O Estranho da Tempestade

A Chegada

A tempestade caía violentamente do lado de fora, as rajadas de vento uivando como bestas furiosas. As árvores inclinavam-se sob a força do vento, e Clara assistia a tudo pela janela de sua casa isolada nas montanhas. O som das gotas de chuva atingindo o telhado de zinco era quase hipnotizante, mas uma inquietação crescia em seu peito. Não era apenas a tempestade que a deixava alerta; havia algo no ar, uma presença que ela ainda não conseguia identificar.

Foi então que um barulho inusitado a fez se sobressaltar. O som de metal raspando na terra e o ronco abafado de uma motocicleta cortaram o som da tempestade. Clara se aproximou da janela e, com esforço, conseguiu ver a silhueta de um homem lutando contra a chuva enquanto tentava levantar a moto caída no chão lamacento. Ele parecia estar com dificuldades, os relâmpagos iluminando seu rosto por breves instantes, revelando traços endurecidos pelo cansaço.

Clara hesitou. Seu instinto de sobrevivência lhe dizia para não abrir a porta para estranhos, especialmente durante uma tempestade. Mas a solidão, e talvez a curiosidade, a fizeram agir diferente. Pegou um casaco, vestiu-o rapidamente e abriu a porta.

— Precisa de ajuda? — perguntou, sua voz quase engolida pelo rugido do vento.

O homem levantou o olhar, claramente surpreso por vê-la ali. Ele não respondeu de imediato, parecendo medir suas opções. Finalmente, ele assentiu, os lábios apertados.

— Sim, por favor.

Com esforço, os dois conseguiram levantar a moto, mas estava claro que ela não iria a lugar algum naquela noite. A corrente estava solta, e a lama havia engolido parte do motor. Clara apontou para a entrada de sua casa.

— Entre. Pode esperar a tempestade passar lá dentro.

Ele hesitou por um momento antes de aceitar o convite. Clara sentiu um calafrio que não vinha da chuva.