Capítulo 3 - Sussurros de um Passado Oculto

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O imperador Valerion adentrou a sala com uma aura imponente. Cada passo ecoava pelas paredes de mármore do vasto salão, criando um ritmo que parecia combinar com a tensão crescente no ar. Seus olhos, profundos e perspicazes, pairaram sobre Davi e Ana Clara, como se ele pudesse enxergar além do que era visível.

— Vocês caíram sob a proteção de Lysandra — começou ele, com uma calma que contrastava com a grandiosidade do ambiente ao redor. — Mas isso não os exime de explicações. Como vieram parar aqui?

Ana Clara, sempre mais rápida em se recompor, levantou-se e se adiantou.

— Imperador Valerion, eu e meu irmão não sabemos como viemos parar neste mundo. Estávamos em nossa casa, dormindo, e quando acordamos, estávamos na floresta. — A voz dela era firme, mas carregada de incerteza.

Valerion inclinou-se ligeiramente para a frente, como se analisasse cada palavra dita. Seus olhos então se voltaram para Davi, que ainda estava sentado, perdido em pensamentos, lutando contra a crescente sensação de que algo dentro dele o observava, algo que não pertencia a este mundo.

— E você, garoto? — perguntou Valerion, sua voz ressoando como uma ordem disfarçada de questionamento. — O que você sente?

Davi hesitou. Ele sabia que deveria dizer algo, mas não sabia como explicar o que estava acontecendo em sua mente. Desde que chegara, aquela presença dentro dele estava se fortalecendo. Não era apenas uma sensação vaga; era uma voz, um sussurro que vinha das profundezas do seu ser.

— Algo... algo me escolheu — ele finalmente disse, sem saber exatamente como aquelas palavras saíram de sua boca.

Ana Clara olhou para o irmão, surpresa. Era a primeira vez que ele falava sobre isso. O imperador, no entanto, manteve sua expressão neutra, como se estivesse esperando por mais.

— Algo? — Valerion arqueou uma sobrancelha, interessado. — Explique-se.

Davi respirou fundo, tentando organizar seus pensamentos.

— Desde que chegamos aqui, eu sinto... uma presença. Como se algo ou alguém estivesse comigo, me guiando. Não sei o que é, mas está ficando mais forte.

O imperador ficou em silêncio por alguns segundos, absorvendo as palavras de Davi. Então, ele deu um passo à frente, fazendo um gesto suave com a mão, e uma figura sombria emergiu das sombras ao lado do trono. Era um homem mais velho, com olhos quase completamente negros, envolto em mantos escuros que pareciam se fundir com o ambiente ao seu redor. Ele carregava um cajado em uma das mãos, adornado com símbolos brilhantes que mudavam de cor conforme ele se movia.

— Este é Nerith, o conselheiro real e um dos magos mais poderosos de Lysandra — apresentou Valerion. — Ele poderá ajudar a descobrir a natureza dessa presença.

Nerith aproximou-se de Davi com passos lentos, estudando-o com um olhar intenso. O garoto se sentiu desconfortável, mas manteve a calma. O mago estendeu sua mão ossuda, e, ao tocar o ombro de Davi, uma onda de energia percorreu seu corpo, fazendo seus músculos se retesarem e sua mente parecer abrir-se para algo maior.

Por um instante, os olhos de Nerith se fecharam, como se tentasse acessar algo profundo dentro de Davi. O silêncio no salão era quase palpável. Mas, de repente, a expressão do mago mudou. Ele abriu os olhos lentamente e se afastou de Davi, franzindo a testa.

— Não há nada — afirmou Nerith com um tom seco e decepcionado. — Nenhuma presença significativa dentro deste garoto.

O olhar de Valerion tornou-se frio. Ana Clara, ainda ao lado de Davi, olhou com preocupação para o irmão, mas ele sentiu o peso do julgamento em cada olhar que lhe foi lançado. Os cortesãos e guardas ao redor sussurravam entre si, seus olhares de desprezo fixos nele.

— Parece que você não carrega nenhuma benção relevante — disse Valerion, agora sem a mínima simpatia. — Um garoto comum.

Davi sentiu o peso da humilhação tomar conta de si. O que ele havia sentido todo esse tempo? Teria sido sua imaginação? Ou algo que nem mesmo Nerith poderia identificar? Ele tentou manter a calma, mas as palavras do imperador o feriram profundamente.

— Vamos testar o talento da garota — ordenou Valerion, ignorando completamente Davi.

Ana Clara, tentando esconder sua ansiedade, avançou para o centro da sala. O mesmo mago que havia analisado Davi se preparou para realizar o teste de talentos. Nerith invocou uma esfera de luz que flutuou sobre Ana Clara. Ela fechou os olhos, respirando fundo enquanto a luz pulsava ao redor dela, crescendo e se intensificando.

De repente, a luz brilhou de maneira explosiva, revelando chamas etéreas que envolviam Ana Clara. As chamas eram de um dourado profundo, dançando ao redor de seu corpo como se fossem uma extensão de sua alma. A aura ao redor dela era avassaladora, e o próprio chão parecia tremer com a manifestação de seu poder.

Nerith deu um passo para trás, os olhos arregalados de surpresa e reverência.

— Isso... isso é inacreditável — ele murmurou. — Ela possui o talento de Encarnação da Fênix... Rank SSS!

O salão explodiu em murmúrios e admiração. A Encarnação da Fênix era uma lenda, uma habilidade que somente os mais poderosos seres podiam alcançar. Valerion sorriu, satisfeito, enquanto observava Ana Clara ser envolvida pela aura poderosa de sua manifestação.

— Impressionante — disse o imperador. — A Encarnação da Fênix é rara e poderosa. Você, Ana Clara, tem um futuro grandioso à sua frente.

Enquanto todos olhavam para Ana Clara com respeito e reverência, Davi sentiu o peso do desprezo recaindo sobre ele com mais força. Ele sabia que era diferente, que sempre viveria à sombra da irmã, mas agora aquilo se tornava ainda mais evidente. Um talento Rank SSS para Ana Clara, enquanto ele... nada.

— E quanto a ele? — perguntou um dos conselheiros, referindo-se a Davi.

Nerith olhou para Davi com desinteresse. Ele ergueu a mão, e uma luz fraca surgiu sobre o garoto, mas não houve reação grandiosa como com Ana Clara. O silêncio no salão era constrangedor. Após alguns segundos, o mago abaixou a mão e balançou a cabeça.

— Afinidade com armas... Rank F — declarou Nerith, em tom indiferente. — Um talento tão baixo que mal merece ser mencionado.

O riso abafado dos cortesãos foi suficiente para encher o coração de Davi com frustração. Ele sabia que o talento com armas não era valorizado, não em um mundo onde magia e poderes sobrenaturais dominavam. O contraste com sua irmã era quase cruel.

Valerion, no entanto, manteve a postura séria.

— Ana Clara, sua presença será requerida em nossa corte para treinamento avançado — disse o imperador. — Quanto a você, Davi, seu talento pode ser inferior, mas ainda assim, há algo que podemos oferecer. Vocês dois irão começar a frequentar a Academia Imperial de Lysandra, a mais prestigiada do império.

Ana Clara olhou para o irmão com um misto de orgulho e preocupação, mas Davi não conseguiu esconder a sensação de ser invisível, de ser apenas uma sombra diante do brilho de sua irmã.

O que ele faria com um talento Rank F?

Entre Correntes e Espadas: Ecos dos poderososTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang