7- Linguagem de amor.

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Pov Hande

Depois do cinema, quando saímos, parecia que o universo tinha decidido criar o cenário perfeito. A chuva torrencial caía sem parar, e nós estávamos presas no carro, olhando o vidro embaçado e a tempestade do lado de fora. Eu estava no banco do motorista, mexendo no rádio enquanto Tijana, toda tímida, olhava pela janela, desconfortável com a situação.

— Hande, por favor... — Tijana disse, com uma voz suave mas carregada de seriedade. — Se você colocar Chris Brown pra tocar, eu juro que não vou responder por mim.

Eu ri, me divertindo com o drama dela. Tijana sempre implicava com minhas músicas, mas isso era parte do que fazia nossos momentos juntas tão especiais. Ela era tímida, discreta, mas estar comigo parecia despertar algo diferente nela.

— Ok, ok, sem Chris Brown hoje — respondi, rindo e tentando escolher outra coisa, enquanto ela me lançava um olhar de alívio.

A chuva batia forte no teto do carro, e, por um momento, o silêncio entre nós parecia mais significativo do que qualquer palavra. Olhei para ela e, sem pensar muito, levantei a mão para ajeitar uma mecha de cabelo que havia caído no rosto dela, colocando-a atrás da sua orelha. Foi um gesto simples, mas algo naquele toque parecia carregar um peso que eu ainda não entendia completamente.

Tijana ficou imóvel, prendendo a respiração por um instante. Seus olhos fixaram-se nos meus, e senti como se uma energia invisível tivesse preenchido o ar ao nosso redor. Era um daqueles momentos em que você sabe que algo está mudando, mas não consegue exatamente explicar o que.

— Você precisa conhecer a Lego House aqui em Istambul — eu disse, tentando aliviar a tensão, um sorriso brincando nos meus lábios. — Sério, Tica. Você ama essas coisas nerds, ia adorar.

Tijana sorriu, mas era aquele sorriso tímido, que ela reservava para quando não sabia como reagir. Ela respirou fundo, soltando o ar lentamente, enquanto a chuva continuava a cair, criando uma barreira invisível entre nós e o resto do mundo.

— Hande... você... você é... — ela começou, mas parecia não conseguir completar a frase. Era como se algo estivesse preso dentro dela, algo que ela ainda não sabia como expressar.

Eu fiquei feliz. Felicidade genuína de estar ali, presa com ela no carro, em meio a uma tempestade, com nada além do som da chuva e nossos corações batendo no mesmo ritmo.

— Sou o quê? — perguntei, provocando levemente, sabendo que provavelmente ela não completaria a frase.

— Nada — ela respondeu, virando o rosto novamente para a janela, mas eu sabia que havia algo ali, escondido entre as palavras não ditas e os olhares trocados.

E, naquele momento, percebi que não importava tanto o que ela dizia ou deixava de dizer. O mais importante era que estávamos ali, juntas. Talvez isso fosse o bastante por enquanto.

A chuva continuava a bater com força contra o carro, como se o mundo lá fora não existisse. O som do temporal era quase hipnotizante, e o silêncio entre nós ficava mais denso, carregado de algo que eu não sabia nomear. Eu me mexi um pouco no banco, tentando aliviar a tensão. Tijana estava ao meu lado, rígida como uma estátua, a testa levemente franzida, e eu não sabia se era por causa da tempestade ou... bom, talvez fosse por causa de mim.

Eu tentei quebrar o gelo de novo, me virando para ela com um sorriso suave.

— Quando sairmos daqui, sério, eu vou te levar à Lego House. Você mora em Istambul há quase dez anos e ainda não foi? Tica, isso é praticamente um crime! — brinquei, querendo puxar assunto. Ela mexeu os lábios, mas parecia estar escolhendo as palavras com tanto cuidado que quase dava para ver o esforço.

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