A versão dele.

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De longe, a imagem era clara e perfeita, possível de ver por inteira sem um sequer obstáculo, me fez perguntar por um breve momento se tudo não passaria de um sonho. Um que jamais poderia ter se incrustado em minha mente.

Eu ainda arrumava minha capa sobre os ombros, certificando-me mais uma vez de que estava todo coberto e que não haveria chances de ser flagrado, quando senti, de forma rápida e agressiva, o aroma áspero e incomodo de um cigarro. Reconheceria aquele cheiro não importa onde estivesse, era o exato que tia Petúnia fumava as escondidas em meu quarto quase toda as noites de terça. Um objeto do mundo trouxa, porém um dos melhores que havia por ser francês.

A fumaça era visível e a ponta avermelhada, queimando a cada segundo passado, atrativa. A cada baixar de mão e toque no tabaco cinzas se espalhavam pelo chão, traçavam um caminho em mim me levando a imagens que pensei ter enterrado a tempos atrás. Fui atingido pela recordação da mulher que dizia cuidar de mim fazendo o mesmo, porém em minha cama, afinal era preferível sujar o que já era imundo do que o belo piso da casa. Mesmo assim, não parei de encarar.

Observei atentamente sua boca soltando mais uma lufada do rastro quase invisível daquele ato secreto da noite. Foi a última. Fechando os olhos e suspirando audivelmente, soou tão cansado, apagou-o em sua própria mão, não demorou para que mais uma lembrança me atacasse por trás sem dar-me oportunidade de defender. Minha teórica familiar apagando inúmeros cigarros em minha costas, a dor que latejava por dias em resultado destes atos e a irritação que coçava sem parar em minha pele. Deixei uma lágrima solitária cair, assim como fazia naquelas terríveis noites, lidando com tudo silenciosamente.

Sempre odiei essa droga inundada a nicotina, assim como nunca pensei que as pessoas que as usassem valessem de algo ou fossem mais do que babacas imorais... Mas ao ver Severus Snape, meu tão "odiado" professor de poções, fumando, não pude negar a atração que senti a aquele ato ou a ele. Me subiu a estranha vontade de juntar-me ao seu lado e assistir, pelo tempo que fosse, essa sua ação. Odiei isso, com todo meu ser.

Ele se virou lentamente parando para olhar algo no corredor, o exato lugar em que eu estava, congelei por um milissegundo achando que tinha sido descoberto, mas para falar a verdade pouco importaria, naquele momento só pude me perder na incrível imagem que me proporcionara. Seus cabelos negros caindo sobre os olhos semelhantes a ônix, totalmente exaustos, somando a postura despojada que aos poucos ia se arrumando, era maravilhosamente lindo de ver. Infelizmente tive de virar e apressar o passo para me afastar, se não realmente seria pego.

...

Foi essa a imagem que deixei o mestre de poções invadir quando usou Legilimentes em mim...

...

Acordei na madrugada, vomitando, consequentemente levei alguns outros a levantarem também, em principal Ronald Weasley que dormia a cama ao lado da minha. Não falei uma palavra, já que toda minha vista se resumia a borrões e meus atos a golfar e desmaiar, o que acabou preocupando os que tentavam inutilmente cuidar de mim. Sem muita mais escolha começaram a me encaminhar a enfermaria, caminho cujo lembro pouco já que não me mantinha na realidade por tempo suficiente.

Não poderia dizer com muita clareza o que houve quando cheguei, tinha uma vaga audição, que ainda estava abafada em decorrência ao curto prazo desde que despertei, e o máximo que ela proporcionou foi uma conversa curta e incompleta.

"-Por Merlin! Como... neste estado? -Era a voz da enfermeira, Pomfrey.

-Ele estava bem. -A fala desconfortável de Ron- Não sei...

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⏰ Last updated: Sep 24 ⏰

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"É só um jogo de desejo..."Where stories live. Discover now