Entre a vida e a Culpa

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O silêncio no corredor do hospital era sufocante. Valentina, ainda atordoada pelas palavras do médico, mal conseguia respirar direito. As horas que passariam a seguir seriam decisivas, mas, para ela, cada segundo parecia uma eternidade. Luiza estava na UTI, lutando pela vida, e tudo o que Valentina podia fazer era esperar — e lidar com o peso esmagador da culpa que a sufocava.

Duda e Igor estavam ao lado dela, tentando manter a calma, mas também estavam devastados. Duda, com os olhos vermelhos de tanto chorar, sussurrou para si mesma: "Isso não podia ter acontecido... ela não pode nos deixar assim."

Igor, de pé ao lado da irmã, apertou os ombros dela, tentando oferecer algum tipo de conforto, mesmo sem saber como. "Val, nós vamos passar por isso. A Luiza é forte."

Valentina, com a cabeça enterrada nas mãos, soluçava sem controle. "Igor... ela se jogou na minha frente. Era para ser eu... era para ser comigo. E agora... e se ela não..." Ela não conseguiu completar a frase, as palavras simplesmente se recusavam a sair.

Duda, tentando se manter firme, aproximou-se de Valentina e ajoelhou-se na frente dela, segurando suas mãos trêmulas. "Val, escuta. A Luiza ama você. Ela fez isso porque te ama, porque faria qualquer coisa para te proteger. Agora, ela precisa que você seja forte, assim como ela foi. Ela precisa de você ao lado dela quando acordar. E ela *vai* acordar."

Valentina olhou para Duda, os olhos brilhando com lágrimas, mas a incerteza era evidente. "E se... e se ela não acordar, Duda? Como eu vou viver sabendo que isso foi por minha causa?"

Antes que pudessem continuar a conversa, os pais de Luiza, Augusto e Sônia, chegaram correndo pelo corredor. O rosto deles estava pálido, os olhos arregalados de puro pavor. Assim que D. Sônia viu Valentina, correu até ela e, sem dizer nada, a abraçou forte.

"Onde está minha filha? Como ela está?" Augusto perguntou, com a voz trêmula.

Duda se levantou e tentou explicar a situação o melhor que pôde. "Ela está na UTI. O médico disse que sofreu um traumatismo craniano e precisa ficar em observação nas próximas horas. Ele disse que... que as próximas horas serão decisivas."

D. Sônia segurou o braço do marido, os olhos marejados de lágrimas. "Minha menina... minha pequena... Como isso foi acontecer?"

Valentina, vendo o desespero nos olhos dos pais de Luiza, sentiu um peso ainda maior em seu peito. "Foi minha culpa, dona Sônia... Eu não vi o carro a tempo. Era para ser comigo, mas a Luiza... ela se jogou na minha frente." Sua voz se quebrou, e as lágrimas voltaram a escorrer pelo rosto.

D. Sônia, ainda de coração partido, sacudiu a cabeça. "Não, Valentina. Não foi sua culpa. Ninguém poderia prever isso. A Luiza é sua amiga... e ela sempre protegeria você, do jeito que você também faria por ela."

Augusto, tentando manter a calma para a esposa, suspirou profundamente. "Precisamos ter fé que ela vai sair dessa. A Luiza é forte. Ela vai lutar."

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**Enquanto isso, do outro lado da cidade...**

Dany estava em um bar, esperando por notícias do "acidente". Ela estava tranquila, certa de que tudo havia saído como planejado. Valentina levaria um susto, e isso causaria uma tensão inevitável entre ela e Luiza. Com sorte, Luiza começaria a ver Valentina como uma fonte de perigo, alguém que traz problemas, e as coisas desmoronariam naturalmente.

Bruna, no entanto, estava inquieta. Sentada ao lado de Dany, ela mal conseguia se concentrar em qualquer coisa. "Dany, e se algo deu errado? Você não deveria ter feito isso. Eu te disse que não queria que ela se machucasse."

