Na manhã seguinte à última vez que vi Helena, o pavoroso dia que jamais esquecerei, os sinais de que algo terrível estava por vir apareceram logo ao acordar. Despertei cedo, bem mais cedo do que uma criança costuma acordar, especialmente nas férias. Era por volta das cinco da manhã quando fui arrancado do sono por um aperto no peito. Não sou supersticioso, mas naquele momento, senti que algo estava errado. Calafrios percorriam meu corpo e um peso em minha mente fazia minha cabeça latejar.
Lembro-me de cada instante daquele maldito dia, desde o momento em que levantei da cama até me deparar com a cena que se repete em minha mente incessantemente. Como um filme de terror cujo final já se conhece, mas que ainda causa arrepios só de pensar na trama. A diferença é que meu caso é real, e o final em aberto me perturba mais do que qualquer outra coisa.
Lembro-me perfeitamente de pular da cama, ainda sonolento, de ir até a cozinha e encontrar meu pai de pé ao lado da mesa, minha mãe ao telefone, e sentado em uma cadeira, o pai de Helena.
Era costume da família de Helena ir à igreja nas manhãs de domingo, praticamente todos os domingos. Além disso, Helena dormia com frequência em minha casa, e eu na dela, razão pela qual seus pais não perceberam de imediato sua ausência. Esse fato, entre outros, faz com que eu nunca me perdoe pela morte de Helena.
A missa era cedo, e o pai dela queria que ela estivesse pronta antes que se atrasassem para sua prática religiosa. Por isso, ele veio à minha casa logo cedo e, assim, descobriu que ela não havia dormido lá. Quando cheguei à cozinha, o pai de Helena se levantou de um salto e veio em minha direção. Ao lembrar da cena, quase consigo sentir novamente suas mãos apertando meus ombros com força, seus olhos vermelhos de preocupação. Não o julgo, entendo seu desespero.
Expliquei-lhes tudo o que havia acontecido e, enquanto meu pai e o pai de Helena me repreendiam, minha mãe já havia ligado para a polícia. Não demorou muito até que eles chegassem. Eram apenas dois policiais: um baixo e acima do peso, e outro magro e alto, que parecia que seria levado pelo vento na próxima rajada. O mais baixo começou a fazer uma série de perguntas, a maioria desnecessárias. Ele falava arrastado e com falta de fôlego, parecia que teria um ataque de asma a qualquer momento.
— Qual foi a última vez que você a viu?
— Ontem à noite, no bosque.
— E desde quando ela está desaparecida?
— Desde ontem à noite.
— Tem ideia de onde ela pode estar?
Em determinado momento, o pai de Helena perdeu a paciência e disse:
— Acho que, se soubéssemos, não teríamos chamado esse par de mulas!
Nesse momento, o policial mais baixo ficou vermelho como um tomate, seus punhos se cerraram e seus dentes começaram a ranger. Mas antes que ele pudesse falar algo, o policial mais alto tomou a dianteira e disse:
— Me desculpem pelo meu parceiro. Sei que estão nervosos, qualquer um ficaria no lugar de vocês. Mas estamos aqui para ajudar, e faremos o possível para encontrar sua filha. Perdão pelos modos do meu companheiro. Meu nome é Roberto, e ele é o Edgar.
Todos na casa se apresentaram: meu pai, Marcus; minha mãe, Valquíria; e o pai de Helena, Raul.
Explicamos aos policiais tudo o que sabíamos, e fomos todos ao bosque, com exceção de minha mãe, que ficou em casa ligando para as famílias da vizinhança em busca de informações. Não havia muitos casos de desaparecimento na cidade e, diante da incerteza do que realmente havia acontecido com Helena e do fato de ela estar desaparecida há tão pouco tempo, os dois policiais eram tudo o que o departamento de polícia podia nos oferecer naquele momento.
Chegando ao bosque, eu os guiei até o ponto onde vi Helena pela última vez. Os adultos se dispersaram, cada um para um lado, e eu fui mandado pelo meu pai de volta para casa. Naquele momento, fiquei irritado. Eu queria ajudar, afinal, também estava preocupado com Helena. Mas era só o começo, e o pesadelo ainda estava por vir. Deveria ter ido para casa, mas minha teimosia não permitiu. Eu estava impaciente e, com exceção das ordens de Helena, eu raramente seguia ordens. Quando somos jovens, o orgulho é maior e a sensação de ser mais inteligente que os adultos também. Crianças são extremamente criativas, talvez até mais que os adultos, pois a imaginação infantil vai além. Mas os adultos têm mais experiência; os bons sabem distinguir o certo do errado, os tolos não têm discernimento, e os maus fazem o errado cientes de seus erros.
Quando saí do bosque, pensei comigo mesmo em lugares onde Helena poderia estar. Ela era bem mais responsável que eu e não sumiria sem motivo, muito menos sem dar explicações. Enquanto tentava pensar em algo que pudesse ajudar a encontrá-la, dirigi-me à grande árvore e me sentei no velho balanço de pneu.
Quando o universo quer, a desgraça não pode ser evitada. Cada mínimo detalhe se conecta como peças de um grande quebra-cabeças, para que o desastre aconteça. Hoje penso que, se tivesse ido direto para casa, se não tivesse sido eu a encontrá-la naquele estado, talvez eu sofresse sua perda, mas, com o tempo, lidasse melhor com isso. Mas não foi assim. Tinha que ser eu. O amaldiçoado pelo destino a encontrar aquela obra diabólica. Demônios existem e caminham entre nós, e o que os diferencia dos humanos são seus atos. Nenhum ser humano decente cometeria tamanha atrocidade.
Eu me balançava naquele pneu preso a uma velha corda, cada vez mais rápido, à medida que ficava mais ansioso. Até que a corda se rompeu e fui arremessado de costas no chão. No entanto, a dor da queda não foi nada comparada ao que estava por vir. Quando me ergui parcialmente, com os olhos voltados para a árvore, vi algo estranho no buraco do tronco.
Levantei-me e caminhei lentamente até a árvore. Quando me aproximei o suficiente, percebi que era um pé humano. O pé de uma criança. O pé de Helena.
Eu encontrei o corpo de Helena dentro do tronco da árvore. Ele havia sido colocado lá com tanta violência que vários ossos de seu corpo estavam quebrados. Lembro-me perfeitamente da cena que se repete constantemente em minha cabeça. Seu rosto estava virado para cima, com o maxilar completamente destroçado, a ponto de seu queixo pender da face. Seus braços e pernas estavam tortos, em uma posição impossível de ser mantida naturalmente. Suas roupas estavam completamente ensanguentadas, e vários hematomas cobriam o que restava de sua pele.
Ela estava irreconhecível para qualquer um que não fosse próximo dela. Mas eu era. Para mim, foi impossível não reconhecer seus olhos, que um dia foram brilhantes, agora implorando por ajuda — a ajuda que eu não pude dar.
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A Rua dos Vagalumes [ INCOMPLETO ]
Mistério / SuspenseEm uma rua onde a inocência das crianças se mistura à tranquilidade do cotidiano da cidade de Lagoa Verde, uma tragédia marca para sempre a vida do jovem Antônio. Durante uma inocente brincadeira de pique-esconde no bosque local, Helena, sua melhor...