Estou rindo, chorando, sinto como se estivesse morrendo

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Eu não desejo nem ao meu pior inimigo o sentimento de ficar todos os dias e todas as noites remoendo a sensação de, mesmo com todos os abraços e todas as palavras e todas as promessas, ainda assim não se sentir amado, e sentir que nunca houve alguém no mundo que tenha sentido o mínimo de carinho por você.

Eu nasci nesse mundo e partirei dele um dia, e me pergunto se em algum momento alguém notou que eu existi nele.

Chorar é tudo o que eu consigo fazer. Eu sei que não adianta, porém agora é meu único alívio. Por mais que meu desejo de me desfazer nas minhas lágrimas me dissolvendo à medida que saem pelos meus olhos seja um desejo cruelmente rejeitado pelas leis do universo.

Ninguém veio. Eu jorrei meu coração em cada curva de cada letra de cada palavra dos convites. Eu passei horas fazendo essa maldita decoração, que custou caro, com todo o meu carinho. Eu poderia construir todo o mundo para qualquer pessoa, e ainda assim não me apreciariam.

Eu os convidei. Abri meu coração, expus minha vulnerabilidade, e ninguém valorizou isso, ninguém se dignou a vir passar pelo menos cinco segundos na minha festa de lástimas. O bolo intocado, a casa tão vazia quanto eu, tudo como sempre esteve. Nenhuma diferença, nenhuma bagunça, nenhuma voz além da minha, tudo na minha casa está como habitualmente está, o que se encaixa no meu cotidiano: eu não tenho nada e não tenho ninguém, da mesma forma que eu nunca tive. Como pude ser idiota o suficiente para acreditar que hoje seria diferente?

A dor se torna raiva, as lágrimas se tornam gritos. Não sei mais se são de dor, agonia ou raiva. Tanto faz. Não me importo com quem me ouça, só quero me aliviar e sentir o desespero rasgar minha garganta até que meus pulmões pareçam prestes a explodir. Rasgo meu vestido, rasgo tudo o que eu planejei com todo o meu amor para as pessoas que não se importam; tudo o que eu construí com tanto cuidado para receber qualquer um que queira, todos que eu convidei com carinho para estar comigo em um dia especial, agora reduzido a pedaços. Tudo o que eu planejei para receber alguém, na minha vulnerabilidade, na minha casa, no meu abraço, na minha gentileza, no meu coração. Se foi. Para sempre.

Nunca mais vou fazer festa nenhuma. Nunca mais vou colocar meu coração em nenhum convite. Nunca mais vou pedir para que alguém venha até mim, e não irei até ninguém, nunca mais vou gastar meu tempo fazendo decorações bonitas para receber alguém, à medida que consigo confiar em alguém o suficiente para acreditar que se importem comigo, e com o meu dia especial, e com como eu vou me sentir.

Chega.

Que tudo queime, até que tudo eu apague com minhas lágrimas. Que tudo queime e reduza minhas decorações coloridas à escuridão das cinzas. Usarei essas cinzas se alguém vier me perguntar o que aconteceu. Sem mais decorações. Sem mais cuidado. Sem mais esforços.

O glacê do bolo agora está por toda parte, e, por mais que eu o tenha todo para mim, agora ele parece muito menos saboroso do que pareceu mais cedo. E eu apago as velas, desejando o que eu desejo todos os anos: eu gostaria de ter alguém que se importasse comigo. O suficiente para nunca ir embora. Só uma única pessoa. Viver não tem sentido quando ninguém me pede para ficar.

E eu só me cansei de ficar. Talvez eu não deva. Eu me cansei de tentar me convencer a ficar. Nesse momento eu posso me desmontar à vontade, e dessa vez meu coração maior do que o meu corpo pode, pela primeiríssima vez, me trazer algo útil ao derramar minhas lágrimas de bebê chorão em um lugar onde ninguém pode ver. Inundando as minhas cinzas e transformando tudo em um lugar onde, até pouco tempo atrás, parecia atrativo, mas que agora está me assegurando chances muito menores de que alguém queira vir até aqui.

E eu não quero que venham.

Não ter ninguém me vendo, sabendo que eu estava ali, doía, por mais que fosse minha zona de conforto, e agora quero continuar sendo uma sombra mais do que qualquer outra coisa. Se ninguém se importa, ninguém vai ficar aqui para me ver sangrando. Que assim seja.

É a minha festa, e eu choro se eu quiser.

Talvez seja uma piada cruel para mimOnde histórias criam vida. Descubra agora