Capítulo 12 - Memórias da espada

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O som abafado da fornalha havia se acalmado, deixando apenas o crepitar suave das brasas no fundo do forno. Davi, agora com uma adaga em mãos, observava a lâmina com um misto de orgulho e curiosidade. Aquela adaga era sua segunda arma — era uma extensão dele, uma peça viva e pulsante, e, ele sabia que era apenas o começo.

Davi então começou a organizar o espaço ao redor. O chão de pedra estava coberto por restos de metal, cinzas e fuligem. Seu corpo ainda estava exausto da sessão de criação, mas sua mente estava alerta, desperta como nunca antes.

Enquanto recolhia algumas peças e limpava a mesa de trabalho, ele não podia deixar de conversar com Kaelion, o Rei Ferreiro, que agora parecia mais presente, sua voz ecoando constantemente em sua mente.

— Então... existe um propósito por trás de cada arma, hein? — Davi começou, tentando entender melhor as implicações do que havia aprendido.

— Exatamente. Cada arma carrega uma intenção. Uma arma sem propósito é apenas metal. Mas uma arma forjada com um objetivo claro... essa é perigosa — Kaelion respondeu, sua voz grave ressoando com sabedoria ancestral.

Davi assentiu, limpando uma das bigornas antigas no canto da forja. Seu corpo, apesar de exausto, parecia mais leve após criar Voraz, como se um fardo que ele nem sabia carregar tivesse sido aliviado. Enquanto se organizava, seus olhos caíram sobre uma espada velha e enferrujada encostada em uma prateleira no fundo da sala.

— O que é isso? — Davi murmurou, aproximando-se da lâmina. Ela estava completamente coberta de poeira, metal opaco e corroído pelo tempo.

Ele pegou com cuidado, e no momento em que seus dedos tocaram o cabo, uma onda de informações explodiu em sua mente. Imagens de batalhas ferozes inundaram sua consciência — guerreiros em armaduras pesadas, movimentos precisos de combate, estratégias planejadas de luta. Era como se ele estivesse vivendo a cada momento, sentindo a adrenalina, o desespero, e a maestria de um guerreiro antigo.

Davi ofegou, seus joelhos quase cedendo sob o impacto das memórias. Ele podia sentir cada golpe da espada, cada movimento do corpo do guerreiro. Mas o que mais o impressionou foi deixar claro que ele compreendia aquelas artes marciais, como se já tivesse praticado durante toda a sua vida.

— O que... o que está acontecendo? — Davi disse, ofegante, tentando se manter de pé.

Kaelion permaneceu em silêncio por alguns instantes, claramente surpreso com o que estava acontecendo. Sua voz, quando finalmente voltei ao ecoar, estava compartilhando descrição e curiosidade.

— Isso... isso é impossível. Essas são memórias antigas, garoto. Artes marciais que o portador dessa espada dominou durante toda a sua vida. Mas como você está absorvendo isso? Como você pode entender essas técnicas tão bem?

Davi sentiu as imagens ainda fluindo, cada movimento de combate sendo assimilado por seu corpo. Instintivamente, ele soltou a espada e assumiu a postura que havia visto nas memórias. Com um movimento rápido, tentei replicar um dos golpes que havia testemunhado, girando com a precisão que parecia além de sua habilidade. Mas seu corpo, não acostumado com aquele nível de esforço, reagiu com dor instantânea. Suas pernas tremeram, e ele caiu de joelhos, exausto e suando.

— Ugh... isso é... intenso... — ele murmurou, uma respiração pesada, enquanto sua visão se embaçava pela fadiga.

— Você é mais talentoso e sortudo do que eu imaginava, garoto. — Kaelion falou, agora mais calmo, embora claramente intrigado. — Essa habilidade... nunca soube que você a possuía. E absorver essas memórias... você não deveria ser capaz de fazer isso com tanta facilidade.

— O que... isso significa? — Davi perguntou, tentando recuperar o fôlego. Seu corpo estava exausto, mas sua mente estava queimando com curiosidade e determinação.

— Significa que você tem um talento natural para aprender através das armas. Essa espada... você não só viu as memórias do antigo guerreiro, mas também assimilou suas técnicas. No entanto... — Kaelion fez uma pausa, como se estivesse ponderando. — Seu corpo não está pronto. Você ainda não tem o físico necessário para executar essas técnicas com perfeição. O homem que você viu nas memórias passou anos, talvez décadas, aperfeiçoando seu corpo e suas habilidades. Mas isso é algo que podemos concordar.

Davi declarou-se, embora ainda estivesse cansado, e olhou para suas mãos, sentindo o peso do que acabara de experimentar. Ele havia aprendido aquelas técnicas em questão de segundos, mas a demonstração que aquilo causava mostrava que ainda estava longe de dominá-las por completo.

— Então, o que eu preciso fazer? — ele disse, já sabendo a resposta, mas querendo ouvir a confirmação de Kaelion.

— Você vai treinar até seu corpo se adequar ao que sua mente já entende. Vai ultrapassar seus limites físicos até que se tornem tão refinados quanto as lâminas que você forjar. — A voz de Kaelion era firme, quase severa. — E isso não será fácil. Vai exigir que você lute contra o próprio corpo, até que ele esteja à altura do poder que você absorveu.

Davi atual, sua determinação crescendo dentro dele. Ele sabia que o caminho a ser escolhido — ou que seria imposto — não seria fácil. Mas, após experimentar a sensação de poder fluir através dele, senti que não tinha outra escolha.

— Se quiser dominar essas técnicas — Kaelion continuou —, você precisará treinar até sentir que está à beira da morte. Não há atalhos, Davi. Só trabalho duro e sacrifício. E se você realmente quiser alcançar o nível daqueles que viu nas memórias... você precisará estar disposto a perder tudo, até mesmo sua vida.

Davi olhou para a espada velha, agora em suas mãos novamente. Ela parecia simples e sem valor à primeira vista, mas carregava séculos de conhecimento. Seu corpo estava exausto, mas sua mente estava decidida.

— Estou pronto, Kaelion — ele disse, sua voz firme. — Pronto para forjar meu próprio destino.

Entre Correntes e Espadas: Ecos dos poderososTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang