Kely fingia que olhava o celular, quando não tinha nada realmente para olhar. Sua turma foi a primeira a sair e ela estava em um dos bancos do pátio. Olhava um pouco as fotos da galeria e olhava em volta novamente à procura de Jonathan, mas ele não aparecia. Os únicos rostos que ela encontrava eram da sua sala. Irritava ela perceber que alguns alunos que não tinham nada para fazer depois da aula ficavam ali até quando quisessem. Outra turma estava descendo, mas a garota perdeu as esperanças ao perceber que era o terceiro ano, com vários outros rostos desconhecidos. Era impossível ficar tranquila naquele ambiente. Se sentia uma impostora ali no meio, enquanto à sua volta seus colegas falavam despreocupados de seus assuntos. Era como se houvesse uma grade entre ela e todos os outros.
Em meio à outra turma que descia, ela avistou quem esperava. O elegante uniforme masculino não destacava a silhueta dele como o uniforme de esportes, mas o fazia parecer um príncipe. Ela não pôde deixar de se sentir encantada quando seus profundos olhos cor de chocolate a fitaram e um sorriso estampou-se no rosto do garoto, mas uma onda de apreensão veio junto quando percebeu que o garoto ruivo e magrelo estava ali também. Os dois se aproximaram e Jonathan deu um "oi" acalorado enquanto Daniel ficou ali com sua postura gélida e um olhar provocativo.
— Parece que teremos que nos falar de novo.
Ela tentou manter a calma.
— Pois é.
A presença do garoto magrelo era incômoda e a deixava estressada, sem vontade de falar. O outro menino percebeu o climão e tentou retomar o objetivo da reunião.
— Então, eu trouxe você aqui por causa daquilo que eu falei com você mais cedo.
— Porque tanto interesse no meu desejo de repente? Já faz um ano que não nos falamos.
— Precisamos entender os poderes da garota pra libertar os outros— disse Jonathan, apontando com a mão para Kely — E você é a única outra pessoa que ela libertou do feitiço do fantasma.
Daniel cruzou os braços e deu um passo para trás. Sua expressão não era nada positiva e indicava que não conseguiriam arrancar muito dele.
—Sério? Só duas pessoas?— Ele respondeu, tentando conter um sorriso malicioso —Você não está mesmo a fim de colaborar para nos livrarmos do fantasma, não é?
A jovem sentiu vontade de largar uma bofetada no nariz empinado do magrelo. Se limitou a pousar as duas mãos na cintura e dirigir um olhar raivoso para ele.
—Sendo sincero, isso é patético.
Ela inspirou fundo e começou a falar:
—Sabe o que é patético? Você já veio duas vezes me encher o saco por causa disso, nas duas vezes você me tratou mal e ficou bravo porque eu não fiz o que você queria. Nessas duas vezes, eu não achei um motivo pra confiar em você, eu já entendi que você quer descobrir o que eu fiz pra tirar a marca, ir embora e me deixar sem nada.
—E por que...
—E fique sabendo que não tem outro jeito disso funcionar se você não aceitar a minha ajuda, e se não quiser ajudar, pode ir embora que podemos facilmente achar outra pessoa.
Kely se virou de costas para os dois garotos, que não disseram uma palavra pelos próximos instantes. Instantes suficientes para processar melhor o problema que os nervos poderiam ter arranjado. Daniel poderia mesmo ir embora e dificultar as coisas para os dois.
Apesar disso, ele se rendeu.
—Tudo bem, nervosinha, eu aceito a ajuda de vocês. Na verdade, eu já tenho um plano, e apenas esperava mais gente livre do feitiço. Eu esperava que a garota saísse tirando a marca de todo mundo por aí, mas pelo que se vê já se foi muito tempo e pouco progresso.
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Kely e o Fantasma
FantasyKely é aluna da UCNAM, uma escola de prestígio que, com sua própria metodologia, prepara os alunos para a vida em sociedade, ensinando as matérias básicas, e proporcionando outras experiências que agregam à vida do aluno, como produção de textos, bá...