36 | cinzento

134 34 41
                                    

A alegria passageira é um raio laranja em um céu cinzento.

🎨

A música alta preenchia o estúdio; as batidas ritmadas ecoavam por toda a sala e faziam os corações baterem forte, como se fossem sair do peito.

Jungkook e Wonwoo sincronizavam seus movimentos com precisão. O suor escorria pelas testas de ambos, os músculos doíam, e parecia que a qualquer momento um deles iria desabar no chão de tão cansados que estavam, mas nenhum parecia disposto a parar tão cedo. A dança era mais que uma forma de expressão; era um alívio, um escape da realidade que os cercava e deixava seus sentimentos ainda mais conflitantes.

Ambos tinham motivos para estarem tão perturbados, pois eram humanos e, como todo humano, tinham dores e coisas que preferiam esquecer.

Jungkook estava satisfeito, mas mentalmente cansado. Tinha chegado onde queria: estava em uma academia prestigiada, participava de torneios e ganhando em quase todos eles. Com isso, a popularidade veio, junto com o reconhecimento que tanto almejava. Mas estava cansado. Havia dias em que ele apenas queria ir para casa e assistir algo com o irmão, ou apenas ficar na rede tomando um banho de sol, mas aquilo era impossível por milhares de fatores. Havia dias em que a saudade de Taehyung era tão grande que, mesmo sabendo que não seria atendido, ligava para ele.

Às vezes, só queria se esconder embaixo do cobertor.

Sem contar a saudade quase insuportável de Jimin, mas o medo, junto com a vergonha de ligar para ele e poder ouvir sua voz, mesmo que fosse por dois segundos, o impedia. Tentava engolir aquela saudade com as fotos que via dele, tanto na internet quanto no próprio celular. Fotos que mostravam que um dia foram um casal que, apesar de tudo, foi muito feliz. Às vezes, se perguntava o que teria acontecido se nunca tivesse aceitado aquela proposta, como estaria vivendo e se estaria feliz ao lado do homem que amava. Mas, sempre que pensava nisso, chegava a apenas uma conclusão: não estaria feliz por ter deixado seu sonho para trás, mesmo que fosse por amor.

Foi uma escolha que ele precisou fazer, e, mesmo com a saudade sufocando-o dia e noite, Jungkook não tinha arrependimentos.

Já Wonwoo estava em uma sinuca de bico. Desde que terminou seu relacionamento à distância, não namorou mais; apenas se encontrava com homens aleatórios ou conhecidos para passar o tempo, sem envolver sentimentos além do prazer. Mas, no meio disso tudo, havia Mingyu, um cara chato demais, mas que tomava sua atenção sempre que se aproximava. Ele era um rapper e, desde que entrou na academia, não largava o pé de Wonwoo, sempre fazendo rap e mandando mensagens no meio da noite para dizer que tal música era para ele.

Wonwoo sabia o que Mingyu queria, e até queria dar o que ele desejava, mas sabia que aquilo não iria parar ali, pois estava em seus olhos que ele queria muito mais do que Wonwoo poderia oferecer.

Ambos estavam conflituosos, por motivos diferentes, mas semelhantes demais para tentarem se matar de tanto dançar.

A porta do estúdio se abriu, mas Jungkook mal notou, concentrado demais em seus passos e na batida da música, que o fazia sentir como se tivesse asas. Wonwoo, porém, parou por um momento, observando com um leve levantar de sobrancelhas enquanto Mingyu e Eunwoo entravam no local. Ambos pareciam bad boys de faculdade estrangeira que só se viam em filmes. Eles eram os tópicos garotos que a gente passava três meses sentando e cinco anos na terapia.

— Oi, meu chuchu — disse Mingyu, encarando Wonwoo com um olhar brincalhão, mas faminto.

— Se enxerga, menino — resmungou Wonwoo.

— Ei, Jungkook, você nem vai dizer oi? — Mingyu perguntou com um sorriso brincando em seus lábios.

Ele se apoiou na parede com os braços cruzados e o olhar passeando pelo corpo de Wonwoo, como se estivesse faminto demais e pudesse devorá-lo ali mesmo. Eunwoo se aproximava com um sorriso igualmente descontraído, encarando Jungkook, que estava perdido em seus pensamentos, como se nem tivesse percebido os novos intrusos. Ele nem sequer piscou, continuou a dançar como se eles nem estivessem ali, e, para ele, realmente não estavam. Era sua forma de dizer que não estava interessado em socializar, ainda mais com eles, que tinham conversas estranhas e deixavam sua mente cansada demais.

cores são sentimentos, tysOnde histórias criam vida. Descubra agora