Capítulo 9 - O Chamado da Forja

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O campo de treinamento era um vasto espaço cercado por altas muralhas, onde todos os alunos recém-chegados de Lysandra se reuniam para serem testados. A tensão era palpável. Embora todos soubessem da fama da academia, poucos estavam preparados para a realidade que os aguardava.

Davi estava entre eles, mas sua mente estava distante. As revelações sobre o poder avassalador de Ana Clara ainda ecoavam em seus pensamentos. Enquanto ela despertava o lendário poder da Fênix, ele havia sido marcado com o humilhante talento de Rank F – uma afinidade com armas que muitos consideravam inútil. Os olhares de desprezo e zombaria se multiplicavam ao seu redor, como se ele estivesse fadado a ser apenas uma sombra de sua irmã.

— Você vai conseguir, Davi? — a voz de Uriel soou ao seu lado. Seu único amigo parecia preocupado.

— Não sei... — Davi respondeu, com um tom hesitante. — Sinto que estou fora de lugar aqui.

Uriel, apesar de seu próprio talento misterioso ainda não ter se revelado completamente, era uma fonte de apoio para Davi. Ele tentou oferecer um sorriso encorajador.

— Talvez essa afinidade com armas seja mais do que parece.

Davi acenou, mas não acreditava muito nas próprias palavras. A verdade era que ele se sentia impotente, perdido em um mundo que parecia girar ao redor de poderes grandiosos e promessas de glória. Enquanto isso, ele era apenas... Davi, o garoto com o talento Rank F.

Os instrutores começaram a chamar os alunos, um a um, para os primeiros testes práticos. Davi observava, sua mente se afastando a cada demonstração de poder que via. Ana Clara, cercada por admiradores e olhares de admiração, estava em uma esfera completamente diferente da dele.

De repente, sentiu uma força desconhecida o puxando. Não era física, mas algo o chamava. Um sentimento profundo, quase ancestral, que ele não conseguia ignorar. Era a forja. A mesma forja secreta que ele havia descoberto, e que parecia sussurrar seu nome desde o momento em que ele colocou os pés ali.

Sem pensar duas vezes, Davi começou a caminhar para longe do campo de treinamento. Ele seguiu pelos corredores da academia, mantendo-se fora de vista. Seu coração batia mais rápido a cada passo, como se ele estivesse prestes a enfrentar algo muito maior do que qualquer combate no campo de treinamento.

Finalmente, ele chegou à porta da forja, escondida nos cantos mais obscuros da escola. Davi empurrou a pesada porta de ferro, que rangeu em protesto, e entrou no espaço familiar. O ar era quente, carregado com o cheiro de metal e brasas antigas. As paredes estavam cobertas de ferramentas, e no centro, a grande fornalha ainda brilhava levemente, como se estivesse à espera.

Ele se aproximou da fornalha, seu olhar fixo nas chamas fracas que ainda ardiam. Foi então que sentiu algo diferente. Um tremor no ar. Uma presença. Antes que pudesse entender o que estava acontecendo, uma voz ecoou dentro de sua mente.

— Finalmente... você veio.

Davi congelou, seus olhos se arregalando. A voz era grave, carregada de poder e sabedoria. Ele olhou ao redor, mas estava sozinho. O coração começou a bater mais rápido.

— Quem... quem está aí? — sua voz tremeu.

— Quem eu sou? Eu sou o ser incrível que te deu a oportunidade de estar dentro de você. Eu sou o Rei Ferreiro, aquele que forjava armas que moldavam destinos e mudavam o curso de batalhas. E você, Davi, é meu herdeiro.

Davi deu um passo para trás, tentando processar o que estava ouvindo. O Rei Ferreiro. O lendário ser cuja existência foi enterrada nas histórias antigas. Aquela mesma figura que, de alguma forma, residia dentro dele desde o momento em que chegaram a Lysandra.

— Você... você está dentro de mim? — ele perguntou, sua voz cheia de confusão e medo.

— Sim. Eu estou em você, garoto. E agora que o momento chegou, você precisa despertar o que está adormecido. Seu talento não é o que parece. O Rank F foi um erro dos mortais que não compreendem o verdadeiro poder. Você tem algo que ninguém mais neste mundo possui.

Davi ficou em silêncio, sua mente girando com a revelação. Ele não sabia se acreditava ou não. Tudo o que ouviu até aquele momento era que ele era fraco, sem valor.

— O que isso significa? — ele sussurrou, ainda em choque.

— Significa que sua habilidade com armas vai muito além do que esses tolos podem imaginar. Você tem o poder de moldar, forjar e despertar armas que possuem egos. Cada lâmina, cada arma que você criar, será uma extensão de seu poder. E, quando o tempo chegar, você poderá lutar de igual para igual com aqueles que agora te desprezam.

Davi olhou para suas mãos, tentando entender o que o Rei Ferreiro estava dizendo. Ele sempre soube que sentia uma conexão com armas, mas nunca havia imaginado que poderia ser algo tão profundo.

— Mas... como eu faço isso? — perguntou Davi, sentindo uma pequena chama de esperança se acender dentro de si.

— O tempo revelará. Agora, você precisa praticar. Essa forja, essa antiga câmara de criação, será seu santuário. Aqui, você irá treinar e forjar suas armas. Mas lembre-se, Davi, o poder que você busca não virá facilmente. Será necessário sacrifício, dedicação... e talvez algo mais sombrio.

O jovem ficou em silêncio, absorvendo as palavras. A chama na fornalha aumentou levemente, como se estivesse respondendo ao despertar da conexão entre ele e o Rei Ferreiro.

— Agora, comece — ordenou a voz. — Pegue o martelo. Comece sua jornada. E lembre-se, Davi, o poder que você deseja está ao alcance de suas mãos. Só depende de você forjá-lo.

Davi estendeu a mão, pegando o martelo de ferro pesado que estava pendurado na parede. Ele sentiu uma onda de energia percorrer seu corpo, como se o objeto reconhecesse sua alma. Com o martelo em mãos, ele se aproximou da bigorna e da fornalha.

A chama brilhou mais intensamente, e Davi, pela primeira vez, sentiu que estava exatamente onde deveria estar.

Entre Correntes e Espadas: Ecos dos poderososTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang