⁴⁵Sutilezas entre sombras - Damian - Dick

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Cada palavra dela ecoava na minha mente enquanto caminhávamos em silêncio. O jardim da mansão parecia se estender ao nosso redor como um labirinto de pensamentos que eu não conseguia escapar. “Você nunca vai conseguir controlar o que sente por completo...” As palavras de Astrid, ditas com tanta convicção, eram perturbadoramente precisas.

Controle. Sempre foi o pilar da minha vida. Ra’s me ensinou que o controle era tudo — a base de qualquer guerra, de qualquer vitória. Controlar as emoções, controlar as ações, até controlar as pessoas ao meu redor. Mas com Astrid... esse controle parecia escapar, como areia entre os dedos. Cada vez que ela me desafiava, direta ou indiretamente, eu sentia o desconforto de estar sendo exposto. Não para o mundo, mas para ela.

Olhei para ela de relance. O sorriso tranquilo, mas com um brilho de determinação em seus olhos, me irritava e me fascinava ao mesmo tempo. Ela não me via como um herdeiro da Liga dos Assassinos, ou como Robin, ou como o filho de Bruce Wayne. Não, para ela, eu era só... Damian. E isso era o que mais me tirava do eixo.

Ela parou de repente, me obrigando a desacelerar também. Ficou de frente para mim, seus braços cruzados de leve, como se estivesse esperando que eu dissesse algo. Não gostei do silêncio. Me forçava a encarar o que eu preferia ignorar.

— O que você espera de mim? — perguntei, quebrando o silêncio, minha voz mais áspera do que eu pretendia. — O que quer que eu diga, Astrid?

Ela arqueou uma sobrancelha, claramente se divertindo com meu desconforto. Eu odiava quando ela fazia isso, como se estivesse sempre um passo à frente, esperando pacientemente enquanto eu tropeçava nas minhas próprias incertezas.

— Não espero que você diga nada, Damian — ela respondeu calmamente, seu tom suave, mas firme. — Não se trata de palavras. Se trata de... você se permitir sentir. Você se permitir ser, por um segundo, vulnerável.

Vulnerável. Aquela palavra soava como uma maldição para mim. Ra’s al Ghul me ensinou que vulnerabilidade era sinônimo de fraqueza. Mas, de alguma forma, diante de Astrid, vulnerabilidade parecia mais uma força... algo que eu não sabia usar.

— Não é tão simples assim — murmurei, desviando o olhar para as árvores ao redor, como se o vento que soprava entre as folhas pudesse me dar uma resposta.

— Eu nunca disse que seria — ela disse, dando mais um passo em minha direção. — Mas quem disse que tudo precisa ser simples? Às vezes, as coisas mais complicadas são as que mais valem a pena.

As palavras dela ficaram no ar, e o peso da conversa começou a me sufocar. Respirei fundo, lutando contra o impulso de me afastar. Eu sabia o que estava acontecendo. Era inevitável, mas ainda assim... não podia me permitir cair tão fácil.

— Vamos voltar — disse abruptamente, virando-me em direção à mansão sem esperar resposta. Eu podia sentir o olhar de Astrid em minhas costas, mas não olhei para trás. Eu sabia que ela viria, sem precisar dizer nada.

De volta à mansão, o silêncio da noite parecia mais pesado. Eu sabia que não poderia evitar isso para sempre. Astrid me desafiava a ser mais, a sentir mais, e isso era algo que eu tinha que enfrentar, mas não hoje.

Dick Grayson

Eu estava de pé no corredor, encostado na parede ao lado da porta do meu quarto, os braços cruzados enquanto ouvia os passos de Damian e Astrid voltando pelo jardim. O sorriso em meu rosto era inevitável. Jason tinha dado o empurrão, mas eu sabia que ainda ia demorar um pouco para o Damian realmente perceber o que estava acontecendo. Ele era teimoso, tão teimoso quanto Bruce. E Astrid... bem, ela tinha a paciência de uma santa, mas até os santos têm seus limites.

— Parece que o nosso pequeno D está fazendo progresso, hein? — ouvi a voz de Jason atrás de mim, preguiçosa e com aquele tom sarcástico que ele adorava usar.

— Se progresso significa que ele ainda está se segurando para não fugir de tudo, então sim, progresso — respondi, sem olhar para ele.

Jason deu uma risada baixa e veio até mim, parando ao meu lado.

— Vai levar mais tempo do que eu esperava — ele comentou, parecendo genuinamente entretido com a situação. — Mas hey, não podemos apressar o garoto. Ele tem... seus próprios métodos.

Eu ri, porque era verdade. Damian nunca fazia nada pela metade. Ou ele se jogava de cabeça, ou não fazia nada. O problema era que, nesse caso, ele estava segurando tanto que estava começando a se afogar na própria indecisão.

— A Astrid é mais esperta do que parece — comentei, olhando pela janela enquanto as silhuetas dos dois desapareciam pela porta dos fundos. — Ela já sabe o que quer, só está esperando ele perceber.

Jason bufou.

— O que me faz pensar... será que deveríamos ajudar mais? — Ele me lançou um olhar malicioso. — Tipo... uma forçadinha de leve?

Eu sorri de canto. Sabia que Jason estava se divertindo com aquilo, mas também sabia que ele se importava com Damian, mesmo que nunca admitisse isso em voz alta.

— Forçar o Damian nunca funciona — respondi, jogando a cabeça para trás, encostando-a na parede. — Mas talvez... algumas situações ‘casuais’ ajudem.

Jason arqueou a sobrancelha.

— Você tem algo em mente, Asa Noturna?

— Sempre — respondi, piscando para ele. — Mas vamos precisar de tempo. E de algumas distrações estratégicas.

Jason sorriu, aquele sorriso travesso que me fazia lembrar dos velhos tempos, quando éramos apenas dois garotos tentando entender o que significava ser Robin.

— Certo. Vamos ver até onde conseguimos empurrar esse barco.

E, com isso, a noite parecia pronta para mais um capítulo, mas dessa vez, nós seríamos os estrategistas por trás da trama.

A Guarda de Damian WayneOnde histórias criam vida. Descubra agora