Era um daqueles dias em que o sol parecia brilhar só para lembrar Valentina de que, mesmo do lado de fora, a tempestade dentro dela estava longe de se dissipar. Desde que Luiza saíra do hospital, cada encontro com ela na faculdade era uma tortura disfarçada de normalidade. Ver Luiza nos braços de Dany, acreditando cegamente no amor que tinha por ela, doía de um jeito que Valentina nunca pensou que pudesse sentir.
Ela andava pelos corredores, procurando um pouco de paz, algo que parecia impossível com o passar dos dias. Toda vez que seus olhos encontravam os de Luiza, sentia a velha chama do amor, misturada com a angústia de ser uma estranha no coração de quem ela mais amava. Cada momento perto de Luiza era uma luta constante para não gritar, para não confessar tudo e correr o risco de afastá-la ainda mais.
Duda e Igor, como sempre, percebiam a tensão no ar. Sabiam que o intervalo era a única chance que Valentina e Luiza tinham de conversar, sem a presença sufocante de Dany. Duda, com sua cumplicidade usual, deu uma piscadela para Valentina e arrastou Igor consigo.
— Vamos dar uma volta, amor? — Duda sugeriu, puxando Igor para um canto mais reservado.
Igor sorriu, pegando o recado. — Claro, acho que merecemos um tempo a sós.
Assim que os dois saíram, Valentina aproveitou o momento. Aproximou-se de Luiza com uma calma aparente, mas por dentro seu coração batia tão forte que parecia que todos podiam ouvir.
— E aí, Lu? — Valentina começou, um sorriso leve no rosto, embora seus olhos carregassem todo o peso do que ela não podia dizer. — Como você tá se sentindo?
Luiza deu um suspiro profundo antes de responder, os braços cruzados, como se isso fosse uma barreira para as confusões que sentia por dentro.
— Como se tivesse sido atropelada por um caminhão — respondeu com um sorriso meio amargo. — Ainda sinto dores aqui e ali, e minha cabeça... bom, algumas coisas ainda estão meio nebulosas.
Valentina assentiu, compreendendo. Ela lutava contra o impulso de simplesmente perguntar: "E sobre nós? Lembra de algo?". Mas sabia que não podia forçar Luiza, por mais desesperador que fosse o silêncio entre elas.
— Nebulosas como? — Valentina perguntou, tentando soar despreocupada.
Luiza hesitou por um instante, desviando o olhar, como se tentasse juntar as peças soltas em sua mente. Ela mordeu o lábio inferior, pensativa.
— É sobre você — disse de repente, pegando Valentina de surpresa. — Desde que você foi me visitar no hospital, eu não consigo parar de pensar em uma coisa...
— O que foi? — Valentina tentou manter a calma, mesmo que seu peito estivesse prestes a explodir com a expectativa.
— Quando você entrou no quarto... — Luiza começou, seus olhos se estreitando enquanto buscava nas memórias esparsas alguma lógica. — Você me chamou de "amor". E... eu não entendi por quê.
Valentina engoliu em seco. Aquele era o momento que ela mais temia, e ao mesmo tempo, o que mais esperava. As palavras estavam presas em sua garganta, como se o simples ato de falar fosse abrir uma ferida profunda que jamais cicatrizaria.
Mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, Bruna apareceu do nada, como uma tempestade inesperada.
— Oi, Valentina! — Bruna exclamou, sem perceber o clima tenso. Seus olhos brilhavam com um interesse óbvio. — Estava te procurando. A gente vai se ver mais tarde, né?
Valentina sentiu o corpo enrijecer, mas manteve a postura. Não queria ser rude, mas também não queria alimentar as esperanças de Bruna.
— Bruna... agora não. Estou conversando com a Luiza sobre um trabalho — Valentina disse, tentando ser gentil, mas firme.
Bruna sorriu, desconsiderando a seriedade da situação. Ela se aproximou ainda mais e, sem aviso, plantou um beijo demorado na bochecha de Valentina. — Te encontro mais tarde então?
