❝ capítulo único - ˖ Oh, Borboletas ❥

12 4 0
                                    

Outra vez sozinho com minha única companhia, eu. Andando por todos aqueles lugares que conhecemos, nos conhecemos. Um passo após outro, o tempo nunca esteve ao meu favor, mas talvez eu consiga. Sem apostas, sem esperança, sem sorte; Quem sabe eu escape do poço.


Músicas aos ouvidos, mãos aos bolsos, pés ao chão. Andando, sem parar, sem esquecer, revendo toda a história. Encarando os céus que me cegam com as luzes do sol que um dia nos banhou juntos, mesmo local e posição que maravilhas aconteceram. Um dia. Hoje, presencio a sós, me banho a sós, sorrio a sós.


Na lanchonete, bebi um café quente, buscando apaziguar o anseio, há poucos metros de você. As borboletas, ah, borboletas... Na ponte, escorado, tomando o ar, o anseio. Na frente do shopping, o anseio. E cá estou, encarando a frente, onde estivemos. Só. Não mais anseio, oh, anseio.


O coração aperta novamente, a garganta outra vez seca. Minhas pernas tremem a cada passo. Cada cenário um novo flash, meus olhos vêem, como se fossem fotos, o nosso dia. Inalcançável, não palpável; estou suando. Claro, é verão, mas não é o calor que me derrete. Meu corpo não responde.


Quem diria, então, que meu maior medo seriam as lembranças? De tantas e tantas ameaças, lembrar de tudo que me completou e, lamentavelmente, saber que, agora, está tudo encravado na rocha impenetrável do tempo.


Enfim, sento. No mesmo banco que nos sentamos. O anseio e as borboletas, agora mortas e decompostas, já não são o que mexe comigo. Meu peito aperta, estou sufocando mais uma vez. Maldito coração. Nenhum abraço, um conforto, um sorriso, acalento, nada. Somente eu. Não valeu a pena você me esperar.


Um susto acelera os batimentos, meus olhos hesitam, e todas minhas células imploram, torcendo, você, eu, lá. E enfim, corajoso, olhava ao lado meu, buscando, contendo. Alarme falso. Óbvio. Tudo que eu poderia ver agora seria o passado. Sozinho. Não estamos mais aqui, você não está aqui. E me levanto, e ando. E fujo. E corro. Corro de onde um dia estivemos, não poderia aguentar nem mais um segundo.


Trégua. Eu não posso mais, não consigo mais. Imploro, suplico. De joelhos à o que quer que esteja no comando; essas consequências, eu não posso arcar. Nem que seja um minuto, um dia, um mês, tudo que preciso é não mais sentir. Não mais lembrar, não mais amar, não mais odiar, não mais humano. Não mais.


Mas nunca darão trégua. Então, cá estamos. Eu e minha alma vagando por este pôr alaranjado, voltando para o refúgio. Pelo caminho que nós também trilhamos, aquelas barraquinhas, aqueles restaurantes, os prédios gigantes. Isso é uma droga.


Eu nunca escapei.

Nosso Primeiro LugarOnde histórias criam vida. Descubra agora