Entrega Especial para Caio

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Hoje é apenas mais um dia normal na minha vida monótona, acordando com o alarme do meu celular enquanto a luz quente do sol passa pela minha janela e chega até meu rosto, atravessando as cortinas e fazendo meus olhos cansados despertarem. Como um reflexo padrão, movo minha mão até a pequena gaveta do lado de minha cama e pego meu celular, desligando o alarme e me sentando na beirada da cama enquanto coço os olhos e observo o horizonte dourado da manhã na janela. Ao checar meu celular novamente percebo diversas notificações, dentre elas mensagens, vagas de emprego, recomendações de vídeos ou apenas “spams” aleatórios no meu e-mail, contudo uma mensagem em particular havia chamado minha atenção naquela plena manhã, uma mensagem de Dylan, um velho amigo que não vejo a tempos desde o fim da faculdade e curioso decido ver o motivo pelo qual o mesmo tenha me contatado e vejo uma mensagem básica de “oi, como está?”, sem muito exitar eu logo o respondo de maneira direta “Olá, há quanto tempo, eu estou bem, espero que esteja bem também” uma mensagem não muito elaborada, mas direta que ao reparar melhor vejo que quando ele havia me mandado tal mensagem ainda era há duas horas e ao ver que minha mensagem não havia sido visualizada de imediato decido levantar e continuar o meu dia.
A manhã se passa como qualquer outra, tomando apenas um café pela manhã enquanto leio um livro de ficção científica para acordar a mente, mas logo minha leitura é interrompida por uma ligação em meu telefone que, ao checar, vejo que era Dylan, então resolvo atender:

— Dylan? É você? — pergunto obviamente já sabendo da resposta.
— Sim, sou eu, Caio, há quanto tempo a gente não se fala — ele dizia do outro lado da chamada com um tom animado de sempre — faz bastante tempo desde a faculdade.
— Com certeza faz, muita coisa deve ter mudado, mas você ainda continua livre ou já foi preso por fraude fiscal já? — eu perguntava em um tom cômico, lembrando dos tempos de comédia que tive com ele.
— Qual é, você sabe que eu sempre fui bom com negócios, eu nunca ia ser preso por algo desse nível — ele me respondia com sua risada característica.
— Melhor prevenir do que remediar, você sempre foi bom até demais em ganhar dinheiro — eu retrucava com uma voz animada, apesar do claro tom de sono em minha fala — Enfim, precisa de algo, cara?
— Na verdade, sim, eu sei que a gente não se falou mais desde a faculdade, mas preciso de um favorzinho seu agora.
— Eu ajudo como puder, de que favor precisa? — Dylan nunca foi de pedir favores, o que me fez ficar com uma pulga atrás da orelha, mas ainda assim decidi saber o que ele queria.
— Então, sabe os demi-humanos?
— Sei, por que a pergunta?

demi-humanos, sempre achei a maioria incríveis com sua aparência e também estranho como todos tratam os demi-humanos com tamanha indiferença e até mesmo preconceito, mas por que será que ele está me perguntando sobre isso?

— Bem, eu comprei uma demi-humana recentemente, o nome dela é Morgana, ela é uma demi-humana gato, ela tem se comportado muito bem, mas estou com um problema aqui.
— Um problema? — Eu questiono, surpreso, por conta da nova informação que eu acabava de descobrir sobre ele.
— Sim, eu vou viajar por alguns dias, talvez meses e não tenho ninguém de confiança para ficar com ela, e sabe como é, eu prefiro não confiar tudo 100% nela.
— Entendo… — Eu não conseguia entender o motivo de ele estar me contando isso, mas eu o julgava silenciosamente por ele não conseguir confiar em alguém pelo simples motivo de ser uma raça diferente — Mas onde eu me encaixo nessa conversa?
— Isso é bem simples, como vou ficar fora, e você é a única amizade próxima a qual eu ainda tenho o mínimo de contato, eu queria te perguntar se você não pode cuidar dela enquanto eu estou fora.
— O quê? — Meus olhos se arregalaram enquanto eu me surpreendia com a situação. Eu esperava por muitas coisas acontecerem hoje, mas essa com certeza não estava dentre elas — Mas como eu ia fazer isso?
— Não se preocupe, ela é bem comportada, ela não vai te fazer mal algum, e se o problema for dinheiro, só precisa pedir quando necessário e eu mando o quanto precisar para as despesas dela aí, eu sei que você dá conta.

