7. Desabafo

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Pov Ahyeon

- Precisamos conversar.. - Ela respondeu, sua voz tão baixa que eu mal consegui ouvir.

Meu coração disparou. O que poderia ser tão urgente? Quando chegamos em casa, Chiquita se dirigiu diretamente ao sofá e se sentou, olhando pela janela grande da sala, como se esperasse que o mundo lá fora oferecesse alguma resposta.

Preparei um chá quente, as folhas de erva-doce borbulhando na água, enquanto tentava organizar meus próprios pensamentos. Ao levar a xícara até ela, vi a tristeza refletida em seu rosto, como se a luz do sol não conseguisse penetrar a névoa que a envolvia.

Esse olhar cabisbaixo me preocupa,da última vez que a vi com essa expressão,tínhamos descoberto seu vício em drogas. Isso me deixa extremamente preocupada.

- Meu amor... - Eu disse, sentando-me ao seu lado. - Aqui, eu fiz um chá para você.

Ela virou a cabeça lentamente, aceitando a xícara, mas os olhos não brilhavam como costumavam. Havia um peso em seu olhar, algo que me dizia que as palavras que estavam por vir não seriam fáceis de ouvir.

Talvez por eu quase não ficar em casa, não percebi o quão abalada minha esposa está, e o quão sozinha ela deve se sentir nesse apartamento sem preto e branco, sem cores vibrantes. Naquela época apenas seguimos em frente sem conversar sobre o que aconteceu, decidimos ignorar nossos sentimentos e focar nas nossas carreiras, mas agora percebi, que isso não é importante hoje, e sim nossos sentimentos que ficaram guardados por anos.

- Eu... eu não consigo parar de pensar no que aconteceu hoje. - Ela começou, a voz embargada. - Na cena que vi... tudo me lembrou do dia em que perdi nosso bebê...

Um nó se formou na minha garganta. Eu sabia que Chiquita estava lutando contra os fantasmas do passado, mas ouvir isso dela me deixou sem palavras.

- Chiquita, você não precisa carregar isso sozinha, eu sei o quanto pode ser difícil falar abertamente sobre isso, mas lembra? Estou aqui para te ouvir sempre que quiser.

Ela soltou um suspiro pesado, e as lágrimas começaram a escorregar por seu rosto.

- Eu me sinto tão culpada. Como se tivesse falhado, como se tivesse feito algo de errado. Cada vez que olho para você, sinto que estou te decepcionando.

Eu queria abraçá-la, mas, ao mesmo tempo, queria que ela sentisse que não era a única a carregar esse fardo.

- Você não falhou. Eu também me sinto assim. Não foi culpa sua, e não é culpa minha. É algo que aconteceu, algo que estava além do nosso controle.

Ela olhou para mim, seus olhos cheios de dor e busca por compreensão.

- Mas a dor... é tão intensa. E a sensação de que poderia ter feito mais, que poderia ter sido diferente... isso não me deixa em paz... Se eu não.. - Eu a interrompi.

- Amor. - Eu disse, segurando sua mão com força. - A dor é real, e é válida. Mas precisamos encontrar uma maneira de lidar com isso juntas. Não podemos permitir que a culpa nos separe. Vamos nos lembrar do que temos, do amor que compartilhamos. Isso é o que importa agora. - Faço carinho na sua mão. - Talvez, não era pra ser naquele momento, podemos seguir em frente sem esquecer nosso bebê, ele nos dá força para continuar.

A conversa fluiu lentamente, como um rio que precisava ser desentupido, e embora soubesse que o caminho para a certeza seria longo, eu estou disposta a perder para ganhar minha esposa que antes vivia rindo e feliz por qualquer motivo.

- Não gosto de ver você assim... Fico preocupada. - Ela me olha.

- não precisa se preocupar, finalmente consegui falar o que sentia. - Ela sorri fraco me observando arrumar seu cabelo atrás da orelha. - E eu não vou deixar o vício tomar conta de mim.. Não mais.

Sintonia | Chiyeon G!POnde histórias criam vida. Descubra agora