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Na noite seguinte. Lexi bateu na porta do meu quarto. Estava de casaco e calças pretas. Um chapéu escondia a maior parte do seu cabelo, a não ser por alguns fios louros que emolduravam o rosto.

-Fiquei orgulhosa de você na noite passada -disse ela. Eu sorri, a contragosto. Era supreendente a rapidez com que eu buscava a aprovação de Lexi - Quanto tirou da garçonete?

-Não muito. MAs eu queria mais - admiti.

Uma expressão que não consegui decifrar muito bem passava pelo rosto dela.

-Antigamente eu era como você, sabe? Mas, quanto mais você se alimenta de humanos, mas fome sente. É uma maldição. Exitem outros meios. Já caçou sangue animal?

Balancei a cabeça negativamente.

-Bem, para a sua sorte, vou caçar agora - disse ela - e você virá comigo. Vista roupas escuras e me encontre no térreo em cinco minutos.

Coloquei a jaqueta escura de corte militar que encontrei pendurada no armário e desci correndo a escada, sem querer adiar essa experiência com Lexi por cinco minutos que fossem. Embora eu me enfurecesse com os comentários de Buxton sobre minha inexperiência, quando eles vinham de Lexi, eu só ficava ansioso por uma aula sobre como nossa espécie ssobrevivia.

Saímos pela porta e não havia vestígio do sol no céu negro. Farejei o ar, procurando o cheiro do humano mais próximo, mas parei quando vi Lexi me encarando com uma expressão sagaz.

Em vez de entrar á esquerda, para o burburinho da Bourbon Street, ela virou á direita, entrando e saindo de transversais até chegarmos a um bosque. No alto, as árvores eram nuas e fantasmagóricas contra o céu escuro da noite, a lua era nossa única fonte de luz.

-Existem cervos aqui - disse Lexi - e esquilos, ursos, coelhos. Creio que há uma toca de raposas por ali - acrescentou ela, entrando no bosque denso e pantanoso - O sangue delas tem um cheiro mais terroso do que os humanos e o coração bate muito mais rápido.

Eu a segui. Rápida e silenciosamente, disparamos de árvore a arbusto sem pertubar o que havia por baixo. De certo modo, parecia que estava brincando de esconde-esconde, ou só brincando de caçar, como fazem os meninos. Afinal, como humano, sempre portei uma arma numa caça. Agora só o que tinha eram minhas presas.

Lexi levantou a mão. Parei a meio passo, meus olhos disparando para todos os lados. Só o que via eram troncos grossos e formigas correndo por tocos de irregulares. De repente Lexi atacou.

Ao se levantar, o sangue pingava das presas e um sorriso presunçoso iluminava seu rosto. Uma criatura jazia nas folhas caídas, de pernas flexionadas, como se ainda estivesse no meio da corrida.

Ela gesticulou para o monte de pelos vermelho-alaranjados.

-Raposas não é ruim. Por que não experimenta?

Ajoelhei-me, franzindo os lábios ao fazer contato com o pelo áspero. Obriguei-me a tomar um gole cauteloso do liquido, apenas porque sabia que era esta a vontade de Lexi. Assim que suguei, o sangue queimou minha língua. Cuspi com violência.

-Bebe sangue de raposa é um gosto líquido adquirido, imagino - disse Lexi enquanto se ajoelhava no chão a meu lado -Pelo menos sobra mais para mim!

Enquanto Lexi se alimentava, recostei-me num tronco e ouvi o farfalhar da floresta. A brisa mudou, e de repente um cheiro de sangue rico em ferro estava por toda a parte. Era doce e temperado, e não vinha da raposa de Lexi.

Em algum lugar, perto dali, havia um coração humano, trabalhando a 72 batidas por minuto.

Com cautela e de forma furtiva, passei por Lexim arriscando-me até o perimetro do bosque. Armada na beira do lago, havia uma favela. Barracas inclinavam- se em variados ângulos e varais improvisados corriam entre os postes de madeira. Todo o ambiente parecia fortuito, como se os habitantes soubessem que teriam de levantar acampamento e se mudar a qualquer segundo.

O acampamento só não estava deserto graças a uma mulher que se banhava, o luar batendo em sua pele clara como marfim.

Ela cantarolava para si mesma, lavando a terra das mãos e do rosto.

Escondi-me atrád de um grande carvalho, pretendendo pegá-la de surpresa. Mas um grande cartaz numa árvore chamou minha atenção. Aproximei-me num passo. Um galho se quebrou, a mulher se virou e pude sentir Lexi atrás de mim.

-Stefan -murmurou Lexi, obviamente ciente da cena que se desenrolava. Mas, desta vez, fui eu que ergi a mão para silenciá-la. A névoa flutuava sobre o retrato do cartaz, mas o escrito era claro: SHOW DE ABERRAÇÕES DE PATRICK GALLAGHER: VAMPIRO CONTRA FERA SELVAGEM, BATALHA MORTAL! 8 DE OUTUBRO.

Pisquei, e o retrado oscilou em minha visão. Ele mostrava um homem de cabelos pretos com feições esculpidas e olhos azul-claros. Seus dentes estava á mostra, os caninos alongados, e ele se agachava na frente de um leão-da-montanha, que rosnava.

Conhecia o rosto do cartaz melhor do que o meu próprio.

Era Damon.

sede de sangue -diarios de Stefan -vol.2Onde histórias criam vida. Descubra agora