Sozinha.

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Tamaya

Senti a pulsação nas veias na lateral da minha cabeça, assim que me adentrei no lugar que Olívia havia me enviado por mensagem. Essa filha da puta deixou claro que as coisas poderiam piorar e eu não iria pagar para ver, não iria. Mesmo que isso fosse a pior decisão que houvesse tomado, não iria. Não após ver como minhas mães ficaram, não podia com isso.

Entro no galpão escuro, inalando o cheiro de esgoto que esse lugar horrendo possuía. Caminho pelo corredor que parece sem fim, mas que, ao mirar mais a frente, é possível ver uma porta fechada e toda enferrujada.

Dou passos lentos para tardar ao máximo em chegar, não sei o que essa louca da Olívia quer fazendo tudo isso, não consigo entender qual a lógica nisso tudo e muito menos consigo entender os reais motivos que ela pensa que fazendo isso conseguirá.

Ela havia me abandonado quando criança, então qual a razão dela me querer por perto agora? Por que depois de tanto tempo? Por que agora que pensei que poderia ser feliz? Por quê?

Sinto como o amargo surge em minha boca de novo, por entender que sim, eu estava me afundando mais uma vez, mais uma vez a vida estava encarregando de mostrar-me que eu não seria feliz como havia pensando.

Solto a respiração pesada, que sai por minhas narinas, sentindo o peso que esse respirar estava estancado dentro de mim, as mãos geladas pelo nervoso e um pouco de medo por não saber o que me esperava atrás daquela porta enferrujada. Mas mesmo assim, mesmo com medo, continuo a caminhar em sua direção, e quando percebo, vejo que cheguei e que sim, agora não tem volta, agora não tem como sair correndo e fingir que nada disso está acontecendo comigo.

Mordo o interior da minha bochecha, depois o meu lábio inferior, deixando que a boca ressecada fique mais machucada e deixando em amostra as peles por tanto puxá-las em seco.

Respiro mais profundo, mas sei que preciso entrar, sei que preciso enfrentar essa mulher de uma vez por todas, estufo meu peito para frente, colocando a mão na maçaneta, com as mãos geladas viro-a para abrir, e não demora para o barulho de ferrugem surgir ao meu movimento.

Xingo-me mentalmente, ao notar que meus movimentos são barulhentos e que já não tinha como fingir que não estava presente.

Ao abrir a porta, sou recebido por luzes amareladas, uma mesa com um notebook e uma cadeira vazia. O silêncio domina o amplo espaço. Fechando a porta lentamente, meu coração dispara, incerto do que me aguarda. Engulo em seco, com mais dificuldade do que antecipava, mantendo a fachada de controle, embora, no íntimo, eu soubesse que não estava tudo sob controle.

Deixo que o ar saia por minhas narinas, coloco minha mão na cintura, inspecionando todo o espaço que tem cheiro a ferrugem e esgoto. Olho para os lados e não encontro nada, caminho por todo o espaço e não encontro ninguém, o medo começa a fazer presença muito mais que antes, é ruim quando você não tem noção do que te espera, do silêncio que te consome e do cheiro a terror que todo esse espaço te coloca.

Dou alguns passos em direção à mesa, me sento sobre ela e verifico minha cintura, com a certeza de que sim, a arma está aqui, e se Olívia tentar qualquer coisa contra as minhas mães, eu a matarei. E só de pensar nessa hipótese, meu corpo estremece.

Eu não era nenhuma assassina, não era e não queria ser, mas por Lis e Margot eu poderia tudo, até mesmo de matá-la.

Semicerro os meus olhos em frente, perdida em todos os pensamentos que me consomem, deixo que todas as lembranças vividas no orfanato voltem a tona e me faça sentir mais ódio por Olívia, para que eu não tenha piedade ao atirar em sua direção e matá-la de uma vez por todas.

Odiosa fascinação [+18]Onde histórias criam vida. Descubra agora