Andrea Sachs nunca foi o tipo de pessoa que imaginava trabalhar no mundo da moda. Aliás, quando começou a trabalhar para Runway, o objetivo era simples: sobreviver por um ano e usar o nome de Miranda Priestly para alavancar sua carreira em jornalismo. Ela nunca teve qualquer interesse por roupas caras, coleções de alta-costura ou as intrigas do universo fashionista. Mas, depois de cinco meses como assistente de Miranda, algo havia mudado.
Não era só a evolução natural de alguém que se adaptava ao ambiente — era como se o caos organizado de Miranda estivesse lentamente começando a tomar conta dela. As sacolas de papel pardo que Andrea carregava no início de seu emprego haviam sido substituídas por elegantes bolsas Prada. As roupas desajeitadas e sem forma que usava para trabalhar eram, agora, substituídas por peças da coleção mais recente da Chanel, algo que Emily, a primeira assistente, insistia que ela usasse.
Miranda Priestly, por outro lado, não parecia ter mudado nada desde o primeiro dia em que Andrea começou. Ela continuava a ser o epicentro de todo o mundo da moda, com seus sapatos impecáveis, sua atitude gélida e o olhar que poderia destruir uma carreira com um simples arquear de sobrancelhas.
Mesmo assim, nos últimos tempos, Andrea tinha percebido pequenas mudanças. Não na forma como Miranda se comportava com o mundo ao seu redor, mas na maneira como se comportava com Andrea. As interações não eram mais puramente mecânicas. Havia algo mais — algo sutil.
Foi numa manhã nublada de terça-feira que Andrea começou a notar as primeiras pistas. Ela estava tentando equilibrar uma enorme pilha de documentos enquanto carregava o habitual café de Miranda. Com os braços esticados, ela mal conseguia ver para onde estava indo, e, enquanto fazia o caminho pelo corredor, quase tropeçou no próprio pé.
Ao alcançar o escritório, Emily olhou de sua mesa e lançou um olhar de puro desprezo, como se esperasse que Andrea derrubasse tudo no chão a qualquer momento. Mas Andrea continuou determinada, aproximando-se da porta do escritório de Miranda.
Antes que ela pudesse bater, a porta se abriu. Miranda estava lá, impassível como sempre, mas por algum motivo, ela segurou a porta por um breve momento e olhou diretamente para Andrea.
— Você está se movendo como uma tartaruga essa manhã. Entre, Sachs.
Não havia nada particularmente incomum na frase — Miranda sempre tinha uma forma única de demonstrar que estava irritada, mesmo que sutilmente. No entanto, foi a maneira como ela segurou a porta, como seus olhos pareciam se demorar um segundo a mais nos de Andrea, que fez com que o coração da assistente acelerasse um pouco mais rápido do que o normal.
Andrea murmurou um "sim" rápido e entrou no escritório, colocando o café na mesa de Miranda com a destreza de quem já estava acostumada àquela rotina. Mas algo naquela interação, naquela troca de olhares, a perturbava.
Ela voltou para sua mesa, os olhos distraídos, os pensamentos um turbilhão. Ela segurou a porta? Ela olhou para mim? Por que eu estou me importando tanto com isso? Andrea sacudiu a cabeça, tentando se concentrar no trabalho, mas a sensação desconfortável continuava latejando no fundo da sua mente.
As horas passaram, e Andrea fez o possível para ignorar o estranho sentimento. Afinal, Miranda era apenas... Miranda. Ela não fazia nada sem uma razão específica e raramente demonstrava qualquer gentileza. A mente de Andrea devia estar pregando peças. Só podia ser isso.
Naquele mesmo dia, mais tarde, um pequeno bilhete apareceu na mesa de Andrea, trazido por um dos mensageiros da Runway. Era um simples cartão branco com a assinatura inconfundível de Miranda:
"Bom trabalho com a última edição da seção de acessórios. Continue assim."
Andrea piscou. Miranda Priestly tinha deixado um bilhete de agradecimento? Aquilo era novo. Nunca, em cinco meses, ela havia recebido qualquer forma de reconhecimento direto. Na verdade, Miranda costumava guardar elogios como se fossem pepitas de ouro: raros, valiosos e difíceis de obter.
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Mal-entendido
RomanceAndrea pensa que está namorando a grande editora-chefe da Runway. Uma pequena comédia romântica.