One

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Eu corria pelos campos floridos, o tecido do meu vestido amassado e manchado pela grama seria, sem dúvidas, motivo para algum sermão mais tarde. Mas naquele momento, eu não me importava. Harry, meu irmão, vinha logo atrás, rindo como se a própria brisa da primavera o empurrasse em minha direção.

— Você nunca vai me pegar! — gritei por cima do ombro, a voz embalada pelo vento.

Harry, com suas pernas mais longas e a vantagem da altura, tomou impulso e saltou, me agarrando em um abraço apertado. O riso dele encheu o ar enquanto eu, com uma manobra ágil, me desvencilhei e corri em direção à nossa árvore favorita, que nos protegia com seus galhos robustos e folhas dançantes.

Ele parou, ofegante, e me olhou de longe, os braços cruzados como se fosse se render à sua própria fraqueza.

— Fraco! — zombei, rindo, enquanto ele se sentava ao meu lado, sob a sombra refrescante da árvore.

— Quando eu for rei, serei o homem mais forte de todo o reino. — Harry disse, lançando um sorriso desafiador. Eu o empurrei de leve, e juntos, observamos o movimento ao redor do palácio. O lugar estava uma confusão, todos os criados atarefados, preparando-se para a grande viagem que faríamos em dois dias.

— Acha que essa viagem é para me arrumarem um casamento? — perguntei, com um suspiro desanimado, sem desviar os olhos do horizonte.

Harry se virou para mim, a expressão mais séria do que eu esperava.

— Não importa o que nossos pais planejam, mas tenho certeza de que é pensando no seu bem.

Soltei um longo suspiro, erguendo o olhar para o céu azul que se entrevia entre as folhas verdes. Era a primavera que acabava de despertar, trazendo consigo dias mais longos e promessas que eu ainda não estava pronta para ouvir.

Harry se levantou primeiro e, como sempre, me ofereceu a mão. Aceitei, e começamos a caminhar de volta ao palácio. Contudo, no meio do caminho, parei bruscamente, puxando Harry junto.

— O que foi, Adeline? — perguntou ele, com uma mistura de impaciência e curiosidade.

— Meu vestido está amassado e sujo. Se mamãe e papai me virem assim...

Harry revirou os olhos, mas não resistiu. Segurou meu braço e, num impulso, me fez correr ao seu lado, atravessando os corredores cheios de criados e subindo as escadas como se a pressa pudesse apagar todos os vestígios de nossa travessura. Chegamos ofegantes na ala dos quartos, e, por um instante, o mundo além de nós parecia não existir.

Entramos em nossos respectivos quartos, e me deitei na cama, mesmo estando suja, eu queria aproveitar ao máximo antes da viajem.

Ao entrar no meu quarto, joguei-me na cama, sem me importar com a sujeira que cobria meu vestido. Eu queria aproveitar ao máximo os momentos antes da fatídica viagem.

Kiara, minha ama dedicada, entrou silenciosamente, já preparando meu banho. A mistura de óleos essenciais e ervas encheu o quarto com uma fragrância suave, que imediatamente começou a aliviar minhas tensões. O calor do banho foi irresistível, e logo me senti tomada pelo sono, afundando nas águas tranquilas até que, sem perceber, adormeci.

Acordei apenas ao cair da tarde, com a luz dourada do crepúsculo atravessando as janelas, anunciando o jantar. Ao chegar à mesa, algo estava diferente. Harry, sempre tão descontraído, agora parecia uma estátua de seriedade. Vestia-se com trajes mais formais, que lhe caíam com um peso que nunca antes tinha visto. Meus pais, por outro lado, comiam em um silêncio frio, cada movimento carregado de algo que ainda não me fora revelado.

Senti os olhares dos criados — furtivos, nervosos — e soube, naquele exato momento, que de toda essa viagem, eu só retornaria como esposa de alguém.

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