O cavalo e o veado

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Há muito tempo atrás, em um denso bosque, um veado saiu para beber água em um riacho pela manhã quando deu de cara com um cavalo matando a sede por ali. Ao vê-lo, o cavalo exclamou:
- O que veio fazer no meu riacho, veado? Beber da minha água, por acaso?!
- Sua água? - questionou o recém-chegado, sem entender. - Ora, amigo cavalo, tenha bom-senso! Também moro nessa floresta e, assim como o senhor, eu também sinto sede! Esse riacho não é só seu!
- Ora, que atrevimento! - irrompeu o cavalo, irritado. - Fui o primeiro a encontrar esse riacho, então sou o único que pode beber dessa água!

Diante de tanta braveza, o veado pensou em deixar aquilo para lá e ir procurar água em outro lugar. Mas o clima estava tão quente naquele dia e aquele riacho parecia tão límpido e fresco que ele teve outra ideia:
- Escute, amigo cavalo... - ele propôs, calmamente. - O que acha de apostarmos uma corrida? Quem vencer, fica com o riacho!
- Que seja, seu patife! - aceitou o cavalo, carrancudo. - Vou vencer de qualquer maneira! Todos sabem que sou bem mais rápido que você, afinal!
- Certo. - respondeu o veado, sem se deixar intimidar. - Podemos dar a largada aqui mesmo. Ganha quem chegar primeiro ao grande penhasco, próximo daqui. O que acha?

O arrogante cavalo aceitou e se posicionou ao lado do oponente. O veado contou até três e, no mesmo instante, os dois deram no pinote, floresta adentro.

No início, o cavalo estava na liderança, para o temor do veado. Os dois saltavam por cima de grandes pedras e se esquivavam de diversas árvores em alta velocidade, decididos a vencer.

Quando já estavam próximos do penhasco e o cavalo já ria maldosamente com a vitória na cabeça, este se distraiu e acabou tropeçando num toco de árvore, caindo desajeitadamente ao chão. Aproveitando a oportunidade, o veado se adiantou e o ultrapassou, alcançando o destino e vencendo a corrida.

Depois disso, o perdedor foi obrigado a dar ao veado o direito de beber água em paz no riacho. Contudo, sentia-se tão furioso com aquilo que, antes de ir embora, esbravejou ao outro:
- Isso não vai ficar assim, seu safado!

O veado, por sua vez, o ignorou e se pôs a matar a sede no riacho, alegremente.

Enquanto isso, o cavalo pensava consigo mesmo em alguma forma de se vingar do inimigo. Até que teve uma ideia cruel e imprudente, e foi ter com o caçador, que morava ali por perto.

Ao chegar à cabana onde o homem vivia, o cavalo o encontrou limpando um javali que acabara de caçar.
- Bom dia, caçador, como vai? - saudou-o o visitante, com um sorriso malicioso no rosto.
- Bom dia, cavalo. - respondeu o sujeito, um pouco desconfiado. - O que quer comigo?
- Bom, meu amigo. Já que é caçador, imagino que daria tudo para pegar um veado, certo?
- Sem dúvida! - respondeu o outro, de braços cruzados. - A carne deles é suculenta, e eu adoraria enfeitar minha cabana com aquelas belas galhadas!
- Então vai adorar saber que eu sei exatamente onde achar um deles! Posso levá-lo até lá se quiser! Monte em mim, será um prazer!
- Fantástico! - vibrou o caçador, empolgado.

Dito isso, o homem pegou sua espingarda, colocou uma sela sobre o animal, pôs-lhe rédeas, montou e, assim, os dois foram até o riacho, em silêncio.

Assim que chegaram, o veado descansava sob a sombra de uma árvore, próxima ao riacho.
- Veja, ele está bem ali... - sussurrou o cavalo, com um sorriso maldoso no rosto. - Vamos, acabe com o infeliz!

Cuidadosamente, o caçador sacou sua arma, mirou e atirou no veado, que caiu morto. O cavalo deu uma sonora gargalhada, exclamando:
- Já vai tarde, amigo veado! Isso é por ter tomado este riacho de mim!

Em seguida, o homem pôs sua caça sobre o lombo do cavalo, montou novamente e, segurando as rédeas, disse:
- Obrigado pela ajuda, amigo cavalo. Mas agora, quero que me ajude a levá-lo até minha casa. Tenho um curral bem espaçoso em minhas terras, acho que você vai gostar de lá!
- Como é? - indagou o animal, rapidamente mudando de humor. - Do que está falando, homem?!
- Ora, você foi de muita ajuda para mim! - comentou o outro, feliz da vida. - Não posso abrir mão de um ajudante tão dedicado e enérgico! De hoje em diante, vou montar em você quando for caçar ou viajar!

Desesperado em ouvir aquilo, o cavalo saltou, empinou, rodopiou e deu coices no ar, tentando se desvencilhar do montador. Até tentou morder as mãos dele. Porém, foi tudo em vão. O caçador conseguia controlá-lo com facilidade, já que tinha as rédeas em mãos e podia machucá-lo com as esporas de suas botas sempre que quisesse.

Daquele dia em diante, o cavalo pagou o preço por sua vingança, perdendo completamente sua liberdade. Além de só comer e beber aquilo que seu novo dono lhe dava e ter de viver dentro de um curral, era forçado a aguentar o peso do homem e levá-lo até onde este quisesse, sempre que quisesse.

                      
                                             FIM

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⏰ Última atualização: Sep 24 ⏰

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