A massa ama ser controlada
A classe média cheira a merda
A classe alta deveria ser exterminada
A classe baixa carrega em si o peso da civilização
O capital antecede a exterminação
Bilionários indo ao espaço, sonhando com a vida eterna
Sonegando impostos do estado
Enquanto uma criança indígena espera para comer um osso
Mais grosso que sua própria perna
A lucidez chama para salvar nossa desgraça
Enquanto o povo clama por mais crédito no cartão de crédito
E recebe todos os desméritos
Enquanto os ricos fodem tudo
E riem silenciosamente de quem não compra no débito
A sociedade apagou sua chama
O futuro pertence a Meta
Todas as revoluções comeram poeira
E não há uma mera revolta
Para mudar o que o futuro nos reserva
A propaganda me faz levantar da cama
A etiqueta nas roupas
A maçã mordida
A nova moda
O novo Volvo
Me dão um lugar na Terra
Meu propósito se torna comprar
Ver streaming sozinho a noite sem ter a quem amar
Vou descontar na comida, vou engordar
Vou pedir um IFood, vou beber, vou me drogar
Enquanto isso, o facismo, filho do capitalismo com o imperialismo
Se reergue e quase não tenho forças para lutar
Estou atolado de boletos para pagar
Meu gerente do banco finge que me ama
Me enraba sem vaselina
E me oferece um empréstimo para pagar outro empréstimo que não consigo pagar
Odeio meu trabalho mas preciso estar cedo acordado
Para malmente sobreviver e me anestesiar
Comprando outro produto caro
Preciso ser magro
Preciso ser alto, ter olhos claros
Preciso malhar
Tenho que parecer um europeu
Sendo latino-americano
Não meu Deus, eu desisto
Não nasci para isso
Só posso desejar
Sabendo que nada vai mudar
Que outro Titanic afunde
Que outro Titan exploda
Que a classe baixa veja sua força
Que a extrema-direita seja fuzilada
Que os vietcongues aportem em Manhattan
Que os índios escalpelem quem os exterminaram
Que os porcos, mais iguais entre si do que os outros animais
Cedam e deixem a humanidade se salvar
Que o Cristianismo despedace antes que seja tarde
Que nenhuma criança seja mais abusada por um padre nojento de meia-idade
Que a Igreja não mais se acovarde e admita todos os seus abusos, todos os seus absurdos
Estou cansado, atolado de boletos para pagar
Parcelando as parcelas do cartão de crédito
Estou cansado, nada vai mudar
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Tempos Modernos
PoetryUm pouco de realidade sobre a sociedade Foto da capa: Pennie Smith