Dança das Emoções

A festa

Na casa dos Albuquerque estava iluminada e cheia de vida. Músicas animadas ecoavam pelas paredes, o cheiro de bebidas e petiscos se espalhava pelo ar, e risadas preenchiam os espaços. A festa, que a princípio parecia mais uma daquelas típicas comemorações universitárias, tinha um ar especial naquela noite. Não apenas porque era na casa dos Albuquerque, um dos locais mais frequentados pela turma, mas porque havia uma convidada inesperada para aquela ocasião: Luiza.

Duda, com seu jeito sempre prestativa, tinha arrumado um jeito de trazer Luiza sem que Dany desconfiasse. A desculpa do trabalho de grupo fora suficiente para que Luiza pudesse comparecer sem pensar duas vezes. O que ela não sabia era que aquela noite não seria apenas sobre tarefas acadêmicas. E, talvez, no fundo, ela estivesse procurando por isso sem admitir a si mesma.

Quando Luiza chegou, foi surpreendida. Esperava um ambiente tranquilo para discutir o projeto, mas foi recebida pelo som alto e pela agitação de uma festa em plena explosão. A princípio, seus olhos se arregalaram ao ver as luzes piscantes, as pessoas dançando e o clima descontraído.

Duda, que a observava de longe, sorriu ao ver a surpresa estampada no rosto da amiga. Rapidamente, se aproximou de Luiza com aquele sorriso cúmplice e amigável.

— Amiga, não me olha assim... — disse Duda, rindo e levantando as mãos, como se quisesse se defender. — Eu só quis ajudar. Você anda tão sobrecarregada, pensei que seria bom relaxar um pouco.

— Duda... eu vim achando que íamos terminar o trabalho. — Luiza murmurou, olhando ao redor, mas havia uma mistura de curiosidade e alívio em sua voz.

— Nós terminamos mais tarde. Hoje, você vai curtir, prometo. — Duda piscou para Luiza e pegou sua mão, guiando-a para dentro da festa.

Luiza hesitou, mas logo se entregou ao clima. No fundo, sabia que precisava de um respiro, e Duda estava certa em trazê-la. Além disso, havia algo mais que a motivava. O conselho de Duda ecoava em sua cabeça: passar mais tempo com Valentina, entender essa estranha conexão que ela sentia. Talvez, ali, naquela festa, fosse a oportunidade perfeita.

Luiza deixou-se levar pela música e pela energia da noite. Pegou um copo de bebida que alguém lhe ofereceu e deu um pequeno gole, enquanto observava as pessoas ao redor. Seu coração acelerou quando, ao virar-se, viu Valentina entrar na sala. Parecia que o tempo havia parado por um momento.

Valentina estava deslumbrante. Seu cabelo solto caía em ondas suaves pelos ombros, e seus olhos brilhavam sob a luz fraca da sala. Assim que seus olhares se encontraram, Valentina sorriu de um jeito que fez Luiza sentir um calor inexplicável subir por seu corpo. Sem perceber, suas mãos começaram a suar.

Valentina aproximou-se devagar, com a confiança de quem já sabia o efeito que tinha. Quando chegou perto o suficiente, cumprimentou Luiza com dois beijinhos demorados nas bochechas, mas o contato parecia mais longo do que o normal. O toque de Valentina era suave, mas deixava uma sensação de calor intenso por onde passava.

— Que bom que você veio, Luiza... — Valentina sussurrou, a voz baixa e envolvente, próxima ao ouvido de Luiza, enquanto lhe dava o segundo beijo.

Luiza piscou algumas vezes, tentando recuperar o fôlego e o controle sobre si mesma. A proximidade de Valentina a deixava completamente desnorteada, mas de uma forma que ela não conseguia entender. Sua pele estava quente, seu coração acelerado, e algo nela queria que esse momento durasse mais.

— Não sabia que era uma festa... — Luiza respondeu, com um sorriso um pouco nervoso, ainda sentindo o calor do toque de Valentina.