Eu suspirava pensando profundamente em como a rotina dos meus próximos dias iria virar de cabeça para baixo com uma nova pessoa na minha casa, mas apesar de tudo, eu não poderia negar, ainda mais sabendo que eu poderia ganhar um pouco de dinheiro no assunto, então eu o respondo:

— Tá bom, por mim, tudo bem, eu cuido dela enquanto você tá fora.
— Ah é cara! Valeu, eu realmente te devo uma depois dessa.
— Me poupe dos elogios, mas quando ela chega?
— Ela deve chegar aí hoje mesmo no final da tarde, ela já vai levar as coisas dela também, então não se preocupe.
— Ok, mas era só essa bomba de responsabilidade que você tinha para jogar em mim mesmo? — pergunto sarcasticamente.
— Sim, era só isso mesmo, desculpa por te incomodar assim de repente, é que eu realmente precisava desse favor.
— Tá de boa, só lembra de mandar o dinheiro para pagar as coisas dela.
— Tudo bem, você sabe que eu nunca fui do tipo devedor, enfim, eu já tenho que arrumar para ir para minha viagem, então se cuida! Boa sorte!
— Tchau, não vai ser preso aí também.

Então, a ligação acaba e eu, ainda sentado na cozinha, apenas apoio meu celular na mesa e olho para o teto, pensando em como tudo acabou de virar de cabeça para baixo.
Bem mais tarde naquele dia, durante o entardecer alaranjado eu estava na sala, esperando a minha “encomenda” chegar enquanto vários pensamentos se passavam pela minha cabeça de como eu que lidaria com a nova pessoa na minha casa, mas logo meus pensamentos são interrompidos pelo barulho da campainha que anunciava o motivo de minha ansiedade, então vou até a porta, pronto para receber a aguardada “convidada”. Ao abrir a porta, eu era agraciado com uma visão que poderia ser dita como primorosa, uma garota de estatura baixa, cabelos castanhos lisos que chegavam até o pescoço junto à cauda e as orelhas de gato características de sua espécie. Ela tinha olhos dourados como o mais puro ouro, mas que tinham uma leve intenção de preocupação em seu semblante enquanto desajeitadamente arrumava seus óculos redondos e logo me fazia uma pergunta com uma voz suave com tom de ternura enquanto segurava uma mala:

— Você é o Caio?
— Sou sim, você deve ser a Morgana, né? — Eu a questionava enquanto involuntariamente eu já saia de frente da porta para que ela pudesse entrar.
— Sim, o Dylan disse que era pra eu ficar aqui, desculpe qualquer incômodo, eu prometo não fazer nada de errado — Ela já se desculpava mesmo por não fazer absolutamente nada e, mesmo com a passagem aberta para ela entrar, ela parecia recuar da decisão.
— Não se preocupe, eu só tô fazendo um favor, pode entrar, sinta-se a vontade — Eu saia da porta convidando-a a entrar, sabendo que caso não fizesse isto, ela poderia ficar na porta o resto do dia.
— Obrigado, senhor Caio — ela entrava, fazendo questão de limpar os pés no tapete da porta para não sujar e me chamando de maneira formal, o que me causou certa estranheza, mas decidi ignorar por aquele momento.

No momento em que ela entrou, havia instaurado-se um silêncio desconfortável entre nós, comigo não sabendo como iniciar uma conversa com uma desconhecida e ela com um claro receio de falar qualquer coisa, por que tanto medo de simplesmente falar? Imagino que seja só uma timidez, mas espero que não tenha a deixado desconfortável.
Com um suspiro leve, eu me viro para Morgana, que ainda estava paralisada próxima à porta enquanto segurava sua mala e com uma pequena mochila nas costas, agora mais visível, e faço uma tentativa de interação:

— Bem, você pode dormir no quarto de visitas, é no segundo andar, virando o corredor do banheiro, ok?

No momento em que eu explicava onde ela teria que ficar, eu via os olhos dela se arregalarem levemente e logo uma pergunta saia de sua boca:

— Um quarto? Só para mim? Não precisa disso, eu posso ficar no sofá ou no chão se quiser

Ficar no chão? Naquele momento, era eu quem estava surpreso ali, ela estava acostumada com esse tipo de tratamento ou era algo padrão? Apesar de minha curiosidade, decido evitar fazer perguntas tão pessoais por agora e apenas a respondo:

— Sim, não se preocupa ele tá limpo, eu já deixei ele pronto para você, você só precisa preparar suas coisas e bem, ficar lá, a casa tá livre para você explorar aliás — quando eu a respondia, o semblante de surpresa no rosto dela só aumentava, claramente não estando acostumada com esse tipo de coisa.
— T-tudo bem, se você diz, então eu fico no quarto… — ela falava em um tom baixo e logo subia as escadas para ir ao novo quarto dela, mas não antes de dar um último agradecimento.

Após ela terminar de subir as escadas e ouvir o barulho da porta do quarto abrindo, eu me sento no sofá, olhando pela janela pensando em como agora tenho uma nova “colega de quarto” e que talvez isso tudo possa ser até divertido, contudo não posso deixar de notar que ela age meio estranho, apenas espero que eu não tenha a causado nenhum desconforto.

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⏰ Última atualização: Oct 02 ⏰

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