais ficar ali. Troquei o meu pijama por uma camisa branca, uma das mais confortáveis que eu tinha, que cobria metade das minhas coxas, e uma calcinha preta de renda. Não me dei ao trabalho de vestir mais nada. Não estava planejando fazer nada com ele, mas queria estar preparada se algo acontecesse.

Saí do quarto, os pés descalços no chão frio, e fui andando pelo corredor silencioso. Quando passei pelo quarto de Roberto, o vi sentado à mesa, concentrado em algo no notebook. Ele vestia uma camiseta branca que se ajustava aos ombros largos e uma bermuda cinza, a postura descontraída contrastando com a tensão que eu sabia que carregava por dentro. A luz fraca iluminava seu rosto, destacando o semblante focado, quase tranquilo, mas eu sabia que por trás daquela expressão calma havia muito mais. Ele ergueu o olhar e me viu parada na porta, um sorriso de lado se formando lentamente em seus lábios. Aquele sorriso tinha um efeito imediato sobre mim, e senti meu coração disparar.

— Tá melhor? — ele perguntou, estendendo a mão em um convite silencioso.

Hesitei por um segundo, mas minha vontade de estar perto dele falou mais alto. Entrei no quarto e caminhei até ele. Roberto me puxou suavemente para perto, fazendo-me sentar em sua coxa. Senti o calor do corpo dele contra o meu, e minha respiração vacilou. Quando percebi o que ele estava vendo no notebook, fiquei um pouco surpresa. Era um anúncio de aluguel.

Conexão ObscenaOnde histórias criam vida. Descubra agora