Capítulo 11

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Depois dela eu nunca mais consegui frequentar os mesmos lugares. Parece que em todo lugar que eu ia, tinha alguma visão dela ali.

Não me sentei em um dos bancos do bar porque era o banco dela.

Rodeei o whisky no copo, enquanto não conseguia tirar aqueles olhos da cabeça.
Mesmo que já façam alguns meses.

— Não é? — Yamato me deu um cutucão.

Ergui a cabeça e os olhei, voltando para a realidade.

— Ele nem estava prestando atenção — Gai revirou os olhos.

— Depois da Rin, ele nunca mais prestou atenção em nada.

Dou um gole, grande demais e desce queimando.

— Kakashi tá apaixonado — Iruka rebate e o encaro seriamente.

— Desde sempre né? A gente sabe que desde cedo ele tinha uma atração pela Rin — Asuma concorda.

Bufo e balanço a cabeça em sinal de negação.

— Não, eu não tinha. Obito...

— Obito nada — Gai rebate — sinceramente, Kakashi. Rin não pertence a Obito ainda que ele estivesse vivo.

Eu sei que é errado, mas sempre tive esse sentimento de pertencimento.

— Mas você nunca deu valor aos sentimentos dela — Yamato apontou.

Pesei as mãos sobre a mesa e encarei os quatro.

— Isso é sério? Vão me acusar de partir corações?

— Bom... — Gai coçou a cabeça — literalmente você fez isso.

Bufei.
Dei mais um gole no whisky.

— Não sinto nada por Rin além de amizade.

— A quem você quer enganar? — Gai deu de ombros — todos sabemos que sua vida sempre foi a Rin, olha como você mudou desde que soube.

— Já perdeu anos, Kakashi. Vai perder mais alguns simplesmente porque não aceita o que sente?

Dei o último gole e deixei o copo sobre a mesa, me levantando.

— Vai chover.

Passei pela tenda e olhei para o céu, escuro, estrondoso, o vento gelado denunciando que, em menos de 30 minutos a água começaria a cair.

Mas eu precisava fazer uma coisa.

Arrastei uma marreta até o memorial de Rin e o encarei.
Por todas as vezes que estive aqui.
Todos os dias na minha vida por mais de dez anos.

Suspiro, miro exatamente em seu nome e acerto a lápide, destruindo-a, quebrando-a, porque ela ainda está aqui. Eu não a perdi.

Sinto o peso dos ombros se esvair novamente. É como se uma parcela da culpa se fosse de tempo em tempo.

Desvio o olhar dos destroços e sinto a primeira gota da chuva cair.
Tomo caminho para casa e me sinto em tremenda ansiedade.

Olho de relance para a casa de Rin, a casa que costumo evitar e parto do contrário dessa vez.

Tiro o molho de chaves do bolso e procuro a chave que guardei por tantos anos.

Seria de certo modo invasão de privacidade entrar aqui?

Passo a chave na fechadura e destranco a porta, entro e encosto a mesma.
Alguns lençóis cobrem os móveis empoeirados, dou uma olhada ao redor e vários flashbacks me vêm a tona, memórias de criança.

Abro a porta do quarto de Rin e sorrio com o estilo estampado e colorido, mas a cor predominante era roxo, sua cor favorita.

Meio frasco de perfume sobre a cômoda, os fios castanhos entre os dentes do pente, as bandanas sobre a cama, como se estivessem esperando por ela, mesmo que ela não fosse voltar.

Na parede, um tipo de mural de fotos, fotos do time, de Obito, Kushina, de seus pais... mas uma quantidade exorbitante de fotos minhas.

"Você nunca deu valor aos sentimentos dela."
"Kakashi, e quanto aos meus sentimentos?"

Fui um ignorante. Sempre fui uma criança ignorante e não foi muito diferente quando crescemos, sempre coloquei na minha cabeça que Obito tinha sentimentos por ela e eu não deveria interferir.

Abro a gaveta da cômoda, e vejo alguns papéis, papéis que começam com meu nome, como cartas escritas que não foram enviadas, que sequer foram terminadas.

"Querido Kakashi.
Meu coração está apertado, não posso dizer que está dividido, parece que sempre foi seu, mas"

"Querido Kakashi.
Não sei dizer quando a minha admiração por você virou amor, mas acho que faz tanto tempo que nem me lembro, eu"

"Querido Kakashi.
Sei que ainda somos jovens, e você não parece ser um homem que está disposto a abrir o seu coração, mas não sei por quanto tempo ainda suporto fingir que não sinto nada, eu gostaria que"

"Querido Kakashi.
Eu não me lembro como minha vida costumava a ser antes de você. Sequer sinto que um dia vivi.
Tenho tentado te dizer"

"Querido Kakashi.
Por que você não me ouve? Por que tende me condenar ao sofrimento? Meus sentimentos não são nada para você?"

Todas incompletas... todas dolorosas... todas tentativas de confessar sentimentos.

"Todos sabemos que a sua vida sempre foi a Rin, olha como você mudou desde que soube"

"Já perdeu anos, Kakashi. Vai perder mais alguns simplesmente porque não aceita o que sente?"

Droga Rin, estou tão confuso...

Suspiro e guardo tudo na gaveta, observo o quarto mais uma vez, retorno pelos corredores e tranco a porta da sala.
Abro o guarda-chuva mas ele é vencido pelo vento.
Como eu sou vencido pelos meus sentimentos, pelas minhas dúvidas.

Tomo caminho para casa, com pelo menos as calças molhadas no tornozelo, encosto o guarda-chuva na parede e largo minhas roupas no canto.

Subo para o quarto e tomo banho.

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Querida Rin

Seu retorno mudou muita coisa em minha vida, e uma delas foi o despertar de antigos sentimentos. Confesso que minha cabeça está uma bagunça, há um sentimento que diz que

Deixo a caneta cair da mão quando não encontro o pergaminho no quarto.
Desço as escadas e procuro pela sala, sinto um gelo no corpo quando não o encontro, vou para a cozinha.

Merda...
Não é possível que...

Vejo o balcão da cozinha completamente molhado, as cortinas esvoaçantes e me amaldiçoo por ter deixado a janela aberta, como pude?

Não, não...

Meu fôlego some, pego o pergaminho caído no chão, completamente molhado, o papel se desmancha como arroz.

Não, não não.

Tento dar um jeito, seguro-o com cuidado, mas ele está completamente aguado.

Quando tento salva-lo falho miseravelmente.

Sinto o desespero acelerar o coração, não posso perder esse pergaminho, não posso...

Perdi o único contato que tinha com Rin...

Eu e Esse Meu Coração 》Kakashi e RinOnde histórias criam vida. Descubra agora