The Vagabonds: Clima Carmesim

7. É Sobre uma Garota (2)

De boa, Nio estava sentado num banquinho à beira da calçada, deslizando a tela infinitamente para cima no vagax, um aplicativo de notícias, piadas, entre outros.

"Eu tô perdendo meu tempo."

Levantou-se e guardou o celular de volta no bolso. E, por mais que estivesse, de fato, perdendo tempo, não havia muitas outras opções interessantes para se fazer por ali. Nio deu uma olhada para os lados, procurando algo que sequer sabia o que era. Por incrível que pareça, encontrou: Um negócio gosmento e molhado e muito alto, que trespassou pelas grades metálicas do hospital, adentrando o pátio e deixando molhada a grama por onde pisava, pingando o líquido branco de seus braços e corpo. Era disforme e sem face. Os que estavam em volta não deram atenção para sua presença, o que não era atoa, considerando que alguns ali sequer podiam acreditar no que viam. E ele caminhava, e mesmo que fosse grande não parecia pesado, e o peso que tinha variava de um segundo para o outro. O monstro parou em frente a uma mulher sentada em um banquinho qualquer, que, uma por vez, tirava as pétalas da flor em suas mãos.

"Me ama... não me ama... me ama..."

"Hm. Moça. Hm", disse a criatura esquisita.

"Olá, senhor... uh..."

Nio pulou acrobaticamente por cima das grades do jardim e correu para ter com os dois, e foi enquanto corria que ouviu o som característico da 'notificação de proximidade' em seu celular, que ele puxou do bolso: Anomalia de ranque desconhecido de nome 'Mega Leite'. Fala sério, quem bola esses nomes?

Mega Leite levantou o espesso braço com a intenção de esmagar a pobre mulher, e Nio disparou uma almofadinha rápida que a acertou e arremessou-a enquanto o punho pesado do monstro atingiu o banco que foi destruído em pedaços. Ele virou-se para Nio.

"Hm. Homenzinho."

"Ainda bem que o Cris e a Cd não tão aqui. O tanto de piada com porra que eu ia ter que ouvir não tá escrito."

"Homenzinho irritante."

Mega Leite girou o braço e um pedaço de si disparou-se em Nio que desviou raspando. Quando o monte de leite acertou uma árvore próxima, abriu um buraco no tronco e logo se desfez, o líquido desforme vazando ao chão. Nio encarou o dano um tanto surpreso, e outra bola de leite veio rápida que Nio pôde desviar pulando para trás e com um passo lateral desviou de mais uma. Nio o encarou, pensando em um plano — a criatura não parecia nem um pouco menor do que era antes, por mais que houvesse disparado grande parte do seu corpo.

"Que porcaria..." Passou a correr em volta do Mega Leite, que ainda disparava pedaços do seu corpo que por pouco não o acertavam.

Nio levantou os dedos: Disparou várias balas contra Mega Leite, mas, como esperado — nenhum dano —, os tiros eram consumidos pelo corpo da criatura gozada e sumiam no instante seguinte. Nio pulou para trás de uma árvore, e Mega Leite começou a disparar bolas de leite nela, girando os braços desequilibradamente, rasgando pedaços do tronco com o impacto, pouco a pouco o destruindo.

"Ah, que maravilha", pensou Nio, sentado no gramado fazendo uma pistolinha com os dedos enquanto as fagulhas de madeira voavam aos seus lados. "Hora de uma mudança de estratégia." Não estava carregando nada em seu Além além de alguns lanchinhos, munição — principalmente de baixo calibre, já que eram mais fáceis de se obter e requeriam uma fenda menor para serem disparadas — e a almofadinha que usava para descansar a cabeça em viagens de trem. "Nota mental: Recuperar minha almofadinha depois da luta."

Com canto de olho, viu o leite deslizando entre a folhagem da grama, como um rio, fluindo para um só lado: Para o Mega Leite. "Ah, é claro. É óbvio que ele não produziria leite infinito, isso seria insano." O da árvore no qual se escondia atrás já estava quase partido ao meio. Precisava agir rápido se não quisesse tomar uma leitada. "Acho que tenho uma ideia."