33

91 10 6
                                    

33
CHRISTOPHER LUÍS VON UCKERMANN

Dias atuais

Chuto a cadeira, jogando-a do outro lado do salão e fazendo com que se choque contra a parede.

Nada.

Não temos porra nenhuma!

Somos a maior agência do mundo. A matriz das agências de segurança. A única que tem acesso a tecnologia usada pela CIA, M16, KGB e mais uma dezena de outros órgãos. A porra da agência superior.

E. Nós. Não. Temos. Nada.

Dulce foi levada há três dias e nas setenta e duas horas que se seguiram, muita coisa mudou, exceto pelo fato de que minha mulher continua desaparecida.

Todas as missões que envolviam os agentes da sede foram canceladas e, no mesmo dia, todo o efetivo estava aqui, pronto para se juntar à força tarefa criada para buscarmos por ela.

Os agentes supervisores estão cobrando todos os favores possíveis. Os agentes operacionais estão divididos em vasculhar câmeras, sites e ruas. Os agentes auxiliares estão a postos, prontos para serem úteis.

E mesmo com os melhores empenhados nisso, não temos nenhuma pista!

Assim como foi apagada da minha memória há alguns meses, ela parece ter sido apagada da face da Terra.

E isso, ao mesmo tempo em que me enfurece, me apavora.

Não há vestígios! Ninguém some sem deixar vestígios! Ninguém é levado sem deixar vestígios!

Volto a olhar para a tela do computador de Maite, observando-a invadir outro site da Dark Web, em busca de informações, apenas para mais uma vez não encontrar nada e me olhar, a culpa e o cansaço marcando suas feições.

– Sinto muito, Christopher.

Não mais do que eu.

Enquanto estava sem memória, me sentia culpado por ter esquecido de Maria, mas desde o segundo em que as lembranças retornaram, culpa não chega perto de descrever o sentimento que tenta impedir que eu respire.

Eu a esqueci.

Eu.Esqueci.Ela.

A parte mais importante da minha vida. A mulher por quem meu coração bate. A minha garota.

Eu a esqueci.

Eu olhei em seus olhos e disse que não a amava.

Eu quebrei seu coração de tantas maneiras, mesmo sem querer e ela... ela continuou esperando por mim. Ela continuou esperando que eu voltasse, mesmo se machucando, mesmo cansada, mesmo perto de desistir.

Dulce Maria não desistiu de mim nem mesmo quando foi embora.

Eu achava que sim, mas ao ver a forma como ela me olhou depois dos três meses afastada, eu soube que continuava me esperando. Em seus olhos, eu vi o mesmo pedido e pude ouvir sua voz ecoando em minha cabeça.

Lembre-se de mim.

E eu não consegui.

Eu não me lembrei dela até que foi arrancada de mim mais uma vez.

Ela foi levada.

Ela foi levada e eu ainda não a recuperei.

– Ok, vamos dar um tempo – Carl decreta, tocando no ombro de Maite, tranquilizando-a na mesma proporção em que me desespera.

AmnésiaOnde histórias criam vida. Descubra agora