10. Irmãos

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Cecília Bianchi Alencar.
Rio de Janeiro.

Rodrigo e eu sempre fomos próximos. Ele era meu herói, meu melhor amigo. Enquanto meu pai passava mais tempo no hospital do que em casa, Rodrigo era quem me distrai para não sentir a falta dele; 'Digo estava sempre lá comigo, me fazendo rir, me fazendo guerras de travesseiro durante a noite ou me contando histórias pra dormir. Me lembro de vezes ele segurar a minha mão até eu pegar no sono.

Lembro da casa na árvore na casa da vovó em Niterói, quando fizemos um juramento de sempre protejermos um ao outro.

E ele cumpriu, apanhando do nosso pai logo após eu derramar tinta na blusa dele e 'Digo assumir a culpa.

Lembro das más companhias de Rodrigo e como minha mae ficava preocupada quando ele saia e chegava tarde.

Lembro dele e meu pai decutindo porque o sonho do meu pai, era que Rodrigo fosse o médico da família. E Rodrigo queria seguir seus próprios sonhos, queria ser livre.

Lembro dele chegando até mim depois da discussão e dizendo.
" Ciça, quando for grande o bastante para escolher. Escolha ser feliz! " ele me dava aquela piscadinha sarcástica dele e me abraçava.

Ou quando ele me levou flores na escola no dia dos namorados, porque eu era uma das únicas que não recebiam.
Aquele dia foi uma loucura, Rodrigo sempre foi um galã entre as meninas.

Me lembro de novas discussões com meu Pai.
E me lembro dele arrumando a mala e indo embora.

Lembro de mim sentada na escada enquanto ele abria a porta, então ele olhou pra mim, uma última vez antes de ir mentia e disse :
" Ciça, eu nunca vou esquecer do nosso juramento "

Dois meses depois ele entrou em contanto com a gente, dizendo que estava nos Estados Unidos fazendo intercâmbio. Nos mandou fotos de lá, do frio e da nova namorada.

Um tempo se passou, e meus pais ainda tinham esperança dele aparecer, em algum feriado ou no Natal, a época mais esperada pela nossa família.

Mais Rodrigo não vinha, só mandava alguma mensagem, as vezes até um áudio e alguns cartões postais com Fotos.

Ele sempre mandava um separado pra mim, eu nunca li. Eu me sentia traída por ele, ele me deixou sem pestanejar. Me deixou com o peso das cobranças que antes eram direcionadas a ele, e diferente dele eu não poderia simplesmente pegar as malas e ir embora.

Me deixou com o fardo de cuidar dos caos da ida dele. Depois de um tempo, seu número passou a ser como qualquer outro na minha lista.

Quando a bomba sobre meu pai estourou, as acusações, a investigação, o sumiço dos remédios. Rodrigo não se manifestou, não respondia nossas mensagens. Nem mandava mais cartões postais.

Ver ele ali, na minha frente, depois de todos esses anos. Depois de todo o tempo que passou sem dizer se estava vivo, ou de ter se preocupado com a nossa família, eu tinha dois sentimentos andando lado a lado. A saudade é a mágoa.

— Eai irmãzinha? Não vai me dar um abraço?.

Eu fiquei sem reação, travada. Agora não de uma forma boa, de uma forma confusa.
Rodrigo percebeu meu estado momentâneo, e se aproximou de mim me dando um abraço.

— Me Desculpa Ciça. - ele me apertou um pouco mais. Eu ainda estava imóvel, agora sentindo uma lágrima escorrer pelo meu rosto.

Então é assim, se aparece depois de anos e pede desculpas? Como se fosse resolver tudo?!

— D-desculpa? desculpa Rodrigo? pelo que afinal?- minha única reação é afastá-lo enquanto sinto meu mundo desabar.

— Por ter ido embora. - eu vi os olhos delem marejarem também.

Por que não eu ? | CAPITÃO NASCIMENTO Onde histórias criam vida. Descubra agora