Entre Correntes e Espadas: Ecos dos poderosos

Capítulo 7 - O Fogo Interior

O sol mal havia surgido quando Davi foi convocado novamente ao campo de treinamento, ainda imerso na adrenalina do dia anterior. A cada passo, ele lembrava da maneira como seu corpo parecia agir por conta própria, conduzido por algo mais profundo do que simples instinto. A presença da constelação misteriosa, oculta dentro dele, parecia observar cada movimento.

O campo de treinamento estava deserto, exceto por uma figura que aguardava de braços cruzados. Era o instrutor do dia anterior, agora com um olhar mais sério e intenso. Ao lado dele, uma série de armas estava disposta sobre uma mesa de pedra: espadas, lanças, machados, adagas e até mesmo um arco.

— Hoje, quero testar sua afinidade verdadeira — disse o instrutor, gesticulando para as armas. — Ontem, você me mostrou que não é tão simples quanto todos pensam. Agora, quero que escolha outra arma. Quero ver se sua habilidade é apenas com espadas ou se é algo maior.

Davi olhou para as armas, sentindo o peso da responsabilidade. Ele sabia que qualquer escolha errada poderia reforçar o desprezo que outros sentiam por ele, mas algo dentro dele, aquela voz distante, sussurrava confiança.

Ele se aproximou da mesa e passou os dedos por cada uma das armas, tentando sentir o mesmo "chamado" que sentira com a espada. Após alguns segundos, ele parou diante de uma lança. Sem pensar demais, agarrou o cabo firme e levantou-a. Assim que fez isso, o mesmo calor e familiaridade o inundaram. Era como se a lança fosse uma extensão de seu próprio corpo, tão natural quanto respirar.

O instrutor observou atentamente, uma expressão de curiosidade surgindo em seus olhos.

— Vamos ver como você se sai com isso — disse ele, apontando para um alvo de madeira no extremo oposto do campo.

Davi respirou fundo, ajustou a posição da lança em suas mãos e, em um movimento rápido e fluido, lançou a arma com toda sua força. A lança cortou o ar com um assobio agudo e se cravou no centro do alvo com um som seco e certeiro. O impacto fez o alvo balançar violentamente, e o silêncio que se seguiu foi interrompido apenas pelo assobio baixo do instrutor.

— Impressionante... — murmurou ele, aproximando-se do alvo para inspecionar o estrago. — Isso não é algo que se ensina. É puro talento.

Davi observava à distância, sentindo uma mistura de orgulho e alívio. Talvez, apenas talvez, ele tivesse algo mais do que uma simples afinidade de rank F. Mas antes que pudesse saborear a vitória, o instrutor virou-se para ele com um sorriso enigmático.

— Venha comigo. Há algo que você precisa ver.

Enquanto isso, Ana Clara estava na sala de estudos, cercada por livros antigos e pergaminhos que detalhavam a história das constelações e suas encarnações. Desde a descoberta de seu poder, ela sentia um peso maior sobre seus ombros. A Fênix era uma lenda, um poder que poucos no mundo podiam controlar, e os olhos de todos estavam sobre ela.

A pressão para se tornar a esperança de Lysandra era esmagadora, e embora ela não demonstrasse, sabia que estava sendo constantemente observada. Ana Clara fechou os olhos por um momento, tentando encontrar algum tipo de equilíbrio interno.

— Você parece preocupada, Ana Clara.

Ela se sobressaltou com a voz suave e conhecida. Era Nerith, o conselheiro real e o mago que havia tentado identificar a força em Davi. Ele estava parado à porta, observando-a com um olhar que parecia saber mais do que deveria.

— Não é fácil carregar um fardo tão grande, não é? — disse ele, aproximando-se lentamente.

Ana Clara suspirou, tentando manter a compostura.

— Estou me ajustando. Mas... é muita responsabilidade. Não só por mim, mas pelo meu irmão também.

Nerith assentiu, seu olhar escurecendo ligeiramente.

— Seu irmão... é um caso interessante, sem dúvida. — Ele se inclinou para mais perto, seus olhos profundos parecendo sondar a alma de Ana Clara. — Há mais em Davi do que aparenta, você sabe disso, não é?

Ana Clara olhou para ele, surpresa.

— O que quer dizer com isso?

Nerith sorriu enigmaticamente.

— Há segredos neste mundo que até mesmo as constelações escondem... E você também, Ana Clara. A Fênix é apenas o começo.

Antes que ela pudesse perguntar mais, Nerith desapareceu, suas palavras pairando no ar como uma profecia sombria. Ana Clara permaneceu parada, refletindo sobre o que ele havia dito, ela apertou com força a própria mão. Algo em suas palavras ressoou profundamente nela, como se uma verdade escondida estivesse prestes a emergir.

Davi seguiu o instrutor pelos corredores da academia, cada vez mais afastado do campo de treinamento até chegarem a uma porta de metal reforçado. O instrutor abriu a porta com um leve empurrão, revelando um grande salão subterrâneo. Dentro, havia uma série de alvos móveis, manequins de treino e outras estruturas que pareciam ser usadas para testes avançados.

— Este é o campo de treino especial, reservado para aqueles que mostram... promessas incomuns — disse o instrutor, fechando a porta atrás deles. — Eu nunca vi alguém com sua habilidade natural para manejar armas. Não importa o tipo, você parece dominá-las como se fossem feitas para você.

Davi ficou em silêncio, absorvendo cada palavra.

— Isso é algo raro, garoto. Sua afinidade pode ser classificada como F, mas o que você mostrou ontem e hoje me faz questionar essa avaliação. Você tem o que chamamos de "conexão oculta". Algo que vai além dos testes normais. — O instrutor caminhou até uma prateleira e pegou um par de adagas, jogando-as para Davi. — Vamos ver como você se sai com isso.

Davi pegou as adagas no ar, e, novamente, o calor familiar se espalhou por seu corpo. Ele ajustou o peso das lâminas em suas mãos, e antes que pudesse perceber, já estava girando e atacando com uma precisão quase assustadora. Suas mãos se moviam com uma velocidade impressionante, e em poucos segundos, ele havia destruído todos os alvos ao seu redor.

O instrutor assistiu em silêncio, seus olhos brilhando com uma mistura de espanto e curiosidade.

— Não sei o que há dentro de você, Davi, mas uma coisa é clara: você não é apenas um garoto com afinidade F. Há algo maior. Algo que precisamos explorar.

Davi respirou fundo, sentindo o suor escorrer por sua testa. Pela primeira vez, ele sentiu que não estava sozinho em sua luta para provar seu valor. Algo estava acordando dentro dele, algo poderoso e antigo.

— A partir de agora, você treinará aqui — disse o instrutor, quebrando o silêncio. — Longe dos olhos daqueles que não entendem o que você é. Aqui, você vai descobrir o verdadeiro potencial da sua habilidade.

Davi assentiu, sentindo uma nova determinação nascer dentro dele. Ele não sabia o que o futuro reservava, mas estava claro que sua jornada estava apenas começando.