Valentina afastou-se, sem querer ser grosseira. — Talvez.
Quando Bruna finalmente se afastou, Luiza permaneceu em silêncio por um momento, mas algo nela parecia... agitado. Ela observou Bruna ir embora com uma expressão indecifrável, mas por dentro, um incômodo crescia.
— Não gosto dela — Luiza disse de repente, quebrando o silêncio.
Valentina olhou para ela, surpresa. — Bruna?
Luiza assentiu, sem nem perceber que sua confissão soava um tanto possessiva. — Não sei... só não gosto.
Valentina soltou uma risada curta. — Ah, ela foi só uma ficante. Não tem nada entre a gente, Lu. Eu deixei bem claro pra ela. Não quero nada com ela.
Luiza franziu o cenho. O desconforto dentro dela aumentava, e ela nem sabia o porquê. — É... mas pelo que me lembro, você não é de ficar com uma pessoa só, né? Você tem fama de pegadora. Talvez... sei lá... você precise assentar. Encontrar alguém para amar de verdade.
Valentina viu ali uma brecha. Seu coração disparou, e antes de falar, ela se inclinou levemente para Luiza, deixando que suas palavras saíssem quase num sussurro.
— Mas eu já assentei, Luiza. Já encontrei alguém com quem quero ficar pra sempre.
As palavras de Valentina pairaram no ar, carregadas de emoção. Seus olhos, que até então estavam hesitantes, fixaram-se nos de Luiza, e por um momento, tudo ao redor delas desapareceu. Era só as duas, perdidas no olhar uma da outra. Valentina, sem perceber, deixou que seu olhar descesse para os lábios de Luiza, e o ar entre elas ficou denso.
Luiza sentiu um calor subir pelo seu corpo. Seus pensamentos ficaram confusos, e por um instante, ela se viu hipnotizada pela proximidade de Valentina. O que era aquilo que estava sentindo? Algo que começava no ventre e subia até o peito, um misto de desejo e culpa.
— Estou interrompendo alguma coisa? — A voz de Dany cortou o momento como uma faca, trazendo Luiza de volta à realidade.
Luiza deu um passo para trás, como se estivesse sendo pega no flagra, e correu para o lado de Dany. — Não, claro que não! — respondeu, nervosa, e imediatamente tomou o rosto de Dany entre as mãos, puxando-a para um beijo ardente, como se quisesse provar algo a si mesma.
Dany, surpresa, mas satisfeita, correspondeu com intensidade. O beijo foi longo, quase um desafio para Valentina, que assistiu à cena em silêncio, com o coração se partindo a cada segundo. Quando o beijo terminou, Dany deu um sorriso provocador e acariciou o rosto de Luiza.
— Vamos embora? — Dany sugeriu, sua voz carregada de segundas intenções. — Tenho uma surpresa para você.
Luiza hesitou. — Mas eu tenho aula agora, e é importante...
— Só hoje, amor. Você vai gostar, eu prometo — Dany insistiu, sorrindo sedutoramente.
Valentina, incapaz de suportar mais aquela cena, virou-se e saiu rapidamente, antes que alguém visse a dor estampada em seu rosto. Seus passos ecoaram pelos corredores enquanto Luiza, sem saber por que, a seguiu com o olhar, uma estranha mistura de tristeza e desejo borbulhando dentro dela.
Enquanto seguia Dany pelo corredor, Luiza não conseguia tirar Valentina da cabeça. Por que a proximidade dela a deixava tão desconcertada? E por que aquele beijo de Dany, algo que sempre a deixava tão segura, parecia... vazio?
As perguntas ecoavam em sua mente, deixando-a cada vez mais confusa.
**Por que Valentina mexia tanto com ela?**
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dança das Emoções
Fanfiction- **Sinopse:** **Luiza Campos**, de 24 anos, é uma estudante de design gráfico com uma paixão ardente pela bachata. Seu corpo atlético e a alma vibrante são reflexos de anos de dança e de uma vida vivida com intensidade. Embora esteja em um relacion...