Dany deu um gole na bebida e revirou os olhos. "Bruna, relaxa. Já te disse, era só um susto. Nada de mais."

Mas antes que Bruna pudesse responder, o telefone de Dany tocou. Era o número do motorista que ela havia contratado. Dany atendeu com um sorriso confiante no rosto. "Então, tudo certo?"

Do outro lado da linha, a voz do homem estava tensa. "Dany... acho que a coisa saiu de controle. Não foi a Valentina que eu acertei... foi outra garota. E parece que ela está mal. Eu tive que fugir."

O sorriso de Dany desapareceu imediatamente. "O quê? Como assim, *outra* garota? Quem foi que você acertou?"

"Não sei, mas ela se jogou na frente da Valentina. Eu não consegui ver muito, mas acho que é grave. Tô fora. Isso já deu problema demais." O homem desligou o telefone antes que Dany pudesse dizer qualquer coisa.

Bruna, vendo o pânico no rosto de Dany, sentiu o estômago afundar. "O que foi? O que aconteceu?"

Dany, pálida, olhou para ela. "Ele... ele acertou a Luiza."

Bruna levantou-se de repente, o corpo todo tremendo. "O quê?! Dany, você disse que era só um susto! Agora a Luiza pode estar... Oh meu Deus, o que a gente fez?"

Dany, ainda em choque, balançou a cabeça. "Eu... eu não sabia que ia sair assim. Era pra ser só a Valentina..."

Bruna, desesperada, começou a andar de um lado para o outro. "Isso foi longe demais, Dany! Agora a Luiza está no hospital... e se ela morrer?"

Dany, pela primeira vez, sentiu o pânico real subir em sua garganta. Tudo o que ela havia planejado estava desmoronando diante de seus olhos. "Precisamos ficar quietas. Ninguém pode saber que estamos envolvidas nisso. Não podemos ser ligadas a esse acidente."

Bruna, no entanto, estava à beira de um colapso. "Dany, isso não é mais sobre separar elas. Isso é... isso é uma vida! Eu não posso ser cúmplice disso."

Antes que Bruna pudesse dizer mais, ela saiu correndo do bar, deixando Dany para trás, tentando processar o caos que havia causado.

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**De volta ao hospital...**

Valentina, os pais de Luiza, Igor e Duda estavam na sala de espera, aguardando qualquer atualização. O tempo parecia congelado. Valentina não conseguia tirar a imagem do corpo de Luiza no chão de sua mente, e a culpa a corroía cada vez mais.

Finalmente, o médico reapareceu na porta, e todos se levantaram de uma vez, os corações disparados.

"O estado de Luiza se estabilizou por enquanto," o médico disse, com uma voz calma, mas séria. "Ela está em coma induzido para evitar qualquer complicação no inchaço cerebral. A boa notícia é que ela não perdeu mais sangue e os sinais vitais estão estáveis. Agora, só nos resta aguardar as próximas 24 horas."

Valentina deixou escapar um suspiro entrecortado, misturado com alívio e medo. "Ela vai ficar bem?"

O médico hesitou por um momento. "Ainda é cedo para dizer com certeza. Mas o fato de ela estar estável é um bom sinal."

Valentina quase desabou novamente, mas se segurou. "Posso... posso vê-la?"

O médico assentiu. "Por alguns minutos, sim. Mas ela ainda está inconsciente."

Valentina, com o coração partido, foi conduzida até o quarto onde Luiza estava. Ao entrar, o som das máquinas monitorando os sinais vitais era a única coisa que se ouvia. Ela se aproximou da cama, vendo Luiza deitada, com o rosto pálido, mas incrivelmente bela, mesmo naquela situação.

"Amor..." Valentina sussurrou, pegando a mão de Luiza gentilmente. "Eu estou aqui... e vou ficar com você até o fim. Por favor, luta por mim, luta por nós. Eu te amo tanto..."

As lágrimas caíram silenciosamente enquanto Valentina se sentava ao lado dela, sentindo-se impotente, mas decidida a não sair do lado de Luiza.

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