Após o Funeral

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Lucas sabia que seria a última vez que entraria no apartamento de Jefferson. Visitaria aquele local de 60 metros quadrados mais uma vez, antes que os pais de seu ex-namorado levassem tudo.
As janelas estavam fechadas, o sol entrava por algumas frestas, mas deixava o ambiente escuro. Ele não abriu as janelas, a escuridão que tomava conta do local também tomava conta de seu coração.

Nunca em sua vida imaginou que “enterraria” um namorado, mas um telefonema de um número desconhecido na manhã anterior mudou o rumo de sua vida drasticamente. Uma voz informava que um caminhão passara por cima da moto de Jefferson. O acidente fora tão feio que o caixão estava fechado durante o velório. Lucas nunca mais veria o rosto de Jefferson e isso o destroçava internamente. Se soubesse que a última vez que o veris vivo seria na manhã de ontem, quando acordara para ir ao trabalho e Jefferson ficara dormindo, todo fofinho, agarrado ao travesseiro de mais de um metro, Lucas teria dado mais um beijo em seu namorado. Mas a despedida derradeira foi um tchauzinho e uma olhadinha para o namorado, que dormia inocentemente. Uma despedida esquecível e sem graça.

O apartamento escuro, silencioso e aconchegante parecia enorme sem a presença de Jefferson. Lucas foi ao banheiro e, ao ver as escovas de dente dos dois juntos, um choro alto e sofrido saiu de sua garganta. Foram apenas oito meses de namoro, mas foram os melhores oito meses dos 26 anos vividos por Lucas. Jefferson era um rapaz de 24 anos sempre sorridente, que amava a natureza, que estudava muito e se dedicava para ter um futuro melhor, futuro este que dolorosamente jamais viria.

Foram 20 minutos chorando enquanto olhava aquelas duas escovas de dentes, após isso, tomou um banho quente pela última vez naquele banheiro extremamente limpo e branco, colocou roupas confortáveis que Jefferson usava para dormir pela última vez e se deitou na cama desarrumada que o rapaz deixou antes de sua partida. Ao deitar sua cabeça no travesseiro, Lucas sentiu o cheiro de Jefferson. Aquele cheiro agradável de homem que emanava naquele colchão, somado às mais de vinte e quatro horas que Lucas não dormia, fez este cair no sono em poucos minutos.

Quando Lucas abriu os olhos. Escuridão total. Pegou seu celular que estava ao seu lado. 21h42. Ele não trabalharia no dia seguinte, estava dispensado do trabalho até a próxima Segunda-feira para se recuperar emocionalmente da perda. Muitas mensagens via WhatsApp chegaram e todas foram ignoradas pelo rapaz. Lucas precisava ficar sozinho, ali, para se despedir de seu amor. Ele se sentia inexplicavelmente vazio e pensar no futuro sem a presença de seu amor consigo o fazia sentir um grande desespero.

Um barulho vindo de dentro do guarda-roupa de Jefferson tirou Lucas de seus devaneios melancólicos, parecia ser uma vibração de celular, mas o celular de Jefferson havia sido esmagado junto com ele pela roda do caminhão. O pensamento de Jefferson esmagado por um caminhão deu um nó no peito de Lucas e, para evitar novamente o início de um choro não desejado, este foi em direção ao guarda-roupa para verificar o que estava fazendo esse barulho. O guarda-roupa tinha três portas, as duas que ficavam destrancadas e a que precisava ser sempre trancada, por não se manter fechada. Ele abriu as duas portas e não viu nenhum celular.

Outra vibração vinda exatamente da porta ao lado do guarda-roupa. Lucas levou a mão em direção a porta e a puxou. Trancada, como previsto.

Lucas e Jefferson estavam nus, deitados na cama, o clima estava quente e estavam prestes a transar pela primeira vez.

– Você tem camisinha? – Lucas perguntou com uma voz sussurrada, exalando tesão.

– Acho que tenho sim – Jefferson respondeu.

O rapaz acendeu a luz e foi em direção à gaveta de sua escrivaninha. Lucas observou o pau do rapaz que estava duro e apontava para cima, subindo e descendo conforme o caminhar do dono. Jefferson procurou na gaveta da escrivaninha e não encontrou nada, correu para o guarda-roupa, abriu as duas portas e remexeu nas coisas que haviam lá dentro.

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