𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟓

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JENNIE KIM;

Abro a porta que dá para a escada o mais rápido possível, abotoando minha jaqueta enquanto subo os degraus até o telhado. Meu coração bate tão forte nos ouvidos que mal escuto meus próprios passos enquanto subo.

Ela deve estar louca.

Fico vendo-a parada na beira do telhado, a ponto de despencar, a sete andares no fim de sua história, o medo claro em sua expressão. Nem um pouco parecida com seu sorriso debochado de sempre.

Com o peito chiando, passo pelo quinto andar e faço uma pequena pausa para recuperar o fôlego, agarrando o corrimão frio de metal com minhas mãos suadas. Subo até o último andar, minha cabeça girando e minha garganta queimando. Não tive nem tempo de trazer meu oxigênio portátil. Só mais dos lances de escada. Só mais dois. Eu me obrigo a continuar em frente, meus pés se movendo como se tivessem vida própria: direita, esquerda, direita, esquerda.

Finalmente avisto a porta que dá para o telhado, entreaberta abaixo de um alarme vermelho que parece pronto para disparar. Hesito, olhando do alarme para a porta. Por que ele não disparou quando Lisa a abriu? Está quebrado?

Então descubro o motivo. Há uma nota de um dólar dobrada e bem em cima do sensor, impedindo o alarme de tocar e de avisar ao hospital inteiro que tem uma maluca com fibrose cística e tendências suicidas matando tempo no telhado.
Balanço a cabeça. Lisa pode ser louca, mas foi esperta.

A porta está aberta graças a uma carteira entre o batente e o chão, e, sem pensar muito, empurro-a o mais rápido possível, tomando cuidado para não deixar a nota cair do sensor. Fico paralisada, respirando de verdade pela primeira vez após quarenta e oito degraus. Olho pelo telhado e fico aliviada ao ver que ela está a uma distância segura da beirada e não caiu para a morte. Ela se vira para mim quando meu peito chia, uma expressão surpresa em seu rosto. Puxo meu cachecol vermelho para proteger meu rosto e pescoço do vento cortante — olhando mais uma vez para a porta para ter certeza de que a sua carteira continua no mesmo lugar —antes de ir com raiva até ela.

— Você quer morrer? — grito, parando a uma distância segura de mais de dois metros de distância dela. Talvez ela até queria, mas eu, com certeza, não.

Suas bochechas e seu nariz estão vermelhos por conta do frio, e uma fina camada de neve cobre sua franja castanha e levemente ondulada escondida debaixo do capuz do moletom vinho. Olhando assim, quase consigo fingir que ela não é tão idiota. Mas aí ela começa a falar. Ela dá os ombros, casualmente, e aponta para o chão, lá embaixo.

— Meus pulmões estão ferrados. Então vou aproveitar a vista enquanto posso.

Que poética. Por que eu deveria esperar algo diferente?

Olho por cima de seus ombros e vejo a cidade cintilando no horizonte, as luzes dos pisca-piscas cobrindo cada centímetro de cada árvore do parque, mais brilhantes do que nunca. Há até algumas presas de uma árvore a outra, formando um caminho mágico, para que as pessoas passem por baixo e olhem para cima, maravilhadas.

Em todos os meus anos aqui, eu nunca tinha vindo ao telhado. Tremendo, me encolho dentro da jaqueta, me abraçando enquanto olho para Lisa mais uma vez.

— Por mais bonita que seja a paisagem, por que alguém se arriscaria a despencar de sete andares? — pergunto, genuinamente tentando imaginar o que faria alguém com pulmões defeitusos fazer um passeio no telhado em pleno auge do inverno.

Os olhos castanhos e pouco claros de Lisa brilham de um jeito que faz meu estômago pular.

— Você já viu Paris de uma telhado, Jennie? Ou Roma? Ou até essa cidade aqui? É a única coisa que faz toda essa merda de tratamento parecer pequena.

A Cinco Passos de Você - JenlisaOnde histórias criam vida. Descubra agora