— Bom, agora que está aqui, só resta aproveitar. — Valentina sorriu, os olhos brilhando com um misto de diversão e algo mais profundo.

Luiza tentou disfarçar o nervosismo com uma risada suave, mas, no fundo, sentia algo diferente. Havia uma energia estranha entre elas, uma atração que ela não sabia explicar. Tudo em Valentina parecia chamá-la, do jeito que sorria ao modo como a olhava, como se pudesse enxergar algo além.

— Eu vou tentar... — Luiza respondeu, meio sem jeito, mordendo o lábio inferior. Valentina a fazia sentir-se exposta de um jeito que ela não entendia.

Valentina se aproximou mais um pouco, inclinando-se levemente para que suas bocas ficassem quase na mesma altura, os olhares presos um no outro.

— Preciso dizer, você é a convidada mais deslumbrante dessa festa. — A voz de Valentina era um sussurro rouco, carregada de intenções ocultas.

Luiza sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Valentina falava com uma intensidade que parecia mexer com cada parte de seu ser. Ela deveria rir, responder de volta com algo casual, mas, por algum motivo, a única coisa que fez foi corar. Sentia-se hipnotizada por aqueles olhos, pelo jeito como Valentina a fazia sentir-se tão... viva.

— Deslumbrante? — Luiza repetiu, a voz baixa, tentando entrar no jogo sem revelar o quanto estava abalada.

Valentina sorriu com malícia, dando um passo ainda mais próximo. Seus dedos tocaram suavemente o braço de Luiza, um gesto quase casual, mas que fez o coração de Luiza disparar.

— Não estou mentindo. — Valentina respondeu, os olhos fixos nos de Luiza. — E eu não sou de mentir, você sabe disso.

Luiza riu, tentando quebrar a tensão crescente entre elas, mas seu riso foi breve. Sentia-se presa naquela troca de olhares, naquela dança silenciosa que acontecia entre elas. Havia algo de magnético em Valentina, algo que a puxava mais e mais.

— Você... — Luiza começou, ainda tentando encontrar sua voz no meio do furacão de sensações. — Você sabe que eu estou com a Dany, né? — Tentou, sem muita convicção.

Valentina inclinou a cabeça ligeiramente, como se ponderasse a pergunta. Seu sorriso suave nunca vacilou.

— Eu sei. — Ela respondeu, a voz calma. — Mas estou só sendo sincera, Luiza. É isso o que a gente sempre foi, certo? Sinceras uma com a outra?

Luiza sentiu o coração pular uma batida. Não sabia o que responder. Havia verdade nas palavras de Valentina, e, ao mesmo tempo, algo que a fazia querer seguir em frente com aquela troca, como se o mundo ao redor não importasse.

Ela deveria parar aquilo, deveria sair de perto, mas, em vez disso, deu mais um passo na direção de Valentina, seus rostos agora tão próximos que podia sentir a respiração dela.

— Acho que sim... — sussurrou Luiza, o olhar preso na boca de Valentina, sem saber ao certo o que estava fazendo.

Antes que qualquer coisa pudesse acontecer, Duda apareceu por perto, quebrando o clima tenso. Ela lançou um olhar rápido para as duas e sorriu de forma quase travessa, percebendo a tensão no ar.

— E aí, Lu? Val, vocês estão se divertindo? — Perguntou Duda, a voz carregada de intenções escondidas, como quem soubesse exatamente o que estava acontecendo.

Luiza, ainda abalada pela troca intensa de olhares, apenas assentiu, sem conseguir dizer nada. Valentina, por sua vez, deu um passo para trás, ainda com aquele sorriso nos lábios.

— Estamos sim... — respondeu Valentina, olhando de relance para Luiza antes de se afastar.

O calor ainda subia pelo corpo de Luiza, e ela se perguntava por que Valentina tinha tanto poder sobre ela. Algo dentro de si estava mudando, e Luiza não sabia se estava pronta para entender o que isso significava.

A festa continuava, mas para Luiza, a noite já parecia um jogo perigoso de emoções que ela não sabia como controlar.