5- WINNIE

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Não me lembro da ultima vez que alguem cozinhou para mim.

Minha mãe nunca foi de cozinhar e ja mais quis aprender.

Uma das minhas babás um dia me levou para jantar fora e me deixou pedir panquexas. Quando contei para ela que era a primeiravez que comia isso, ela não acreditou.

— Como pode você nunca ter comido panqueca? — perguntou ela, esquecida de que eu tinha uma mãe doida e que, sempre que precisava de algo, tinha que fazer por conta própria.

Naquele dia, devorei o prato inteiro e depois paguei caro.

As panquecas de Bash são fofas no centro e sequinhas nas bordas. O xarope é doce e as amoras — também nunca tinha comido na vida — azedinhas, mas deliciosas, como morangos quando estão cítricos.

Dou outra garfada enquanto a menina, Cherry, senta-se ao meu lado.

— Sobrou panqueca?
— Não — Bash res pon de.

A expressão de Cherry imediatamente fica decepcionada. Ela tem sardas e cabelos castanho-avermelhados, com grandes olhos um pouco próximos de mais um do outro. Algo nela me lembra uma bolha prestes a estourar.

Mas estou feliz por ter outra mulher aqui.

Mamãe só mencionou Pan e certamente nunca comentou sobre os Garotos Perdidos.

Não acho que preciso me preocupar com Cherry, mas, sem dúvida, ela está desesperada para agradar. Posso usar isso a meu favor num lugar como este.

— Pode comer um pouco da minha. — Em purro meu prato na sua direção.

— Sério? — Ela parece não acreditar.

— Claro. Não preciso de tudo isso.

— Discordo — fala Bash. Ele está com o rosto duro. — Você está pele e osso — acrescenta ele.

Engulo em seco e puxo as dobras do suéter em volta do corpo para disfarçar todas assuas imperfeições.

Ele tem razão. Quando se é pobre e filha de uma mãe louca, a geladeira está sempre vazia, bem como seu estômago. Mas a gente se acostuma. A dor constante na barriga. Certos dias, passar fome é a única sensação real que tenho.

— Se eu comer tudo isso, vou passar mal— explicoco

Kas se levanta.

— Posso falar contigo? — dirige-se para o gêmeo.

O olhar de Bash paira sobre mim antes de finalmente sair, seguido pelo irmão.

Acordei acorrentada a uma cama — eles não têm medo que eu fuja? Vane deixou claro que essa ideia seria péssima.

Mas o que acontece de pois disso aqui?
Pelo que estão esperando?

— Então — digo, virando-me para Cherry. Ela devorou metade da pilha e agora vai mais de vagar, com minha atenção sobreela. — Me conta o que sabe sobre este lugar. Estes garotos.
Ela faz uma careta.

— Não posso contar.

— Por que não?

A garota engole em seco e morde o lábio.

— É… complicado.

— Eles pegaram você também?

— Não. — Ela sacode a cabeça para enfatizar. — Vim por livre e espontânea vontade — Cherry fala com orgulho.

— De onde?

— Do outro lado dailha.

Se ela optou por vir, não de vem ser tão ruins quanto pensei.

Talvez só Peter Pan. Bem… e talvez Vane.

— Você sabe o que eles estão procurando?

Ela em purra o prato de volta para mim. Está séria. O brilho em seus olhos diminuiu.

— Os Garotos Perdidos são mais velhos  do que parecem Pan é muito, muito mais velho. Mais velho do que eu. O que quer que tenha acontecido, foi antes de eu chegar aqui.

— Como assim? O que aconteceu?

Os gêmeos retornam. Bash estala os dedos para Cherry, que sai correndo.

— Termine logo, Darling — diz Kas.

— Por quê?

Há uma porta dupla do outro lado da cozinha com uma varanda e o oceano além. Bash sai por ali e observa.
O sol está sepondo. Não há relógios, então não sei que horas são. Onde eu moro, o sol se põe às oito. Aqui, por algum motivo, paarece mais tarde. Talvez seja o ar tropical.

— Por que Pan vai acordar logo — Bash fala virado para a porta.

— E vai que rer te ver.

Um cala frio percorre minha espinha.

Relembro o mito: o estranho sombrio que apareceu naminha casa ontem à noite e me raptou, bem como minha mãe avisou que ele faria.

A culpa retorna. Eu nunca acreditei nela.
Pois deveria.

O Rei da Terra do NuncaOnde histórias criam vida. Descubra agora